quarta-feira, janeiro 31, 2024
MAD: Big Barraco Brasil
Quadrinhos hiper-reais na revista Nós
A revista Nós, da Universidade Estadual de Goiás, dedicou um de seus números mais recentes aos quadrinhos. Entre vários artigos de alguns dos principais pesquisadores de quadrinhos do Brasil, um texto meu sobre a hiper-realidade e simulacro nos quadrinhos do Capitão Gralha.
Para acessar a revista, clique aqui.
Jornada nas estrelas - Os anos mortais
Eu acredito que a melhor ficção científica prescinde de grandes orçamentos e efeitos especiais. Exemplo disso é o episódio os “Anos mortais” da segunda temporada de jornada nas estrelas.
Na trama, um grupo de tripulantes desce em planeta para um visita de rotina. Mas o que encontram é aterrador: todos os habitantes do local morreram ou estão morrendo de velhice. Um casal de sobreviventes tinha menos de 20 anos, mas aparentam mais de 90. Ao voltarem para a Enterprise, a doença degenerativa começa a acometer os tripulantes, entre ele o trio Kirk, Spock e McCoy. Para piorar ainda mais a situação, um comodoro, que está sendo transportado para uma estação espacial, assume o comando, alegando que Kirk não tem condições de comandar a nave, o que coloca a Enterprise na rota de naves romulanas.
É um episódio praticamente sem cenários externos e cujo único efeito é a maquiagem nós atores. Mesmo assim, tudo funciona a começar pelo conceito, que aborda um perigo real da exploração espacial. Se na própria terra já são muitas as doenças que surgem ou ressurgem, imagem no espaço.
Além disso,o dilema moral da tripulação, tendo que depor em uma audiência que todos sabem que terminará com o capitão deposto de seu cargo - e todos tentando, sem sucesso, evitar o inevitável. Leonard Linoy leva esse dilema ao seu extremo, pois atua como promotor.
Em sua canastrice inspirada, Kirk consegue repassar a luta do capitão contra a degeneração mental e vai ao outro extremo quando finalmente consegue salvar a nave.
Odisséia em quadrinhos
Saber em quadrinhos: pesquisas, práticas e produção de conhecimento
Uma obra multidisciplinar que dialoga com várias áreas do conhecimento e que traz novas perspectivas sobre a pesquisa e o uso dos quadrinhos. O lançamento foi realizado no canal da ASPAS no Youtube, em uma conversa como os organizadores. O video pode ser acessado clicando aqui!
Os dois volumes da obra podem ser adquirido gratuitamente em formato pdf.
No volume dois encontra-se um artigo meu sobre a Jornada do horror.
Confira as duas publicações clicando aqui!
A arte impressionante de Dave Gibbons
Os mini posteres da Abril
Em 1985 a editora Abril encartou nas suas revistas da DC e da Marvel uma série de mini posteres com alguns dos personagens publicados pela editora na sua linha de super-heróis. Com um fundo prateado, esses mini posteres se tornaram item de colecionador.
Algumas curiosidades:
- Há dois posteres com desenhos de Garcia-Lopez, um do Super-homem e outro da Liga da Justiça. Há dois posteres com desenhos de Mike Zeck, do Capitão América e do Mestre do Kung Fu, o que demostra que Zeck e Garcia-Lopez eram os desenhistas mais populares da época.
- Aparecem nos posteres pesos pesados da Marvel, como Homem-aranha e Hulk. Mas um personagem hoje pouco conhecido, o Mestre do Kung Fu também teve direito a um posteres apenas dele. Reflexo do sucesso do personagem na época e do bom trabalho da Abril com personagens secundários da Marvel.
O caso da borboleta Atíria
Lúcia Machado de Almeida foi uma das mais inventivas escritoras da coleção Vaga-Lume. Em O caso da borboleta Atíria, por exemplo, ela construiu toda uma trama policial que se passava no mundo dos insetos.
