Eu fui para Curitiba de ônibus, em maio de 1994, levando tudo
que podia em uma enorme caixa de papelão que pesava mais do que eu. Ia ali
dentro livros, quadrinhos e minha máquina de escrever Remington.
Quando paramos pela primeira vez no Paraná fiz questão de
descer e ver os jornais, que ficavam presos em varais ao lado de uma banca de
revistas. Fui andando pelos jornais, até parar na frente da Folha de Londrina. Era como se eu pudesse ouvir alguém me
dizendo: “Você vai trabalhar nesse jornal”.
Folha de Londrina foi um dos últimos
jornais que visitei, pois ficava afastado, no Centro Cívico de Curitiba e eu
tive dificuldade de descobrir como se chegava lá. Fui com uma pasta debaixo do
braço, com todas as matérias que eu tinha publicado nos jornais de Belém.
Tempos depois eu descobri que fui atendido porque o editor
ficou curioso com a minha audácia.
Ao ser informado pela secretária que alguém queria falar com
ele, o editor retrucou que estava muito ocupado.
- Pergunte da parte de quem.
Poucos minutos depois a secretária voltou.
- Perguntou da parte de quem?
- Sim, ele disse que da parte dele mesmo.
A resposta foi tão ousada e inusitada que ele resolveu
conhecer o engraçadinho. Coincidentemente, eles estavam de fato precisando de
jornalistas para a filial de Curitiba.
Apesar de ser um jornal de interior, a Folha de Londrina era um jornal descolado, principalmente se
comparado ao jornal da capital, a Gazeta do Povo, até hoje um jornal ultra-conservador. Esse conservadorismo da Gazeta se refletia até mesmo na diagramação pesada e
nos textos com parágrafos grandes, pesados. Ao contrário, a Folha de Londrina era um jornal leve, divertido, com uma
diagramação bonita, textos menores, parágrafos curtos. Para melhorar, a Folha anunciava na rádio que ouvia, uma rádio rock e
seu slogan brincava com o fato de não ser um jornal de Curitiba: “Porque
inteligência é capital”.
O editor resolveu fazer um teste comigo e o teste foi
exatamente fazer uma matéria sobre um grupo de quadrinistas que estava surgindo
em Curitiba e fazendo sua primeira exposição. Era o Núcleo de Quadrinhos de
Curitiba.
(Trecho do meu livro A árvore das ideias. Clique aqui para baixar gratuitamente.
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