A segunda saga de Alan Moore no Monstro do Pântano, publicada em Swamp Thing 25, 26 e 27 , é uma verdadeira aula de roteiro para ser lida e relida. Na história, um casal compra um jogo de ouija e sem querer, invoca um demônio, o Rei Macaco, que mata os dois, mas toma o filho deles como mestre – a contragosto do garoto, que é internado em uma clínica para autistas severos. O demônio Etrigan vai ao local resolver a situação e punir o demônio fujão, mas o Monstro do Pântano e Abe também são envolvidos na trama e precisam salvar as crianças. Alan Moore conta que quando foi escrever essa história, andou pela casa como um corcunda se imaginando um demônio.
Esse exercício de imersão pode ser percebido já na primeira página. Jason Blood chega de ônibus na rodoviária de Baton Rouge e o homem que estava sentado ao seu lado lhe entrega um cartão. “Sinto muito, sr. Price, mas não tenho o menor uso para seu cartão”. “Nunca se sabe”, responde o outro. “Eu sei. Sei que, doze anos atrás, saiu bêbado e bateu o carro. Você não se machucou e saiu andando, mas sua mulher anda só de cadeira de rodas até hoje. No momento você tem cinco namoradinhas e não se preocupa em escondê-las de sua esposa, mesmo sabendo o quanto isso a faz sofrer... e às 17h32 você será empalado por um peixe-espada. Então, como pode ver, seu cartão de nada me serviria”.
É incrível como tendo escrito apenas uma história com Etrigan, Moore tenha captado o personagem melhor do que a maioria dos outros autores que o escreveram. Está tudo ali, incluindo o fato de que o demônio está ganhando a luta contra o humano e, como tal, não se nega o prazer de fazer algumas pequenas maldades.Outro aspecto é como há uma unidade no texto, como se cada palavra fosse pensada como um um todo e não apenas para um quadro ou legenda. À certa altura, por exemplo, o Monstro do Pântano se pergunta: O que mais vem com o outono. Muitas páginas depois vem a resposta: o medo, é o medo que vem junto com o outono.
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