Em 1974, Jack Kirby estava
na DC Comics e tinha assinado um contrato que o obrigava a fazer 15 páginas de
quadrinhos, escritas, desenhadas e editadas por semana. Um número absolutamente
bizarro se considerarmos que a maioria dos desenhistas de quadrinhos faz 22
páginas por mês.
Mas outras revistas que ele
estava fazendo, como Etrigan, o demônio, tinham sido descontinuadas em
decorrência das baixas vendas. O único personagem que vendia relativamente bem
era Kamandi, que se passava num futuro distópico. Assim, os executivos da DC
pediram que Kirby pensasse num herói futurista para completar a cota de 15
páginas semanais.
O resultado foi,
provavelmente, o melhor trabalho de Kirby para a DC e, provavelmente, um dos
melhores quadrinhos já feitos pelo rei.
O quadrinho chamava-se Omac
e se passava num futuro distópico. Omac é um operativo de paz que combate
ditadores e criminosos.
As situações imaginadas por
Kirby mostram o quanto ele era visionário e absolutamente criativo.
O mundo de Omac é um local
em que ricos podem conseguir tudo, de alugar uma cidade para dar uma festa (e
durante a festa tudo que está dentro da cidade pode ser usado por eles) a
comprar corpos jovens para transferir suas consciências.
Kirby imagina uma fábrica de bonecas hiper-realistas.
A primeira história é
incrivelmente visionária. Kirby imaginou uma empresa que fabrica “amigas”,
bonecas hiper-realistas para consolar pessoas sozinhas (em outras palavras:
bonecas sexuais). A situação gira em torno de pessoas dessa empresa que colocam
bombas nessas bonecas afim de cometer assassinatos. Hoje em dia bonecas
hiper-realistas são uma realidade e podem ser compradas em sites por valores
que variam de 2 a 5 mil reais! As mais avançadas já contam até mesmo com
inteligência artificial. Se considerarmos que Kirby fez essa história em meados
da década de 70, é incrível o quanto ele conseguia antecipar o futuro.
Kirby imagina a importância
que a água teria no futuro e inventa um vilão que manipula átomos para roubar
rios e lagos inteiros.
Os milionários podem tudo, inclusive comprar corpos de jovens para transferir suas consciências.
E, quem diria, Kirby, que
lutou na segunda Guerra Mundial, é implacável com figuras de autoridades, em
especial as militares. Um dos personagens, assistente de um vilão, é o Major
Capacho.
Omac é, provavelmente, o
melhor exemplo da mente genial e visionária de Jack Kirby, o homem, que, nas
palavras de Alan Moore, era capaz de criar um universo antes do café da manhã.
Pena que a capacidade de
Kirby com a escrita não acompanhasse toda essa genialidade. Os diálogos são tão
impessoais e sem sabor que muitas vezes um personagem completa a fala do outro.
Mas a genialidade das histórias aqui é tão grande que esse defeito passa quase
batido.
É surpreendente que esse
material estivesse inédito no Brasil até este ano de 2021, quando a Panini
publicou as histórias num volume de Lendas do Universo DC.
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