quarta-feira, maio 22, 2024

Demolidor – o arauto da morte

 


Até o final da década de 1970 o Demolidor era um dos personagens da Marvel que pareciam que nunca iam decolar. O personagem já passara por várias fases: do herói galhofeiro da fase Stan Lee a parceiro da Viúva Negra na fase de Gerry Conway. Mas nada conseguia alavancar as vendas que iam tão mal que o título passou a bimestral. A razão disso parecia estar ligada ao fato de que o herói não parecia ter uma identidade própria, que o distinguisse dos outros personagens da Marvel. Isso só iria mudar em 1979, quando um jovem talento foi agregado ao título. Seu nome? Frank Miller.

Miller estreou em Daredevil 158, de maio de 1979.

A história em questão era uma continuação do número anterior, com plot de Roger McKenzie, texto de Mary Jo Duffy e desenhos de Gene Colan e Klaus Jason (imaginem a responsabilidade de Miller ao substituir Colan!). Nessa história o Demolidor enfrentava o Araúto da Morte, que depois mandava os Homens-animais para sequestrarem Matt Murdock.

Miller foi anunciado com grande alarde. 


A história do numero 158 começa no escritório de advocacia: o local está destruído, com uma mesa derrubada, papeis espalhados, Foggy Nelson caído no chão, a Viúva Negra enxugando o sangue que escorre de sua boca enquanto os Homens-animais tentam capturar o advogado cego. A cena é construída de modo que não vemos o que está acontecendo de fato (a tentativa de sequestro), mas apenas suas consequências e já ali tinha um pouco da genialidade de Miller.

Os editores pareciam adivinhar o futuro, pois anunciaram Miller com todas as honras. Num grande balão de splash, toda a equipe criativa dá boas-vindas à chegada daquele que é anunciado como desenhista sensação. Talvez fosse apenas mais uma daquelas jogadas de marketing que Stan Lee usava tanto, mas com hoje em dia parece profético.

Miller inovou ao mostrar o radar do herói. 



Os antagonistas não são nem de longe relevantes (tanto que um deles, o Homem-pássaro, é derrubado por um objeto jogado pela secretária de Matt Murdock). Embora o vilão principal, o tal do Arauto da Morte, fosse um adversário perigoso, era apenas mais um dos muitos vilões da Marvel. 

Miller dava um show nas sequências de ação. 


O que faz com que essa trama insossa ganhe relevância é a narrativa de Miller, em especial quando começa o confronto entre herói e antagonista. Na primeira página dessa sequencia, Matt Murdock se transforma em demolidor em cinco quadros que são um exemplo perfeito de como miller era um narrador nato que sabia usar muito bem ângulos e planos. Na mesma página vemos também a solução gráfica de Miller para o radar, com círculos concêntricos  que funcionam perfeitamente.   

Uma história boba, que com o tempo seria vista como um clássico.

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