sábado, outubro 31, 2020
A arte espacial de Jim Starlin
As vidas de Chico Xavier
Informação relevante
“Como faço para conservar meu casamento?”; “De que maneira posso me tornar mais feliz?”; “O que posso fazer para que formigas não ataquem minhas flores?”; ”Que tipo de filme devo assistir no final de semana?”; "Qual o melhor local para viajar no final de semana?".
Wolverine antes de se tornar Wolverine
Groo amigos e inimigos
Groo é um dos melhores quadrinhos de humor de todos os tempos. Criado por Sérgio Aragonés (com textos de Mark Evanier), o título é garantia absoluta de boas gargalhadas. Os dois volumes de Groo – amigos e inimigos, lançados pela Mythos em 2017, são ótimos exemplos disso.
Os álbuns apresentam encontros do aparvalhado
bárbaro com alguns dos seus principais inimigos (que são muitos) e amigos (que
são poucos).
A primeira historia do segundo volume mostra a
irmã de Groo, a rainha Grooella, às voltas com um rei vizinho em uma guerra de
cartas. A troca de ofensas extrapola o razoável quando o rei diz que Grooella é
parente do Groo, uma ofensa tão grande que faz com que ela convoque
imediatamente seu exército e o mande ao combate. Só que é um estratagema: a
ideia é aproveitar que o castelo está desprotegido e tomá-lo. No caminho as
forças de Groella encontram Groo, que se se põe a atacar os soldados até se
informado que aquele é o exército de sua irmã, o que faz com que e ingresse em
suas fileiras, para desespero de todos. Um dos soldados resume a situação: “Nem
sei o que é pior”. Claro que no final, Grooela se dá muito mal, o que não
poderia ser diferente para quem tem Groo como aliado.
Em outra história, Groo encontra o Sábio, que
pretende resolver o problema de aldeões, que pagam um caro pedágio para
atravessar uma ponte. Eles poderiam construir uma outra ponte, mas o rei com
certeza a destruiria antes que estivesse pronta. Tudo parece se resolver quando
chega Groo. Nenhum soldado seria louco de atacar a ponte guardada por ele. Mas
o que parece a solução vira um desastre absoluto.
Mas talvez a melhor história seja a última,
como Tecelão, uma espécie de jornalista, que conta as proezas de Groo.
Precisando de mais relatos, ele passa a seguir o errante, pronto para narrar os
desastres provocados por ele. Mas acontece o oposto: nunca há nenhum desastre
produzido por Groo pela simples razão de que, sempre que ele se aproxima de uma
aldeia, os próprios aldeões colocam fogo nela para evitar que Groo destrua o
local: “Se nós mesmos incendiarmos tudo, ele será obrigado a fugir... e talvez
não tenha tempo de ceifar nenhuma vida”, explica um aldeão. A história guarda
ainda uma fina ironia: sempre que o Tecelão resolve mentir em suas crônicas,
ele acaba contando, involuntariamente, exatamente o que aconteceu.
Groo – amigos e inimigos é um ótimo exemplo de
que Groo não é só engraçado. É também humor altamente inteligente.
sexta-feira, outubro 30, 2020
Fundo do baú - Betty Boop
Ágora, a história de Hipátia
Homem-aranha – caído entre os mortos
Monstro do Pântano – lição de anatomia
Em 1984 Len Wein contratou o desconhecido escritor britânico Alan Moore para assumir o personagem Monstro do Pântano, que ele havia criado na década de 1970. O título estava ladeira abaixo e provavelmente seria cancelado, portanto o risco era pequeno para a DC Comics.
Alan Moore iniciou no título em Swamp Thing 20,
terminando um arco de outro roteirista. A primeira história com a sua versão do
personagem seria publicada no número 21. Intitulada “Lição de anatomia” e com
desenhos de Stephen Bissette e John Totleben, a história revolucionou os
quadrinhos de terror e mudou para sempre o mercado de quadrinhos.
