sábado, maio 01, 2021

Superdotados e educação

 


Os alunos superdotados nem sempre são fáceis de se trabalhar. Para começar, é comum que, sobre alguns assuntos, eles tenham mais informações que o professor. Se a orientação pedagógica é tradicional (em que o professor é visto como depositário de conhecimentos que devem ser repassados aos alunos), pode haver problemas sérios, com o professor vendo o aluno como um concorrente.
Além disso, a capacidade de aprender antes dos outros pode tornar a aula tediosa. Quando o professor diz A, o aluno já deduziu o B e o C, de modo que o restante da aula se torna apenas tediosa repetição.
Pesquisadores da área têm identificado que 20% do período de aula é desperdiçado por um aluno com QI de 130. Ou seja, em uma aula de 50 minutos, 10 minutos é pura redundância. A obrigatoriedade de permanecer na sala durante os 50 minutos torna o restante do tempo um suplício para os superdotados. Além disso, os desafios propostos pela escola costumam estar muito abaixo da capacidade desses alunos, que se torna desestimulado. Sem estímulos cognitivos, tal alunos procurará realizar os deveres escolares no menor tempo possível, desperdiçando o restante do tempo em simples recreação inconseqüente. É o caso de alunos que terminam de fazer as atividades antes do tempo e, a partir daí, começam a “fazer bagunça”, atrapalhando os outros.
Curiosamente, é mais fácil encontrar superdotados no “fundão” que na frente. Ao contrário do que imagina a maioria dos professores, o aluno que se senta na frente, escreve tudo que o mestre diz e tem um caderno bem organizado, dificilmente é superdotado. Muitos superdotados nem mesmo fazem apontamentos em seus cadernos, pela simples razão de que não precisam disso. Conheço casos de alunos que passaram pela faculdade sem ter caderno.
O professor só conseguirá o respeito do superdotado se este perceber que tem algo a aprender com ele. A autoridade, para um superdotado, não é fruto da tradição, ou da força, mas do conhecimento de cada um. Certa vez entrei em uma turma de primeiro ano do ensino médio e visualizei um aluno com enorme livro do Stephen King (em inglês) aberto sobre a carteira. Ele passou a aula inteira lendo o livro. Na sala dos professores, muitos dos meus colegas me informaram que ele era o terror da escola, um aluno problemático e indisciplinado. Na aula seguinte levei a ele um fanzine (publicação alternativa) que eu havia feito no qual havia uma matéria sobre King. Na aula seguinte lhe apresentei Edgar Alan Poe. Resultado: ele se tornou um dos meus melhores alunos. Seus textos, que antes eram só medianos, revelaram-se de grande qualidade literária. Antes ele não escrevia melhor porque simplesmente achava que o exercício não exigia dele toda a sua capacidade.

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