sábado, março 23, 2024

Ken Parker - A balada de Pat O´Shane

 


No meio de Ken Parker, uma série repleta de obras-primas, uma delas se destaca: “A balada de Pat O´Shane”, publicada no número 12 da revista.
Os méritos da história são tantos que é difícil destacá-los, mas sem dúvida um elemento que chama a atenção é o fato de Ken Parker, o personagem principal da série é aqui praticamente um coadjuvante da carismática Pat (nesse sentido, a série ecoa, e muito Spirit, de Will Eisner).
Berardi compôs de fato uma música para o volume. 


Na história, Pat está chegando na cidade em que Ken está sendo julgado por equívoco como sendo um criminoso famoso. Nesse meio tempo, o irmão da garota é morto, seu dinheiro roubado e a menina decide soltar o “perigoso” criminoso com a promessa de ajudá-la a se vingar e conseguir o dinheiro de volta.
Pat é uma figura: sua idade muda de acordo com a conveniência (e quem disser o contrário é um mentiroso ou um depravado) e ela vive num mundo de sonhos. É Berardi mostrando porque a série ficaria conhecida como um faroeste demasiado humano.
O carisma da personagem conquista o leitor desde os primeiros momentos. 


Não bastasse o carisma da personagem, Berardi inova ao fazer a HQ a partir de uma balada (um tipo de música), que, aliás, aparece na íntegra no início do volume. 
Se Berardi mostra nessa história porque é um dos melhores roteiristas de todos os tempos, seu parceiro, Milazzo, mostra o quanto é bom na narrativa gráfica. Um dos seus truques é não colocar cenários em cenas chave, destacando a ação ou os personagens. Há uma sequência genial, na página 98, em que Pat e Parker dormem um do lado do outro. É uma sequência de três quadros, sem cenários: na primeira, a menina se deita ao lado do cowboy, na segunda estão deitados, na terceira dormindo e a imagem os mostra cada vez menores. A sintonia entre os parceiros era tão grande que o texto de Berardi vai diminuindo, até o quadrinho final, mudo, com os dois dormindo.
A sintonia entre o desenho e o roteiro. 


“A balada de Pat O´Shane” é uma mistura de humor, policial, mas principalmente é uma HQ que mostra o quanto uma HQ de faroeste pode ser sensível nas mãos certas.

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