terça-feira, setembro 07, 2021

Tempo, de M. Night Shyamalan

 


M. Night Shyamalan é um dos poucos cineastas que ainda conseguem fazer filmes autorais no cinema norte-americano numa época tomada por grandes sagas e franquias. Filmes de sucesso, como A visita e Fragmentado dão a ele cafice para contar suas próprias histórias, mas também colocam sobre suas costas uma grande responsabilidade. O expectador sempre espera histórias de suspense com finais surpresa.

Tempo, sua mais recente produção segue essa linha e não decepciona.

Na história, um grupo de turistas é deixado numa praia deserta onde o tempo parece correr de maneira muito mais rápida. Em cada uma das famílias parece haver pelo menos uma pessoa com problemas de saúde, o que aumenta ainda mais o mistério sobre a situação.

Tempo não é um filme de terror. Não espere sustos. Mas funciona bem como suspense. O tempo todo está acontecendo algo e a direção privilegia isso. Nesse sentido, o que não é mostrado é mais importante do que o que é mostrado. Um close num personagem pode estar escondendo algo que está acontecendo em outro local, o que deixa o expectador tenso, sem saber o que virá a seguir (mas tendo certeza de algo está acontecendo além do que está sendo mostrado). E as situações provocadas pelo tempo acelerado vão do óbvio ao inusitado.

Como se poderia esperar de Shyamalan, este filme também tem um final surpresa – e talvez daí venha o ponto franco da obra. A trama tem toda uma possibilidade de discussão filosófica sobre o tempo (nesse sentido, o título nacional é bem melhor que o original, Old): como somos afetados pelo tempo? Realmente aproveitamos o tempo? Qual o impacto da morte de entes queridos numa época de pandemia? O final, entretanto, torna todas essas discussões rasas. 

Tempo vale pelas situações de suspense e pelas discussões que podem ser geradas a partir de sua história, e não necessariamente pelo que é estabelecido no final.

Em tempo (desculpem o trocadilho, foi mais forte que eu): muitos não sabem, mas o filme é adaptação da história em quadrinhos "Castelo de areia", de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters. Ou seja, mais um filme surgido a partir dos quadrinhos. Se antigamente a literatura era a grande força criativa por trás dos cinema, hoje em dia parece que essa força são os quadrinhos.

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