Um sábio já dizia que escrever é cortar palavras. Em nenhum outro gênero textual isso é tão verdadeiro quanto nos roteiros para quadrinhos.
Quadrinhos são a arte da síntese. Escrever muito
com pouquíssimas palavras. Tanto que muitos escritores que se aventuraram a
produzir quadrinhos deram com os burros n´água.
Um dos poucos que fizeram obras-primas foi Paulo
Leminiski. No começo dos anos 1980, ele escreveu algumas histórias para a
editora Grafipar, de Curitiba e, mesmo poucas, entraram para a história dos
quadrinhos nacionais. A razão é que Leminski vinha da publicidade, em que a
síntese é essencial, e foi muito influenciado pela poesia hai-kai, também muito
sintética, além de intimamente relacionada à imagem. Em outras palavras, quando
foi para os quadrinhos, o poeta sabia que quadrinhos não são literatura.
Um exercício interessante é observar a evolução
do texto de Stan Lee ao longo de histórias como as do Quarteto Fantástico. Nas
primeiras HQs o texto parecia transbordar dos balões. Depois foram diminuindo,
diminuindo e, ao mesmo tempo, tornaram-se mais poéticos, mas sensíveis. Ou
seja: ao mesmo tempo em que os textos diminuíam de tamanho, iam ficando mais
elaborados.
Quando comecei a escrever quadrinhos, eu logo
descobri algumas dicas básicas: evita-se, por exemplo, orações subordinadas e
frases que digam o que o leitor está vendo. Por que dizer “Flash, que corria
velozmente, salvou a moça!”? Além de contar algo que o leitor já está vendo, o
“que corria velozmente” só serve para entulhar o balão de texto. Além disso,
nos quadrinhos, uma única palavra pode dizer muito.
A história Orquídea Negra, de Neil Gaiman mostra
bem isso. Em uma sequência genial, o texto diz apenas: “Então o sonho me leva
para longe... e/uma/vez/mais/eu/desco/ca/in/do”. Difícil não se sensibilizar
com a beleza poética dessa sequência, em que o texto se une perfeitamente aos
quadrinhos. Aliás, essa sequência lembra muito a poesia concreta, um movimento
literário brasileiro que influenciou muito, adivinhem? Paulo Leminski.
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