O leitor percebia que estava diante de algo
diferente desde a primeira página. Nela Jason Woodrue, o Homem florônico, está
na janela de seu apartamento pensando nos acontecimentos que o levaram a
conhecer o Monstro do Pântano. Ele pensa no velho que o contratou para dissecar
a criatura e descobrir como a fórmula biorestauradora conseguiu transformar um
homem normal no poderoso Monstro do Pântano: “Ele vai bater no vidro. Se não
agora, daqui a pouco. De qualquer forma, vai bater, e... será que vai haver
sangue? Torço para que haja. Muito sangue. Um volume formidável de sangue”. E o
desenho mostra o velho de fato batendo no vidro do laboratório) que se confunde
com o vidro do apartamento, com a água da chuva escorrendo como se fosse sangue.
O título vinha logo abaixo, ocupando um terço da página e era uma referência
direta ao cartaz do filme Anatomia de um crime, de Otto Preminger, com o texto
vindo sobre partes de um corpo.
Nas histórias anteriores, o Monstro do Pântano
havia sido morto a tiros pela Corporação Sunderland e seu corpo mantindo
congelado. O “velho” Sunderland quer que Woodrue disseque o cadáver para
descobrir seus segredos.
Mas parece tudo parece inverossímil: embora o
monstro tenha coração, pulmão e até cérebro, nada disso parece ter função real.
Além disso, a fórmula biorestauradora havia sido produzida para plantas e não
deveria ser capaz de afetar tecido humano. “Era mais do que se poderia esperar
que uma mente humana desvendasse”, diz o Homem-florônico “Em seis semanas achei
a resposta”.
A resposta estava diretamente relacionada com
as planárias, vermes que tinham a característica de ser renegerar quando
cortadas. Cientistas ensinaram uma planária a percorrer um labirinto e depois a
cortaram em pedaços e deram para outras comerem... e as canibais aprenderam a
percorrer o labirinto (a experiência é real).
Moore constrói a trama com maestria, dando um
toque de suspense à história e, ao mesmo tempo, construindo a base do que viria
a fazer com o personagem, inclusive modificando sua aparência para algo mais
vegetal. Stephen Bissette e John Totleben foram primorosos no desenho, com a
diagramação nada convencional, com quadrinhos distorcidos, imagens que vazam
pela página um traço sujo, repleto de hachuras, perfeitos para uma história de
terror.
O processo de produção da Turma da Tribo
Desde que começamos a divulgar imagens do gibi, algumas pessoas têm me perguntado como te sido o processo de produção. O objetivo deste artigo é justamente responder a essa pergunta.
Tudo começa, claro, com a elaboração de personagens e ambientação. Tenho inveja de quem diz que cria rapidamente. Para mim esse processo costuma ser demorado e trabalhoso, assim como a elaboração da sinopse. É normal que eu escreva e reescreva nessa fase. No primeiro tratamento da Turma da Tribo, por exemplo, a história se passava no Brasil colonial. Desisti dessa abordagem porque ela não me permitiria tratar de temas contemporâneos, como os madereiros, tema do primeiro gibi. Da mesma forma, alguns personagens passaram por mudanças e até mesmo mudaram de nome. Como uma das referência era Asterix, eu procurei nomes tivessem uma pitada de trocadilho, como Toró, personagem musculoso cujo remete a chuva forte.
Eu aumento ou diminuo o nível de detalhes do meu roteiro de acordo com o desenhista. Com iniciantes costumo ser mais detalhista. Como eu sabia que o desenho seria do Ricardo Manhães, um veterano do quadrinho europeu, fiz um roteiro bem minimalista, até porque durante todo o processo de produção trocamos vários e-mails e fizemos várias mudanças, tanto nos desenhos quanto no texto. Reparem, por exemplo, que na primeira página mudamos a legenda do último quadro para evitar a palavra "inventor", já que "inventar" já havia aparecido antes no mesmo quadro.
Feito o roteiro, o Ricardo faz, à mão, o lápis, depois a arte-final (tinta preta) e finalmente a cor no computador.
Confira abaixo o roteiro e as páginas.
Página 1
Quadro 01 – Plano geral da tribo, lembrando aquelas imagens de abertura dos álbuns de Asterix. Título e créditos neste quadro.
Texto: Esta é a aldeia dos cunani. É uma aldeia muito diferente, com personagens muito interessantes.
Texto: Vamos dar uma olhadinha neles.
Quadro 03 – Abaeté, todo orgulhoso, estufando o peito. Ao lado dele, entrando no quadro, vemos Baquara.
