sábado, fevereiro 01, 2020

Bônus sobre a nota: o jeitinho que acaba com a função do SISU



O SISU foi criado na época do governo do PT com uma proposta bem definida: a ideia era usar a nota do Enem para que estudantes pudessem escolher a universidade que iriam cursar. Assim, ao invés de precisar viajar para fazer vestibular em vários locais, o estudante poderia fazer a prova em sua cidade e depois escolher uma das diversas opções. Era uma opção caríssima, com uma grande estrutura, mas que se justificaficava pelo argumento acima, de dar opções e facilitar a vida dos estudantes.
Entretanto, a proposta original do SISU vem sendo deturpada por diversas leis locais, que garantem bônus de 20% para quem fez integralmente o ensino médio em determinado estado.
Exemplo disso foi a Unifap, que acrescentou 20% sobre a nota de quem fez o ensino médio totalmente no Amapá.
A medida, um jeitinho, foi criada para solucionar um problema ocasionada por outro jeitinho: em 2017 a Unifap deu bônus para alunos maranhenses. O resultado é que cursos mais procurados, como Medicina, foram integralmente ocupados por alunos maranhenses, deixando de fora todos os amapaenses.
Mas a Unifap não foi a única. Várias outras universidades estão dando esse bônus de 20%.
O resultado disso que o SISU se tornou um elefante branco: uma estrutura caríssima que acaba não cumprindo função nenhuma, já que a situação volta a ser como era na época do vestibular. Aliás, até pior. Em cursos mais concorridos, como Medicina, um ponto pode ser a diferença entre quem passa e quem não passa. Imagine 20%. O bônus torna praticamente impossível que pessoas de fora sejam aprovadas.
Mas essa situação cria um problema outro problema: gera uma multidão que nunca será aprovada no vestibular por mais que estudem ou se dediquem: a de estudantes que por necessidade, como mudança dos pais para outro estado, fizeram parte do ensino médio em um local e parte em outro.
Além disso, mais um problema: estudantes de estados que não têm determinado curso ficam impossibilitados de cursar a faculdade em outro estado. 
E, em breve, veremos um outro jeitinho, para contornar o jeitinho: pais que enviam seus filhos para estudar o ensino médio em estados onde a nota média é menor.
O Brasil de fato é o país em que se cria um jeitinho para resolver um problema provocado por um jeitinho.

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