segunda-feira, agosto 03, 2020

O benfeitor dos quadrinhos



Quando era criança, havia uma profusão de quadrinhos em minha casa. Minha mãe morava em São Paulo e eu e minha vó morávamos em Mococa, interior do estado. Sempre que minha mãe ia me visitar levava um pacote de gibis, que eu devorava como sofreguidão.
Eu sempre acreditei que era minha mãe que comprava, mas não era. Na época ela trabalhava na contabilidade das lojas Mappin e tinha um amigo na repartição, um senhor já de idade, que adorava quadrinhos. Mas tinha vergonha de comprar e mais vergonha ainda de ser visto com gibis. Assim, ele comprava dizendo que era para o “filho da Amélia” e lia antes de enviar ao destinatário.
Era principalmente Disney e um ou outro Turma da Mônica. Ele pelo jeito adorava as histórias italianas da Disney, pois li muitas quando era criança – a ponto de conseguir identificar que aquelas eram diferentes das outras.
Uma curiosidade é que a revista que ele mais gostava era a humorística MAD, mas essa ele não mandava para mim, pois achava que não era leitura para crianças. Anos mais tarde eu conheci a revista comprando inicialmente em sebos e virei um fã. Lembro de mais de uma situação em que eu estava lendo em um local público, como ônibus, e passava pelo constrangimento de cair na gargalhada sob o olhar intrigado dos outros.
Muito tempo depois eu virei roteirista da MAD – e foi quando minha mãe me contou a história do benemérito que comprava gibis e me enviava quando eu era criança. Surgiu a ideia de tentar achá-lo e enviar uma MAD com roteiro meu autografada. Infelizmente, nossa busca nunca deu resultado e nunca pudemos enviar essa revista.
E fica a pergunta: será que ele imaginava que estava criando uma paixão que me levaria a um dia, escrever a revista que ele mais gostava?

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