Eu cheguei em Curitiba no outono, numa época de temperaturas medianas, por isso não me preocupei em comprar roupas de frio – até porque todo mundo dizia que só faria frio mesmo meses depois. Pouco depois fui para Minas Gerais visitar minha avó e, sem saber, passei todo o inverno lá. Quando voltei, a temperatura estava novamente amena, nada mais frio do que eu já estava acostumado em Minas.
Entretanto, no dia em que fui fazer a cobertura da primeira exposição do Núcelo de Quadrinhos o tempo mudou e fez um frio congelante, provavelmente o dia mais frio do ano.
Antonio Eder, tempos depois, me disse que circulou uma piada no Núcleo segundo a qual a Folha de Londrina pagava tão mal seus colaboradores que eles não tinham dinheiro nem para comprar agasalhos. Eu não estava usando nem mesmo meia (em Belém, na época, a moda era não usar meia, provavelmente por conta do calor).
Apesar desse imprevisto, o editor elogiou muito o texto e acabei ganhando a vaga. Também foi quando fiz alguns grandes amigos, a exemplo do próprio Antonio Eder.
Foi na Folha de Londrina que senti, pela primeira vez, o preconceito por ser do Norte. Já na segunda semana, o editor me passou um release sobre uma exposição a respeito da Revolução Federalista com a recomendação de que eu fizesse uma nota. Eu argumentei com ele que aquilo dava uma matéria.
- Mas não temos um carro para te levar lá. Todos os nossos carros estão ocupados com outras matérias.
- Não é problema. A exposição está acontecendo no Palacete do Barão é caminho para o local em que pego ônibus para voltar para casa.
Diante desse argumento ele concordou, meio desconfiado de que aquilo poderia de fato render uma matéria.
No final, o texto ficou tão bom, tão cheio de curiosidades históricas, que o editor em Londrina resolveu colocar como capa do Caderno de Cultura. Hoje é difícil entender a importância de emplacar uma capa de caderno, mas na época isso era um grande feito. Ainda mais pelo fato de estar apenas há duas semanas no jornal e por não trabalhar na sede (a maioria das capas era de matérias da redação de Londrina).
Isso gerou uma onda de ciúmes por parte de algumas pessoas.
- Esse pessoal vem lá do Norte querer nos ensinar a fazer jornalismo. – comentou alguém, como se fosse uma confidência para um colega, mas alto o bastante para que eu pudesse ouvir.
Qualquer que fosse a opinião de alguns na redação, isso não influenciou a opinião do Lobão, o editor, que percebeu que eu era bom de matérias históricas e começou a me passar todas as pautas desse tipo.
(Trecho do meu livro A árvore das ideias - clique aqui para baixar)
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