domingo, fevereiro 16, 2020

Parasita – um filme metafórico


“Isso é muito metafórico”, diz um dos personagens do filme Parasita, de Bong Joon-ho, à certa altura. A frase serviria também para descrever o filme coreano ganhador de quatro Oscares.
Parasita conta a história de uma família pobre sul-coreana, que vive em um porão sujo. Todos estão desempregados e o único dinheiro que conseguem é dobrando caixas de pizza. Eles visualizam a chance de ascenção social quando um dos filhos consegue se tornar professor particular da filha de um casal rico. Aos poucos, um a um vai se introduzindo na família usando os mais diversos artifícios para se livrar dos empregados atuais e conquistar a confiança da família rica.
A primeira metáfora óbvia tem a ver com níveis. Ricos moram em locais altos e são sempre vistos subindo escadas. Pobres moram em locais baixos e são sempre vistos descendo escadas, ruas. No momento em que o plano está dando certo, os integrantes da família pobre começam a ser vista subindo. Sua ascensão é também uma representação de ascensão social.
Aliás a pedra, que o personagem do início se refere como metafórica, é totalmente simbólica: inicialmente um símbolo de sorte, torna-se, à certo ponto, a responsável pela desgraça da família.
O início, absolutamente hilário, com os personagens percorrendo a casa suja, escura e desorganizada em busca de um wi-fi grátis é exemplo perfeito dessa representação. Até mesmo o cheiro dos personagens é essencial na trama, pois começa a ser percebido pelos ricos e vai provocar uma reviravolta em um dos momentos mais chocantes do filme.
Outro ponto que merece destaque é a representação da família pobre. Em sua casa no porão, eles parecem desmazelados, fracassados. Na casa dos ricos, quando o plano parece estar dando certo, mudam completamente, em especial a filha, que se torna firme e até mesmo autoritária.
Mas Parasita vai muito além das metáforas. O que faz dele um filme tão bom, ganhador de tantos prêmios, é a estrutura que mistura diversos gêneros. Embora a história seja de suspense, há cenas de humor puro. Em uma delas, em que o filho do casal resolve acampar no quintal, humor e suspense se unem perfeitamente, numa cena engraçadíssima em que o expectador fica o tempo todo no fio da navalha. Misture aí cenas de puro gore, drama, crítica social e até cenas de artes marciais com um roteiro repleto de reviravoltas e terá a receita de Parasita.   

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