sábado, fevereiro 29, 2020

Floresta Negra, da dupla Gian-Bené


Floresta Negra foi a primeira história da dupla Gian-Bené. Foi também um divisor de águas para a arte de Bené, que até então era caracterizada pelo exagero, principalmente na musculatura dos personagens. Bené fez a história como uma homenagem a Hall Foster, criador do Príncipe Valente e, para simular o estilo do mestre, usou pincel para fazer a arte-final. Por outro lado, a diagramação, a perspectiva e a anatomia remetiam ao mestre José Luís Garcia-Lopez. Imagine Hall Foster mistura com Garcia-Lopez. Essa era a arte de Floresta Negra. Essa história marca a entrada de Bené numa fase totalmente madura de seu trabalho e virou instantaneamente um clássico.
Lembro que quando ele me mostrou os originais, fiquei maravilhado. Já gostava do traço do Bené, mas ali tinha um verdadeiro salto estético, algo que mostrava que ele seria o grande desenhista de terror dos anos 1990.
Confesso que quando ele me pediu para escrever o texto, senti um frio na barriga, mas aceitei. Bené tinha uma boa ideia de como seria o texto, inclusive no fato do demônio falar em rimas – uma referência direta ao personagem Etrigan, da DC, uma das grandes criações do mestre Jack Kirby.
A história acabou sendo publicada na revista Calafrio número 45 e fez grande sucesso com os leitores, fazendo o editor Rodolfo Zalla pedir mais histórias da dupla.

Uma curiosidade é que a revista Calafrio tinha uma estrutura que tinha que ser seguida por todas as histórias - e a floresta negra não se encaixava em nenhum dos modelos de roteiro deles. Aí o editor mudou o final para encaixar. No último quadro, quando o cavaleiro coloca o crucifixo para abençoar a floresta e afastar novos demônios, o texto mudou para: "Você coloca o crucifixo na árvore, pois sabe que agora é o novo DEMÔNIO DA FLORESTA NEGRA!!!", um texto totalmente em desacordo com o que o desenho mostrava.

Sem comentários: