Durante boa parte da década de 1960, a revista do Quarteto
Fantástico era a mais vendida da Marvel (o que pode parecer uma surpresa para
os fãs mais jovens). E havia uma razão: a publicação não só foi a primeira da
era Marvel como foi, em muitos sentidos, o ápice da criatividade da dupla Jack
Kirby – Stan Lee.
O saga O dia do juízo final, publicada em Fantastic Four 57 a
60 é um dos picos dessa dupla criativa.
Na trama eletrizante, o Doutor Destino rouba os poderes do Surfista Prateado e pretende usar esse poder para conquistar o planeta terra. Como uma criança fascinada com um presente de natal, ele percorre o mundo, transformando o dia em noite, tornando uma ilha tropical em um deserto congelado e convertendo um gorila numa fera assassina.
O Doutor Destino rouba os poderes do Surfista. |
Nesse meio tempo, ele se envolve em diversas escaramuças com
os membros do Quarteto Fantástico, que inevitavelmente saem derrotados. O
leitor sente que a ameaça é real, a maior já enfretada pelo grupo de
aventureiros desde que estes enfrentaram Galactus.
Para tornar a situação ainda mais tensa e eletrizante, uma
narrativa paralela mostra os Inumanos conseguindo finalmente se libertar da
prisão na qual estavam confinados – numa sequencia incrível em que descobrimos
finalmente porque Raio Negro nunca fala.
Isso de colocar tramas dentro de tramas era uma das razões do
sucesso do quarteto – e uma das dificuldades dos editores que pretendem
publicar apenas uma determinada saga: a fase de Stan Lee e Jack Kirby parece
uma grande saga dividida em que tudo se interliga.
O vilão se diverte testando seu poder. |
Curioso que nenhum outro personagem Marvel aparecesse para
ajudar na luta contra uma ameaça tão absurdamente poderosa. Essa era uma
característica do grupo: enfrentar ameaças muito mais poderosas que eles e
ainda assim vencer – geralmente graças a um plano engenhoso do senhor
fantástico. O grupo era, de fato, fantástico.
Aliás, os outros personagens Marvel fazem uma aparição na
história, mas de forma inusitada. Logo na primeira história, à certa altura o Coisa
está assistindo televisão e diz: “Ei, essa série dos super-heróis Marvel é
batuta! Mas, se quer saber, algumas das histórias são exageradas demais!”. Stan
lee misturando marketing e metalinguagem.
Em tempo: o nome da saga é Doomsday, um trocadilho com o nome
do vilão, Doctor Doom.
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