quinta-feira, março 31, 2022
Um erro de pronome
Muitos especialistas consideram a nossa época a era da comunicação. Assim, quem não sabe se comunicar corretamente, fica de fora de sintonia com o mundo e tem menos chances de conseguir um bom emprego. Uma ficha preenchida com erros de português certamente não ajuda a conseguir um bom emprego.
E, vejam bem, expressar-se bem não significa apenas escrever corretamente, de acordo com a gramática. Significa também dar fluência ao texto, torná-lo agradável e objetivo. Um relatório claro, sem erros ortográficos ou de pontuação, com frases curtas, tem mais chances de ser lido.
Entretanto, um bom conhecimento de nossa língua pode acabar influenciado até em nossa vida amorosa. É o que mostra o escritor Monteiro Lobato no conto “O Colocador de Pronomes” do livro Negrinha.
A história se passa em uma cidadezinha do interior. Havia ali um pobre moço que definhava de tédio no fundo do cartório. Era escrevente, mas gostava de ler e, pior, de escrever versos lacrimogêneos.
Tudo ia na santa paz até que o moço se apaixonou pela filha mais moça do Coronel da cidade, a Laurinda, linda flor de 17 anos. A filha mais velha, Do Carmo, era o encalhe da família. Já velha para casar, não conseguia bom ou mau partido. Também, pudera: era vesga, histérica, manca de uma perna e meio aluada. Se a mais nova era o ideal de beleza, a outra era feia até não poder mais.
Pois se apaixonou o pobre rapaz e, para extrema infelicidade, escreveu um bilhetinho à amada: “Anjo adorado. Amo-lhe”.
O Coronel, entretanto, interceptou o bilhetinho e chamou o seu autor:
- É seu? – disse, estendendo o papel para o rapaz.
- É... – gaguejou o rapaz.
- Pois agora... – ameaçou o vingativo pai... é casar!
O moço, que já se imaginava morto, ressuscitou. Casar com a filha do Coronel! A moça mais bonita de Itaoca!
O Coronel gritou lá para dentro:
- Do Carmo! Vem abraçar o seu noivo!
O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se de coragem, corrigiu o erro. O bilhete fora escrito para Laurinda...
- Sei onde trago o nariz, moço. – esbravejou o Coronel. Você mandou o bilhete à Laurinda dizendo que ama-lhe. Se amasse a ela, teria dito “amo-te”. Dizendo “amo-lhe”, declara que ama uma terceira pessoa, no caso a Do Carmo.
E, pacientemente, o velho explicou que os pronomes se dividem em três: de primeira pessoa, quem fala; de segunda pessoa, a quem se fala, e de terceira pessoa, de quem se fala. E o lhe é pronome de terceira pessoa.
Portanto, nada de dizer “amo-lhe” ou “convido-lhe”. Expressões com essas demonstram que se ama ou se está convidado uma terceira pessoa.
Quanto ao moço? Casou-se mesmo com a megera. Tudo por causa de um pronome...
Livro hiper-realidade e simulacro nos quadrinhos
Namor, o Príncipe Submarino
O processo de elaboração da capa do livro Cabanagem
Mas para chegar a esse resultado realmente fenomenal foi necessário todo um processo. Entenda quais foram os passos desse processo.
Essa é a versão colorida do último desenho. Ficou muito boa, mas foi necessário uma pequena mudança: o facão estava confundindo com o fundo e sugeri que fosse dado um brilho de metal nele, destacando sua lâmina.
Homem-aranha – A volta do Dr. Octopus
No número 11 da revista do Homem-aranha, Stan Lee E Steve Ditko trouxeram de volta um vilão que se tornaria um dos mais importantes do panteão do personagem e inauguraram algo que seria uma das marcas da série: a identidade secreta interferindo na vida amorosa de peter Parker.
A splash page inicial,
genial por sua capacidade narrativa, já dava o tom da história. Betty Brand
soca o peito do homem-aranha e diz: “Eu te odeio, Homem-aranha! Vou te odiar
até o dia da minha morte!”. A legenda, acondicionada dentro de um ponto de
interrogação: “Estará o Homem-aranha fadado a perder sua amada Betty Brand?
Como isso aconteceu e por quê?”. Ao fundo, a sombra do doutor Octopus estende
seus tentáculos sobre os dois. A legenda afirma no melhor estilo marqueteiro da
Marvel: “Ninguém a não ser Stan Lee, poderia ter escrito essa história épica!
Ninguém menos que Steve Ditko poderia ter desenhado cenas tão arrebatadoras”.
Uma aula narrativa numa única página.
Na história, o Dr. Octopus
termina de cumprir sua sentença e vai ser libertado. O Homem-aranha resolve
visitar o presídio para tentar convencer o diretor a não libertar o vilão, o
que mostra que Peter Parker poderia ser um gênio da ciência, mas não entendia
nada de direito.
Claro que o diretor não
aceita a sugestão e Parker resolve monitorar o vilão criando o rastreador
aranha, que aparece pela primeira vez nessa história, embora ainda não tivesse
esse nome.
