segunda-feira, fevereiro 10, 2020

Roma, de Alfonso Cuarón

Roma, de Alfonso Cuarón, foi o primeiro filme produzido pela Netflix a concorrer ao Oscar. Uma indicação merecida.
O filme tem como protagonista uma empregada doméstica a serviço de uma família de classe média.
Os acontecimentos da família e do país são acompanhados sob o olhar dessa mulher descendente de indígenas. Grávida e abandonada pelo namorado, sua história se mescla à da patroa, abandonada pelo marido. Para nós é chocante como a legislação da época era totalmente permissiva, permitindo, por exemplo, que um homem abandonasse a esposa com quatro filhos sem sequer contribuir financeiramente com a antiga família – ou o rapaz de periferia que simplesmente desaparece quando descobre que a namorada está grávida.
Não por acaso, o namorado participa de uma milícia, que, junto com a polícia, foi responsável pelo massacre de Corpus Christi, em que centenas de pessoas foram mortas durante um protesto estudantil (uma das cenas de maior impacto do filme). O drama familiar se mescla ao drama político, um refletindo o outro.
A narrativa é lenta, o que talvez assuste alguns expectadores, mas vale a pena persistir. Ajuda nisso a belíssima fotografia, um verdadeiro deleite para os olhos e a forma poética e até divertida com que são mostrados pequenos acontecimentos, como a inabilidade da mãe da família com carro (que, como tudo no filme, logo ganha contornos simbólicos).

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