M. Night Shyamalan é um dos
poucos cineastas que ainda conseguem fazer filmes autorais no cinema
norte-americano numa época tomada por grandes sagas e franquias. Filmes de
sucesso, como A visita e Fragmentado dão a ele cafice para contar suas próprias
histórias, mas também colocam sobre suas costas uma grande responsabilidade. O
expectador sempre espera histórias de suspense com finais surpresa.
Tempo, sua mais recente
produção segue essa linha e não decepciona.
Na história, um grupo de
turistas é deixado numa praia deserta onde o tempo parece correr de maneira
muito mais rápida. Em cada uma das famílias parece haver pelo menos uma pessoa
com problemas de saúde, o que aumenta ainda mais o mistério sobre a situação.
Tempo não é um filme de
terror. Não espere sustos. Mas funciona bem como suspense. O tempo todo está
acontecendo algo e a direção privilegia isso. Nesse sentido, o que não é
mostrado é mais importante do que o que é mostrado. Um close num personagem
pode estar escondendo algo que está acontecendo em outro local, o que deixa o
expectador tenso, sem saber o que virá a seguir (mas tendo certeza de algo está
acontecendo além do que está sendo mostrado). E as situações provocadas pelo
tempo acelerado vão do óbvio ao inusitado.
Como se poderia esperar de Shyamalan,
este filme também tem um final surpresa – e talvez daí venha o ponto franco da
obra. A trama tem toda uma possibilidade de discussão filosófica sobre o tempo
(nesse sentido, o título nacional é bem melhor que o original, Old): como somos
afetados pelo tempo? Realmente aproveitamos o tempo? Qual o impacto da morte de
entes queridos numa época de pandemia? O final, entretanto, torna todas essas
discussões rasas.
Tempo vale pelas situações
de suspense e pelas discussões que podem ser geradas a partir de sua história,
e não necessariamente pelo que é estabelecido no final.
Em tempo (desculpem o trocadilho,
foi mais forte que eu): muitos não sabem, mas o filme é adaptação da história
em quadrinhos "Castelo de areia", de Pierre Oscar Lévy e Frederik
Peeters. Ou seja, mais um filme surgido a partir dos quadrinhos. Se antigamente
a literatura era a grande força criativa por trás dos cinema, hoje em dia
parece que essa força são os quadrinhos.
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