A história inicia com o nascimento da protagonista, Atíria e
já nesse ponto fica claro o estilo da autora, que escrevia como se tivesse
falando diretamente com o leitor: “Atenção! Eis que a crisálida começou a
mexer-se... rompeu-se... e, pouco a pouco, veio surgindo lá dentro uma pequena borboleta”.
Atíria, apesar da beleza de da boa índole, era defeituosa,
tinha nascido com desvio qualquer nas asas. “E não havia jeito. A vida inteira
ficaria assim, sem poder ir longe, sem aguentar viagens longas”. Esse problema
anatômico, que à primeira vista parece ser apenas uma caracterização da
personagem, é aproveitado pela autora na história.
A trama gira em torno do príncipe Grilo, cuja noiva, Helicônia,
é morta logo no início do livro. Mais à frente, outra noiva é também morta. Quem
investiga o caso é o senhor Papílio, também uma borboleta, que o ilustrador
Milton Rodrigues Alves representa como se fosse um Sherlock Holmes, inclusive
com o chapéu característico.
A trama de investigação policial é quase ingênua. À certa
altura, por exemplo, Papilo decifra quem está matando abelhas e a resolução
acontece quase por acaso, quando ele se depara com borletas se fazendo passar
por abelhas. A resolução do caso principal também se deve principalmente à coincidência
uma vez que o detetive, protegendo-se de um violento vento, acaba ouvindo uma
conversa entre os vilões.
Mas, apesar dessa simplicidade, o livro encanta
principalmente pela preocupação de Lúcia Machado de Almeida em pesquisar o
mundo dos insetos e adaptar isso para sua trama. A pesquisa aparece no final do
livro, quando ela coloca uma bibliografia das obras consultadas, mas também, e
principalmente, nas notas de rodapé, nas quais ela apresenta o nome científico
e outras curiosidades sobre as espécies citadas.
A autora chega, inclusive, justificar algumas liberdades poéticas.
À certa altura, por exemplo, ela fala da Dona Cigarra, famosa soprano-ligeiro do bosque. Uma nota de
rodapé esclarece: “Somente os machos das cigarras cantam. Que o leitor perdoe
minha inexatidão”.
O caso da borboleta Atíria se tornou, assim, uma ótima obra
de divulgação científica. Muitos dos leitores que se encantaram com a história
se interessaram em aprofundar e assunto e se tornaram cientistas. Um deles
inclusive chegou a fazer uma postagem no blog sobre cada um dos insetos citados
na obra: http://bibocaambiental.blogspot.com/2017/09/a-verdadeira-fauna-do-livro-o-caso-da.html?m=1.
terça-feira, janeiro 30, 2024
Esquadrão Atari
A invenção da imprensa
Van Gogh - Quarto em Arles
O demônio da mão de vidro
Beach Babe
A origem de Beach Babe está na HQ O Farol, publicada em uma das muitas revistas eróticas da editora Nova Sampa. Quando Bené se tornou um desenhista famoso nos EUA um agente teve a ideia de oferecer essa e outra história (Blood Road) para a editora Phantagraphics, dos EUA, que lançou ambas em revistas solo no selo Eros Comics no ano de 1995.
Na
trama um casal vai para uma praia deserta e descobre o que parece ser um farol
abandonado. Mas na verdade trata-se de uma nave espacial cujo objetivo é
coletar informações sobre os habitantes da Terra. E a primeira informação que
eles coletam é sobre prazer: o casal se separa e mulher encontra com um
homem belíssimo e acabam fazendo sexo
(embora não seja mostrado, o homem também encontra uma mulher belíssima).
O casal descobre um farol, mas na verdade trata-se de uma nave espacial.
No
final, uma narrativa da nave diz que os androides recolheram informações sobre
o prazer, mas falta a sensação de dor... e os personagens são retalhados.
Essa
história foi publicada, mas gerou uma carta do editor Franco de Rosa na qual
ele pedia, por favor, que nós não matássemos os personagens nos finais das
histórias.
