terça-feira, setembro 07, 2021

O rei do quarto mundo

 


Em 1970, Jack Kirby foi contratado como estrela pela National (hoje DC Comics) com liberdade total para criar. Na década de 1960 ele, juntamente com Stan Lee haviam transformado a Marvel (principal rival da DC) na editora mais revolucionária dos quadrinhos americanos num movimento que a fez dominar o mercado de super-heróis, domínio esse  que dura ate hoje.
Kirby estreou num titulo autoral chamado Novos Deuses. Ele ficara famoso na Marvel ao desenhar principalmente o Thor, então o título era um recado: os velhos deuses da Marvel estavam mortos. Agora a supremacia seria dos novos. O texto de abertura do gibi era quase uma declaração nesse sentido: “Chegou o tempo em que os velhos deuses morreram! O corajoso pereceu com o ardiloso! O nobre definhou, aprisionado na batalha devido ao mal desencadeado! Foi o último dia para eles! Uma era antiga terminara com um feroz holocausto!”.
O texto demonstrava muito da mágoa de Kirby com a Marvel. Ele sentia que sua importância na reformulação da editora havia sido diminuída pelo excesso de exposição de Stan Lee, que sempre foi ótimo em marketing pessoal e era constantemente entrevistado pelos jornalistas que queriam falar dos novos quadrinhos Marvel, que haviam conquistado a nova geração, inclusive de intelectuais.
Na DC, Kirby, criativo com sempre (o roteirista Alan Moore diz que conseguia criar um mundo antes do café da manhã), queria criar toda uma saga que passaria pelas revistas Novos Deuses, Forever People e Mister Milagre... A ideia era posteriormente reunir essas narrativas, que ficaram conhecidas como Quarto Mundo, numa série de livros em capa-dura.
A saga contava a história de Nova Gênesis, um lar de deuses, em sua luta contra Apokolips, dominada pelo terrível Darkseid.  Ambos os planetas ficam na dimensão conhecida como o Quarto Mundo, a  maneira mais segura de se chegar a essa dimensão é através de  Tubos de Explosão.
Kirby criou todo um universo, e, a despeito do pouco sucesso e do cancelamento dos títulos de forma precoce, Os Novos Deuses foram  incorporados à cronologia do universo DC e têm participação importante em varias sagas cósmicas da editora.
Jack Kirby criou vários outros personagens, como Etrigan, o demônio, Kamandi e Omac. Também fez o Super-homem, mas como seu traço diferia muito do estilo dos outros desenhistas do homem de aço, o rosto do personagem era feito pelos outros artistas. Essa foi a gota d´água no já estremecido relacionamento do “Rei” com a DC comics .
Pouco tempo depois, Kirby acabou voltando para a Marvel, onde criou os Eternos (Fruto das suas leituras de Eram os deuses Astronautas de Eric Von Danikem)  Embora seu trabalho na DC fosse totalmente inovador e de ótima qualidade, faltava humanidade para os personagens. Nas histórias de deuses e criaturas super-poderosas faltava justamente aquilo que Stan Lee colocava nas histórias: o lado humano.
Mesmo não tendo feito grande sucesso de público, o Quarto Mundo redefiniu o universo DC. Para começar, a editora finalmente ganhou um vilão sério, alguém que se poderia temer. Antes dele, o melhor que a DC havia chegado em termos de vilões eram o palhaço Coringa e o cientista louco Lex Luthor.

A criação de Kirby ecoa até hoje nos quadrinhos da DC Comics. A editora foi marcada definitivamente pelas mãos do rei dos quadrinhos. 

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