O filósofo
Marshall McLuhan propunha que a forma como nos comunicamos molda a sociedade em
que vivemos e a forma como pensamos. A invenção da escrita, por exemplo,
permitiu a criação dos grandes impérios, do pensamento linear e da burocracia.
Na Idade Média, a invenção do pergaminho abriu caminho para que a escrita fosse
vista como algo divino, elitizado, moldando a sociedade do período.
Outra grande
mudança ocorre com a invenção da imprensa. McLuhan considera tão importante
essa invenção que chama o mundo criado pela imprensa como Galáxia de Gutemberg.
Com ela veio a era das revoluções, o nacionalismo e até o sentimento de
individualidade e privacidade.
Uma das
revoluções causadas pela impressa foi a publicação de livros, em especial a
Bíblia em línguas locais. Essas edições deram às pessoas a noção de pátria,
unida por uma linguagem. Além disso, com o barateamento do processo de
produção, agora era possível ler livros individualmente, ao contrário da Idade
Média, em que a leitura era quase sempre coletiva, com uma pessoa lendo para um
grupo. Isso deu às pessoas a noção de individualidade e privacidade.
Curiosamente, mais ou menos no mesmo período a arquitetura traz uma grande
inovação: os corredores, que vão permitir que as pessoas tenham a privacidade
de seus quartos. Com o tempo, muitos desses corredores passam a ser ornados por
obras de arte, quadros assinados por grandes artistas, mantidos por mecenas,
daí surgindo a ideia de direito autoral (na Idade Média os artistas não
assinavam seus trabalhos pois se considerava que sua arte era para a glória de
deus e não do pintor). Nas palavras de McLuhan: “A imprensa criou o livro
portátil, que os homens podiam ser em particular e isolados dos outros. O homem
podia, agora, inspirar – e conspirar. Como a pintura de cavalete, o livro
impresso muito contribuiu para o novo culto do individualismo”.
A invenção da
imprensa vai popularizar o pensamento linear, já que os livros vinham numa
sequência lógica que devia ser lida página a página.
A imprensa
permitiu também a era das revoluções. O protestantismo surgiu a partir da
leitura da Bíblia em línguas nacionais (antes era proibido traduzir a Bíblia e
praticamente só os padres as liam e interpretavam para os fieis). Também como
consequência do barateamento dos livros, as ideias de filósofos
revolucionários, como Descartes e, posteriormente, os iluministas, como
Voltaire e Rousseau, se espalharam pelo mundo. As ideias revolucionárias se
espalhavam não só na forma de livros, mas também através dos jornais. Não é
coincidência que os três grandes líderes da revolução francesa (Danton, Marat e
Robespiere) eram também jornalistas.
A criação da
rotatória e, posteriormente, do rádio e do cinema, iriam de novo provocar
grandes mudanças. Nunca antes uma mensagem poderia ser enviada a tantas pessoas
ao mesmo tempo. Isso possibilitou a cãoenção de ditadores como Hitler e
Mussolini, que utilizaram jornais, rádios e filmes para difundir suas ideias e
convencer as pessoas a obedecerem. Tratava-se da era das massas em que as
pessoas eram tratadas apenas como parte de um todo. Esse período foi
sintetizado na teoria hipodérmica, segundo a qual a mídia tem poder absoluto
sobre as pessoas.
Em meados do
século XX surge a televisão e com ela a era do audiovisual. Embora fosse um
meio de massa, McLuhan enxergava nela uma possibilidade de maior participação.
A baixa resolução da telinha levaria o expectador a interagir com o conteúdo,
não se tornando o apático receptor da era das massas. Essa visão otimista e um
pouco ingênua, há de se destacar o fato de que a transmissão da guerra do
Vietnã fez com que pela primeira vez a juventude americana se pronunciasse
contra uma guerra. Provavelmente a familiaridade com imagens de vietnamitas,
como a da menininha correndo nua, atingida por napalm, tenham possibilitado uma
maior aproximação com o fato. A TV tornou possível ver que o inimigo também era
um ser humano.
Embora estivesse
escrevendo muito antes da internet, McLuhan parecia antecipar a sociedade da
informação: “As informações despencam sobre nós, instantaneamente e
continuamente. Tão pronto se adquire um novo conhecimento, este é rapidamente
susbstituído por uma informação ainda mais recente. Nosso mundo eletricamente
configurado forçou-nos a abandonar o hábito de dados classificados para usar o
sistema de identificação de padrões. Não podemos mais construir em série, bloco
por bloco, passo a passo, porque a comunicação instantânea garante que todos os
fatores ambientais e de experiência coexistem num estado de ativa interação”.
Nesse mundo de informação contínua, a comunicação
se transforma num fluxo caótico em que a mídia oferece cada vez mais dados e a
o cérebro humano é obrigado a se adaptar a receber. Na medida em que a mente
humana se acostuma com esse fluxo, passa a pedir mais e mais e o processo se
amplia mais ainda num círculo vicioso.
As novas gerações lidam com informação como se fosse
um vício: é a novidade que vira a qualquer momento no Facebook ou no Twitter, é
o e-mail essencial que virá a qualquer momento e que exige constante
vigilância.
As mensagens não
são mais procuradas e recebidas de maneira linear, como na galáxia de
Gutemberg, em que as informações vinham na mesma sequência das páginas dos
livros. Nesse novo mundo, a informação passa a ser relacional. A leitura de um
texto leva a outro texto, que leva a outro texto, que leva a outro texto e que
muitas vezes leva ao primeiro texto.
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