quinta-feira, fevereiro 22, 2024

O Eternauta: o clássico absoluto dos quadrinhos argentinos

 

O Eternauta é uma das mais famosas histórias em quadrinhos argentinas, escrita por Hector Oesterheld e desenhada por Francisco Solano López. Segundo Paulo Ramos (autor do livro Bienvenido, sobre quadrinhos argentinos), o personagem é uma das figuras míticas nacionais, ao lado de Carlos Gardel, Evita Perón e Che Guevara.
A série surgiu em 1957, quando, decidido a lançar uma revista seriada semanal, o roteirista indagou de um dos principais desenhistas de sua editora que tipo de quadrinhos gostaria de fazer, ao que López respondeu que preferia fazer algum tipo de ficção científica realista.
Oesteherld escreveu em decorrência de seu fascínio pela história de Robison Crusue, personagem que, após um naufrágio, se vê sozinho em uma ilha deserta.
Paradoxalmente, o Eternauta quase nunca está só. Embora a história refletisse sobre a solidão do homem preso, cercado não mais pelo mar, mas pela morte, a verdade é que o protagonista sempre está acompanhado de família, amigos. Ele é um herói coletivo, que não age sozinho.
A estreia aconteceu na primeira semana de 1957, no suplemento Hora Cero Semanal. Era a terceira revista publicada pela editora criada por Oesterhedl em sociedade com o irmão, Jorge Mora.
Semana a semana, a história foi evoluindo, mistérios aumentando, personagens aparecendo e se mostrando tridimensionais, a exemplo dos Mãos, usados pelos invasores para coordenar as ações dos alienígenas. E, a cada semana, foi ganhando mais leitores.
Em 1969, a convite da revista Gente, Oesterheld reescreveu a trama numa perspectiva mais adulta e politizada (nessa versão, os países de Primeiro Mundo entregam a América Latina aos invadores, o que explica a invasão a Buenos Aires) e com desenhos de Alberto Breccia. Essa versão foi mal-recebida pelo público e pelos editores, que reclamavam sobretudo do desenho pouco convencional de Breccia – e o roteirista foi obrigado a abreviar o roteiro, apressando a ação para que a história terminasse. 
Em 1976 foi lançado um álbum com a primeira versão, que teve ótima aceitação, o que levou a editora Record a encomendar para o roteirista e para o desenhista original uma continuação da história. O Eternauta II foi publicado em capítulos mensais a partir de dezembro de 1976 e finalizado em abril de 1978. O roteirista não chegou a ver essa versão impressa, pois foi preso pela ditadura argentina em abril de 1977. Provavelmente morreu na prisão, assim como suas quatro filhas, duas delas grávidas.
O Eternauta se tornou um dos símbolos do país. Exemplo dessa importância cultural foi a polêmica, em 2011, quando a campanha da candidata Cristina Kirchner mostrou o ex-presidente Nestor Kirchner caracterizado como o Eternauta, com a roupa isolante e o óculos de mergulho, chamando-o de Nestornauta. A oposição questionou o uso político de um dos símbolos nacionais e a polêmica gerou diversas matérias na imprensa argentina e até no Brasil.

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