terça-feira, abril 27, 2021

Eric, de Terry Pratchett

 


O escritor inglês Terry Pratchett revoluciou a literatura de fantasia ao introduzir o humor no gênero, algo parecido com o que Douglas Adams fez com a ficção científica em O guia do mochileiro das galáxias (não por acaso, os dois são inglese).

Pratchett criou um mundo fantático que consite num disco sustentado por elefantes equilibrados nas costas de uma tartaruga. Um local onde ser mago é uma profissão possível e qualquer coisa pode acontecer.

O autor aproveitou a série para satirizar tudo, da vida moderna aos clássicos. Nessa última categoria pode ser incluído o livro Eric, lançado no Brasil pela Conrad em 2005.

Como a capa indica, Eric é uma versão humorística de Fausto, o homem que vendeu sua alma ao diabo (no título Fausto aparecer riscado e Eric aparece escrito em cima com letras infantis).

Na trama, Rincewind, o desastrado mago que fora enviado para o calabouço das dimensões em um livro anterior, volta para Discworld ao ser convocado por um demonólogo. Na verdade, o demonólgo, o garoto Eric Thusley, estava tentando chamar um demônio, mas o que apareceu foi o mago.

Eric faz três exigências: ter o domínio de todos os reinos do mundo, a mulher mais bonita que já existiu e viver para sempre.

Mas, como alerta Terry Pratchett, qualquer mago esperto que sabe o bastante para sobreviver por cinco minutos também é esperto o bastante para perceber que, se há algum poder na demonologia, ele está nas mãos dos demônios: “Usá-los em benefício próprio seria como tentar matar ratos batendo neles com uma cascavel”.   

Ou seja, o lance todo do pacto com demônios consiste em dar tudo que a pessoa pediu e, ao mesmo tempo, tudo que ela não quer. E, embora Rincewind não seja um demônio, é exatamente isso que acontece.

Ao se tornar o senhor do mundo, por exemplo, Eric, juntamente com Rincewind são enviados para um país no meio da selva, Tezuman.

Eric imagina que estar em em misterioso reino amazônico onde lindas princesas submetem seus prisioneiros a ritos de procriação estranhos e exaustivos. E, de fato, há em Discworld alguns desses reinos, onde a maioria dos exploradores são submetidos a tarefas exclusivamente masculinas. A maioria, entretanto, não sobrevive depois de anos instalando tomadas, montando prateleiras, cortando a grama do quintal ou verificando barulhos estranhos no sótão.

Acontece que os tezumanos são o povo mais irratável, pessimista e sombrio desse local. Eles cultuam um deus jibóia enfeitado de plumas que exige sacrifícios.

Eric é recebido com toda a pompa e ganha diversos presentes, para logo depois ser preso, juntamente com o mago, pelos tezumanos que querem finalmente se vingar do dono do mundo por ter colocado eles num país tão ruim, cheio de pântanos, de mosquitos, o fato das rodas de pedra nunca ajudarem a movimentar as coisas por mais que fossem colocadas na horizontal e puxadas com cordas.

Claro, eles se livram dessa enrascada, mas só para cair numa arapuca ainda maior.

A mulher mais bonita do mundo é Helena de tróia, Eleonor na versão de Discoworld, e os dois vão parar em plena guerra de troia só para descobrir que a mulher mais linda de todos os tempos se tornou uma matrona rodeada de crianças. “Ela parece com minha mãe!”, reclama Eric.

E a saga segue pelo início do mundo (afinal, quem quer viver para sempre teria que voltar até a origem dos tempos) e até uma visita ao inferno, que virou uma colônia de férias em que o objetivo é tornar tudo o mais tedioso possível.

Tudo isso misturado com os comentários irônicos de Terry Pratchett que pontuam toda a obra.

Enfim, um livro rápido e divertido.   

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