segunda-feira, outubro 19, 2020

A flor de vidro


Em 1995, George Martin, autor de Guerra dos Tronos, era um desconhecido no Brasil. A apresentação de sua novela a flor de vidro, publicada na revista Isaac Asimov Magazine 4, dizia o seguinte: “George R.R. Martin escreveu vários episódios de Além da Imaginação e um conto seu, publicado em 1985, ganhou um dos prêmios nébula daquele ano e concorreu ao oscar da ficção científica, o troféu Hugo”. Ou seja: era só mais um autor publicado pela revista. Entretanto, sua novela ganhou destaque na capa e abriu a revista, reflexo direto da qualidade da narrativa.
Martin propõe uma trama interessante: um jogo da mente. Três jogadores disputam como prêmios corpos de três prisioneiros. Se forem vencendores, ganham o novo corpo. Mas os jogadores podem também disputar entre si – nada impede, por exemplo, que um assuma o corpo do outro. Da mesma forma, os prisioneiros podem escapar ilesos, ganhando a liberdade.
A narradora é a Sábia, a mestra responsável por comandar o jogo, que se vê diante de uma situação inusitada quando um androide resolve participar. O androide que afirma ser um lendário herói espacial.
A narrativa de Martin é minunciosa, focada principalmente na caracterização dos personagens e na construção lenta da trama (características também fundamentais em Guerra dos Tronos). Há também as elipses, momentos não contados da trama, que o leitor deve deduzir, outra característica dos livros sobre Westeros.
Há também um forte tom alegórico, a começar pela flor de vidro do título, que torna-se um símbolo de toda a discussão por trás da trama.
E, claro, uma referência óbvia: a coisa toda parece um enorme RPG.

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