domingo, fevereiro 23, 2020

Escrevendo sátiras para a MAD

Quando fui convidado pelo Raphael Fernandes para a escrever uma sátira do BBB 9, o que seria minha estreia na MAD, confesso que tremi na base. A MAD tem um tipo muito característíco de humor. Anarquico, claro, mas que também obedece algumas regrinhas simples, que ajudam a cosia a ficar mais engraçada. Na época, fui para minha coleção e reli dezenas de sátiras tentando compreender o estilo. De lá para cá, já escrevi vários textos para a publicação. Não posso dizer que já sou um roteirista especialista em MAD, mas acho que posso compartilhar algumas das coisas que aprendi escrevendo e, principalmente lendo a MAD:  

1) Geralmente as sátiras iniciam com um painel grande, de apresentação. Pode ser apenas um quadro grande, uma página inteira, ou uma página dupla, como foi a minha sátira do BBB. A função dessa página é mostrar quem são os personagens e contar rapidamente a história que está sendo satirizada, o que abre caminho para que mesmo quem não conheça a obra original possa dar algumas gargalhadas.  Nesse painel é muito aconselhado fazer piadas visuais de fundo, como os BBBs dentro de uma bolha com uma placa: não dê comida aos animais


2) Cada quadro deve conter uma piada. Como geralmente as sátiras ocupam poucas páginas, a maioria dos roteiristas não desperdiça quadro: todos precisam ter algo engraçado. 


3) Diálogo bate-volta. Uma técnica muito usada pelos roteiristas é colocar um diálogo em três ou quatro momentos. Normalmente há uma piada no meio, mas o mais engraçado fica para o final. Eu usei esse recurso na minha sátira do filme Crepúsculo (que foi renomeada Prepúcio): 

Q2 – Mella está apresentando Fedward ao seu pai. Chále Swando está com um rifle nas mãos, granadas pelo corpo. Em suma, ele está preparado para ir à guerra.
Mella: Pai, vou sair hoje com Fédward.
Chále: Ótimo. Mas afaste-se dele quando eu começar a atirar...
Mella: Pai, o senhor disse que ia ser simpático!
Chále: E estou sendo... uso o rifle ou a bazuca? 

4) Duplo sentido. Esses diálogos bate-volta geralmente brincam muito com o duplo sentido. O verdadeiro sentido a primeira fala do personagem só é revelada na tréplica dele. Mais uma vez, uma sequência da sátira do Crepúsculo: 

Fédward e Mella estão na cena do quarto, do quase sexo. Penso que ele está se aproximando dela e ela está lá, esperando um beijo. Ele usa uma camisa com os dizeres EU RESISTO e ela com a camisa EU DESISTO.
Fédward: Tenho muita vontade de fazer uma coisa com você... mas preciso resistir!
Mella: Você está pensando em... sexo?
Fédward: Quem falou em sexo? Eu estava pensando em fazer compras no shoping! 


5) Non-sense. A graça do diálogo muitas vezes está em não fazer sentido, como na sátira de O Iluminado, escrita por Larry Siegel e desenhada por Angelo Torres (publicado no Brasil na MAD especial 3, Panini). Jeca Porrance está dirigindo na direção ao hotel quando o filho começa a falar com o dedo: 

Jeca: Doenty, tô um pouco preocupado com esse garoto! Ele sempre teve essas conversas idiotas com o dedo indicador? 
Doenty: Nem sempre! Só desde ontem, quando ele brigou com o mindinho! 
Jeca: Ufa! Jà tava ficando preocupado!  

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