terça-feira, novembro 24, 2020

O Capitão Gralha

 

Em meados da década de 1940 surgiu nas bancas de Curitiba o que talvez seja o primeiro super-herói brasileiro. Criado por Francisco Iwerten e usando um bigodinho característico, asas e camisa gola polo, o Capitão Gralha foi esquecido e redescoberto, marcando para sempre os quadrinhos nacionais.
O super-herói surgiu após uma viagem aos EUA. Em plena II Guerra Mundial, os americanos temiam que o Brasil se aliasse ao Eixo e iniciaram a politica de boa-vizinhança, que tinha como objetivo estreitar as relações dos Estados Unidos com os países vizinhos. Assim, artistas viajaram para o Brasil, a exemplo de Disney e Orson Welles, e brasileiros foram levados a conhecer a terra de Tio Sam, a exemplo de Érico Veríssimo.
Mas os americanos queriam alguém ligado aos quadrinhos,  já que as histórias em quadrinhos estavam tendo papel fundamental na propaganda de guerra (a maioria dos heróis dos gibis se engajaram na guerra, a exemplo do Capitão América, que aparecia socando Hitler na capa de seu primeiro gibi).
O escolhido acabou sendo Francisco Iwerten especialmente por conta de sua história familiar. Ele fugira da Alemanha nazista ainda criança e fora adotado por um casal de tios, em Curitiba.
Iwerten ficou maravilhado com o sucesso dos quadrinhos de super-heróis e mais ainda ao conhecer o estúdio de Bob Kane, que seria para sempre seu modelo a ser seguido. Ele decidira que o Brasil também teria seu herói!
O personagem foi criado na viagem de volta e foi de uma versão inicial que lembrava o herói mitológico Ícaro à ficção científica. Também surgiu uma curiosa galeria de vilões capitaneada pelo Dr. Destruição, um maníaco fascinado pela letra D, que falava apenas usando palavras iniciadas por essa letra.
Apesar de um sucesso mediano no começo, a revista foi diminuindo suas vendas até ser cancelada. Iwerten passou a publicá-la então num esquema alternativo, com baixas tiragens e acabou gastando todo o dinheiro da herança com isso. Morreu pobre, desconhecido e os montes e gibis que lotavam sua casa foram queimados.
Essa é a história que foi resgatada na revista Metal Pesado Curitiba, em 1997, por um grupo de quadrinistas curitibanos. Num texto inicial, explicava-se que o personagem O Gralha era uma releitura e homenagem ao Capitão Gralha.
A partir daí o quadrinista e seu herói foram redescobertos, surgiram artigos em jornais, revistas, Iwerten ganhou prêmio e quase foi tema de escola de samba.
Em 2015, os criadores do Gralha vieram a público revelar a verdade: Iwerten nunca existira. Ele seu herói haviam sido criados para promover e dar um passado célebre para o personagem O Gralha. Para alguém que não existia de fato, Francisco Iwerten se tornou bastante célebre.

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