Antes de começar, é importante avisar que este texto contém spoiller.
Eu me importo é um filme de J Blakeson com uma trama interessante. Um casal de golpistas em coluiu com uma médica descobrem velhos endinheirados, e, usando atestados falsos, conseguem judicialmente sua internação em uma clínica para idosos. Enquanto estão internados, todos os seus bens são vendidos para pagar o salário da cuidadora e as diárias da clínica. Mas o plano todo pode ir por água abaixo quando a quadrilha faz isso com a mãe do chefão da máfia russa.
Filmes sobre golpes são uma tradição em Hollywood e já geraram algumas obras-primas, como Golpe de Mestre, de George Roy Hill (1974). Nesses, os mocinhos conseguem empreender seus golpes apesar de todo o poder, força bruta e inteligência da outra parte. São filmes que trazem para o presente o velho mito de Davi contra Golias.
O grande problema de Eu me importo é justamente esse. Seria como se Golias fosse um gigante desastrado que socasse a própria cara sem querer – o que tornaria a vitória de Davi sem sentido.
No filme, a máfia russa é desastrosamente incompetente. Tudo, absolutamente tudo que é feito, é feito da pior maneira possível. O advogado que tenta tirar a velhinha do asilo nem mesmo pesquisa o caso com atenção. Posteriormente, quando as vias legais não funcionam, três mafiosos invadem o asilo e são detidos por um segurança – em uma sequencia vergonhosa, um dos mafiosos é notacauteado por um tudo de oxigênio.
A incompetência da máfia chega às raias do inverossímil quando conseguem prender uma das golpistas, simulam um acidente de carro e a protagonista, teoricamente bêbada, consegue sair do carro, nadar para fora do lago, andar até um posto de gasolina, comprar novas roupas, fazer um lanche, ligar para um taxi, esperar o taxi... e ainda assim chegar a tempo de salvar sua companheira da explosão do apartamento do casal.
Poderia até funcionar se fossem sequências de humor, mas em nenhum momento roteiro ou direção seguem por esse caminho. Não funciona sequer como humor involutário. A única sensação que eu tinha o tempo todo era pensar: “Como esse cara chegou a ser chefe da máfia russa?”.
Fico imaginando o que aconteceria com alguém que sequestrasse a mãe do Rei do Crime de Frank Miller.
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