De todos os desenhista que
passaram pelo personagem Juiz Dreed, protagonista da revista 2000 AD, um dos
mais emblemáticos, senão o mais emblemático, foi Brian Bolland.
O personagem surgiu em
1977, com visual criado por Carlos Ezquerra, mas este abandonou a série depois
que a história que ele havia desenhado para a primeira edição foi preterida em
favor de uma com arte do novato Mike McMahon.
Assim, os editores foram
tentando novos artistas, até que Bolland foi colocado para terminar que Bill
Ward deixara pela metade. O que produziu era muito superior ao trabalho de Ward
e ele logo ganhou o cetro de principal desenhista do personagem.
Seu estilo, ao mesmo tempo
realista e expressivo, com uma leve tendência para o humor era perfeito para o
personagem. Afinal, Dredd é, essencialmente, uma HQ cômica sobre os abusos de
um sistema em que um policial é, ao mesmo tempo, tira, promotor, juiz e
executor.
Poucos conseguiram
sintetizar tão bem o humor ácido do personagem quanto Bolland.
Exemplo disso é a história
Crimes multi-faces, em que um trio de assaltantes muda sua aparência para
cometer crimes: Já na primeira imagem, de página dupla, os vemos como Chaplin e
o Gordo e o Magro. Ali, naquela imagem, fica nítido que aquela é uma série que
não deveria ser levada a sério. Além disso, a trama permite a Bolland mostrar
seu talento para expressões faciais. A solução da história, diga-se de passagem,
é perfeita, no melhor estilo Dredd.
Aliás, as histórias
pareciam totalmente desprovidas de limites (crédito para os roteiristas John
Wagner e John Howard), como uma olimpíada na lua que se transforma numa batalha
campal entre os juízes com direito a transmissão ao estilo reality show ou uma história
sobre uma guerra entre condomínios. É diversão pura.
Essas histórias,
auto-contidas, exploravam muito bem a essência e o humor do personagem (a
impressão que tenho, pelo que li do material mais recente é que a série passou
a se levar mais a sério, com uma ênfase maior em sagas e aventuras, com Juiz
Dredd sendo mostrado quase como um herói).
Essas histórias foram
reunidas em uma volume único da editora Mythos com belíssima capa de Bolland. O
volume inclui ainda um ótimo texto de Pedro Bouça e as histórias curtas de
Walter, o robô de Dredd. O único defeito é a gramatura da capa, muito mole para
o volume.
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