O desafio era expressar com o texto o sentimento da personagem.
Embora
a trama fosse simplória, quase uma desculpa para cenas de sexo (afinal, era uma
revista erótica, lembram?), eu gosto particularmente do texto, inclusive nas
sequências eróticas, na qual eu usei e abusei de metáforas náuticas. Nesse sentido, o desenho do Bené criava um
desafio, pois a narrativa visual era muito eficiente, contando a história
praticamente sozinha. A forma de tornar o texto relevante era explorar aspectos
que a imagem não conseguia mostrar.
A história tinha um toque de humor ácido.
O
quadro que mostra a moça vendo o androide é um exemplo de como usar o texto
para mostrar a percepção dos personagens indo além do que o desenho podia
mostrar: “Eu o vejo. Milhares de lampejos minúsculos se elevando... fazendo
espirais... e se inclinando em queda livre rumo ao chão”.
Black Mirror: Bandersnatch
segunda-feira, janeiro 29, 2024
Mashup: quanto mais misturado, melhor
Dez dicas para roteiristas de quadrinhos
1 - Não leia só quadrinhos. Um bom roteirista de quadrinhos lê de tudo: livros, revistas, jornais etc.
2 - Não leia só quadrinho americano ou japonês. Argentina, Inglaterra, França, Itália e Brasil são países que produzem ótimas HQs, que você deve conhecer.
3 - Sempre pesquise. Se sua história é sobre um advogado, pesquise livros jurídicos, pesquise sobre como funciona a justiça. Se for sobre o Egito, procure livros de história.
4 - Não tente contar a história do universo. Comece com histórias curtas.
5 - Faça com que seu roteiro seja agradável para o desenhista. Se for necessário contar uma piada para que a leitura do roteiro seja mais agradável, conte.
6 - Imagine a cena visualmente antes de escrevê-la. Se houver mais de uma ação, divida em mais de um quadrinho.
7 - Produza. Seu texto só vai melhorar se você produzir continuamente.
8 - Use como referência grandes roteiristas, mas aos poucos busque estabelecer um estilo próprio.
9 - Não seja um colonizado. Esqueça Nova York. Faça histórias sobre sua realidade. Se o leitor viver a mesma realidade que você, a identificação será mais fácil.
10 - Seja objetivo. Não encha os balões de texto desnecessário. Nunca diga com o texto algo que o desenho já está dizendo.
Pacto de sangue
Billy Wilder é um diretor que nunca fez um filme ruim e que tem obras-primas nos mais variados gêneros: uma das melhores comédias de todos os tempos (Quanto mais quente, melhor), um ótimo filme de tribunal (Testemunha de acusação), um drama antológico (Crepúsculo dos deuses), um dos melhores filmes sobre jornalismo (A montanha dos sete abutres),o melhor filme sobre o alcolismo (Farrapo humano) e um dos grandes filmes noir.
Esse último é representado por Pacto de sangue,
escrito por Wilder em parceria com Raymond Chandler, um dos mestres do gênero.
O filme, de 1944, conta a história de um
corretor de seguros que é seduzido por uma linda mulher para matar o marido
dela no que deveria parecer um acidente de trem, possibilitando a ela ganhar
uma pequena fortuna para a época (100 mil dólares). O filme se sustenta no
suspense sobre se os dois serão descobertos ou não, mas tem muitos outros
atrativos. Entre eles os diálogos rápidos, cortantes, cheios de duplo sentido
(o que, aliás, é um problema para que assiste a uma versão legendada - os
diálogos são tão rápidos que às vezes é difícil acompanhá-los).
Também merece destaque o início, genial: o
personagem Walter Neff chega ao escritório da companhia de seguros e começa a
gravar uma confisssão. O espectador passa boa parte do filme imaginando porque
dessa confissão. Ou seja: somos fisgados desde o primeiro minuto.