terça-feira, abril 04, 2023

A morte de Groo

 


O ano era 1990 e eu andava encantando com quadrinhos que estavam revolucionando os quadrinhos: Cavaleiro das trevas, de Frank Miller, Monstro do Pântano e Watchmen, de Alan Moore, Sandman, de Neil Gaiman. Eu tinha lido muitos quadrinhos humorísticos quando era mais jovem, em especial a revista dos trapalhões da Bloch e a revista MAD. Mas esses textos pareciam ter ficado para trás. Agora eu estava interessado em obras mais densas.

Foi quando caiu em minhas mãos o número 14 da coleção Graphic Novel, intitulado A morte de Groo, com desenhos de Sérgio Araganés e diálogos de Mark Evanier. E fiquei impressionado.


A sequência inicial é hilariante. 


Infelizmente a revista se perdeu em uma das muitas mudanças e só recentemente consegui um novo exemplar.

Depois daquele primeiro contato com Groo eu conseguira alguns exemplares da revista periódica e números especiais – e percebi que Aragonés é sempre muito bom.Mas aquela edição em específico resisitiria ao tempo?

Um equívoco faz com que todos pensem que Groo morreu. 


A resposta é sim.

Recentemente consegui um exemplar em um sebo virtual e, relendo, percebi que a história é impressionante desde a primeira sequência, em que um camponês encontra o que acha ser uma minhoca no meio do campo e a corta, apenas para descobrir que se tratava da ponta do rabo de um dragão. O texto de Evanier, mimetizando a poesia dos trovadores antigos, é primoroso: “Com velocidade mais do que exemplar/, o camponês de nome Bacelar/foi fatiado sem emitir um urro/ sofrendo o destino/ de todo homem burro”. E vemos uma splah page sensacional, com o dragão furioso observando o homem que brande a cauda cortada como um troféu.

O quadro mudo como humor. 


Uma lição valiosa do álbum é o uso extremamente inteligente de quadros mudos como forma de humor. Na sequência do funeral, o padre abre o pútito para que falem os amigos de Groo. E vemos dois quadros mudos, apenas com o púpito. O padre volta e diz: “Agora ouçamos aqueles que não odeiam groo” e novamente dois quadros mudos. Então o padre chama os que odeiam Groo, e o local fica lotado de pessoas disputando para falar.

Toda vez que Groo entra num navio, ele afunda. 


Em outra sequência (que me impressionou muito na época) um jovem pergunta ao Sábio como se poderia saber que as cinzas dentro do navio funerário eram realmente de groo e vemos três quadro: o navio saindo do porto, os marinheiros pulando no mar, o navio afundando. No quarto quadro, o sábio diz: “Mais alguma pergunta?”. Na época eu não conhecia o personagem e não sabia que sempre que Groo entra num navio ele afunda, mas mesmo assim, a cena era hilária.

Ao tentar fazer papel de vilão, Groo torna-se um herói. 


E a história continua, com Groo participando das comemorações de sua própria morte. Ao perceber que todos o odeiam, arquiteta um plano para ser querido: simular um bandido que aterrorizaria a cidade e seria detido pelo Groo. Mas como tudo que Groo faz, ele faz errado, ao invés de se tornar um vilão, ele se torna um herói, impedindo, por exemplo, que um ladrão roube o tesouro real.

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