Texto: Este é Abaeté, o chefe da tribo. Um homem honrado, de palavra.
Abaeté: Pode escrever. Sou um homem de palavra! Minhas palavras.
Quadro 04 – Baquara entrou no quadro e agora divide atenção com o chefe. Ele começa a escrever palavras num papel.
Baquara: Tive uma ótima idéia! Vou inventar a escrita invisível!
Texto: Este é Baquara, o inventor da tribo, e filho do chefe.
quinta-feira, outubro 29, 2020
Direto da estante: Aventura e Ficção
Fahrenheit 451 - o filme
A máquina do tempo, de H.G. Wells
H.G. Wells foi um dos maiores gênios da ficção científica. Ele antecipou alguns dos principais temas do gênero, entre eles a viagem no tempo.
Escrito em 1895, o livro de Wells pode não ter
sido o primeiro sobre viagens no tempo, mas certamente foi o primeiro a mostrar
isso sob ação de uma máquina, que poderia ser controlada por um ser humano.
O livro começa, aliás, como uma discussão
científica. O protagonista (simplesmente chamado de Viajante do Tempo) explica
que todo objeto é normalmente visto como existente na altura, largura e
profundidade, as três dimensões. Mas ele também existe no tempo, a quarta
dimensão. E levanta a hipótese de que, da mesma forma que é possível viajar no
espaço, também seja possível viajar pela quarta dimensão. E mostra para sua
plateia o protótipo de um mecanismo, que desaparece ao ser acionado.
Tempos depois, o narrador volta à casa do Viajante
do Tempo, que aparece totalmente andrajoso e, após tomar um banho, se vestir
com roupas novas e comer, finalmente conta sua história.
Ele teria viajado no tempo, até o ano de
802701, uma era em que a humanidade havia sido completamente transformada (inteligente,
Wells situou sua história muitos séculos além de sua época).
A engenhosa descrição da própria viagem em si
já vale o volume: “A imagem ofuscada do laboratório pareceu sumir, e vi o sol
saltando com rapidez pelo céu, pulando a cada minuto e cada minuto marcava um
dia (...) A lesma mais lenta que já se arrastou corria muito rápido para mim”.
Mas o que é narrado após a chegada ao ano de
802701 é uma história empolgante que envolve mistério, ação, suspense,
entremeados com várias reflexões filosóficas.
O que o viajante encontra no futuro são pessoas
pequenas e bonitas, mas frágeis, os eloi, que vivem vidas despreocupadas, de
puro prazer, comendo apenas frutas e aparentemente incapazes de manusear
qualquer mecanismo. Além disso, são indivíduos preguiçosos, que cansam muito
rápido. Quando uma das mulheres se afoga no rio, ninguém faz o menor esforço de
tentar salvá-la e cabe ao viajante do tempo essa incumbência – o que gera um
bizarro interesse romântico, já que Weena é mostrada praticamente como uma
criança em sua alegria despreocupada.
Mas, se o mundo da superfície é povoado pelos
belos e frágeis eloi, no subterrâneo viem os Morlock, uma raça de seres
repugnantes de pele branca.
A explicação dada por Wells ecoa uma forte
crítica social: à certa altura a classe dominante se estabelecera na
superfície, relegante as galerias subterrâneas para a classe trabalhadora, que
produzia tudo o necessário para a burguesia em diversas máquinas. Mas a
evolução fez com que os operários se tornassem seres totalmente noturnos e,
numa curiosa inversão, passassem a se alimentar dois eloi, mostrados como gado
que vive alegremente e engorda para finalmente ser devorado.
Wells reflete que esse modelo de sociedade
tirou das classes dominantes qualquer traço de inteligência, pois a
inteligência e a inventividade são originárias da necessidade. Séculos de uma
vida de puro prazer fez com que os seres da superfície perdessem até mesmo a
capacidade de ler.
A máquina do tempo mistura essa crítica social
e reflexão filosófica com uma trama muito bem elaborada e repleta de ação e
suspense – uma vez que a máquina do tempo é roubada, ameaçando deixar o
viajante preso para sempre no futuro. É um verdadeiro triller, que deixa o
leitor primeiro curioso para entender o que está acontecendo e depois tentando
imaginar como o Viajante conseguirá se salvar.
Um clássico absoluto em pouco mais de 100
páginas.