Nas décadas de 1980 e 1990
a revista A espada selvagem de Conan era uma das melhores publicações em banca.
Com um protagonista que se aproximava muito mais de um anti-herói, a revista
foi um sopro de qualidade e conquistou leitores mais adultos, dos mais
literatos aos que se preocupavam apenas com ação. E, entre tudo que foi
publicado na revista, um dos maiores destaque foi um conto em duas partes,
protagonizado por Bran Mak Morn, um personagem pouco conhecido de Robert E.
Howard. Trata-se da saga Vermes da terra, publicada nos números 27 e 28 da revista.
A história já mereceria
atenção só pela arte fenomenal de Tim Conrad (em parceria com Barry
Windsor-Smith na primeira parte). Sujo e sombrio, o traço de Conrad deu à
história um aspecto tenebroso que ia muito além do gênero espada e magia e se
aproximava muito mais do terror. Algo, aliás, que já estava presente no conto
original de Howard.
Howard escreveu um conto em
homenagem ao amigo H. P. Lovecraft (com o qual ele se correspondia) e recheou o
texto de referência à mitologia lovecraftiana: Dagon e R’lyeh, por exemplo, são
citados literalmente.
Na história, o rei dos
pictos, disfarçado, vê o governador romano da Bretanha matar na cruz um picto
cujo crime foi reagir à agressão de um vendendor romano que tentou roubá-lo. Bran
Mak Morn envia seu amigo e auxiliar Grom para instigar as tribos contra Roma,
mas parte em outra direção. Seu plano é vingar-se pessoalmente contra o
governador Titus Sulla. Para isso ele vasculha os pântanos da Bretanha em busca
de uma porta que o levará aos vermes da terra, seres monstruosos que viviam ali
e foram expulsos para as profundesas pelos primeiros pictos. Ele pretende
roubar uma pedra negra idolatrada por eles e, assim forçar os vermes a lhe
entregarem Titus. Mas Gonar, o sacerdote de seu povo, lhe advertiu: há armas
fúteis demais, mesmo contra os romanos!”, uma advertência totalmente ignorada.
Começa aí uma jornada ao
inferno.
O texto de Roy Thomas chega
a um nível altíssimo de tensão ao descrever os locais por onde passa e o
desenho de Conrad as destaca ainda mais.
Em alguns pontos o
resultado chega a ser superior ao conto original, a exemplo de quando Bran
encontra a bruxa de Dagon-moor, que lhe indicará onde encontrar a esfera negra.
Em troca ela pede os beijos do rei. Aqui ela é vista como absolutamente
asqueirosa, sua pele repleta de manchas e pústulas, o que demostra o preço que
Bran está disposto a pagar por sua vingança.
Thomas, um mestre do
roteiro para quadrinhos, pula o diálogo posterior entre os dois, em que a bruxa
conta como chegar à pedra, e o usa como legenda para as cenas em que o rei se
embrenha nas profundesas da terra.
O texto de ambientação dão
o clima de terror: “Fixando os olhos no interior do buraco, tudo que ele vê,
porém, é a instransponível escuridão de um poço negro. Assim, numa mescla de repulsa e temor que lhe
retesam todos os músculos, Bran adentra o buraco sentindo-se engolido pela
negritude quase tangível”.
Em tempo: existe uma versão
nacional do conto Vermes da Terra, publicado na Amazon e traduzido por Alex
Magnos. Vale a pena conferir. Ah, e para quem quiser ler a HQ original, neste link dá para baixar vários números da Espada Selvagem de Conan, incluindo o 27 e o 28, as edições que publicaram a saga Vermes da Terra.
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