Para provar que o Homem-aranha
era um personagem diferente até mesmo dos diferentões da Marvel, temos uma
situação inusitada: à certa altura, ele cai de mal jeito e machuca o tornozelo.
Quem poderia imaginar o Thor passando por algo semelhante?
quarta-feira, março 30, 2022
Cidade invisível
A primeira coisa que chama atenção em Cidade Invisível, série da Netflix criada por Carlos Saldanha (de A era do gelo), é a nítida semelhança com trabalhos de Neil Gaiman, como Sandman e Deuses Americanos, em que seres mitológicos e deuses vivem misturados com os humanos, como se fossem pessoas normais. Certamente não é uma coincidência, uma vez que a fonte é uma trama criada por Rafael Draccon, que certamente conhece o trabalho de Gaiman.
O que a série traz de inovador é explorar a mitologia brasileira, com sacis, curupira, iara, cuca e misturar isso com uma trama policial – em que alguém parece estar matando entidades.
O título cidade invisível tem dupla interpretação. Por um lado, remete aos seres míticos, invisíveis à maioria das pessoas. Mas por outro, remete à invisibilidade social. Todas as entidades são pessoas excluídas da sociedade, mendigos, moradores de favelas e cortiços.
Nesse sentido, um dos maiores méritos da série é a caracterização visual dos personagens. A Iara, por exemplo, tem um belo cabelo trançado que emula a cauda de uma sereia.
Outro grande mérito é provar que a mitologia nacional pode ser mostrada de maneira não-infantilizada em uma trama que flerta com o terror. Essa abordagem, aliás, parece ter funcionado, já que a série está entre as mais assistidas da Netflix.
Como aspecto negativo, o excesso de bifes, diálogos que parecem a maior parte do tempo não ter outra função que não seja explicar aspectos da trama ou do próprio universo da série para o expectador. Aliás, essa necessidade de explicar tudo é, certamente o maior defeito da série. Até mesmo a origem de seres como a Iara, a Cuca, o saci e o curupira e até do vilão e do protagonista são explicados, muitas vezes de maneira forçada para encaixar tudo numa trama coesa.
Kid Miracleman e a pós-verdade
Para alguns, Kid Miracleman era um herói. |
Os quadrinhos mostravam pessoas mortas e torturadas. |
O curioso é que, logo após esses eventos, surge um grupo que idolatra o Kid Miracleman. Para eles, ele era o verdadeiro herói e os crimes associados a ele pela mídia eram apenas invenções. Nem mesmo as milhares de fotos, vídeos e relatos de sobreviventes eram capazes de convencer esse grupo de que o Kid Miracleman era um vilão.
A história é uma metáfora do Moore para pessoas que se recusam a acreditar nas evidências, preferindo acreditar que a mídia, os relatos, os historiadores, as fotos são falsos e que suas convicções são verdadeiras.
Para o grupo que idolatra Kid Miracleman, o massacre é uma invenção da mídia. |
A arte impressionante de Jean Okada
Jean Okada é quadrinista e ilustrador desde o final dos anos 80, geralmente direcionado para publicações infantis e juvenis. Há muitos anos produz quadrinhos para empresas, enquanto segue em paralelo com trabalhos autorais, como os Exploradores do Desconhecido, em parceria com Gian Danton, as tiras do Jeanzinho, e mais recentemente as tiras do Homem-Grilo.
Cobra Norato de Augusto Morbach
Não existe pré-projeto de pesquisa
Maníaco da tesoura em Bocas Malditas
Matéria sobre a minha biblioteca
A jornalista Cássia Lima, do site Selles Nafes, fez uma matéria sobre a minha coleção de livros e quadrinhos. A matéria é de 2014 e de lá para cá a coleção aumentou muito, mas pela matéria dá para ter uma noção do que se encontra na minha biblioteca. Confira abaixo:
terça-feira, março 29, 2022
Cabanagem: uma continuação da Revolução Francesa
E não sobrou nenhum
Mórbido, maléfico e maldito
Depois de algum tempo, Eduardo (que na época assinava Luiz Eduardo) desapareceu. Assim foi uma alegria para mim ver um trabalho dele no FIQ. Trata-se do álbum Mórbido, maléfico & maldito. A revista é um tributo ao terror, um gênero infelizmente hoje pouco explorado.
Eduardo mistura monstros clássicos com ficção científica e monstros lovecraftianos, em narrativas sempre densas e desenhos impressionantes, com desejo sujo, repleto de sombras, como deve ser uma HQ de terror.
Antes de cada quadrinho, o autor faz uma capa fake e aqui vai minha única crítica ao álbum: essas capas simuladas são melhores do que a capa do álbum.
Pré-venda do livro Jornalismo em Quadrinhos
Meu livro Jornalismo em Quadrinhos está em pré-venda no valor de 11 reais com frete impresso sem registro. Interessados mandem um e-mail para profivancarlo@gmail.com.