segunda-feira, setembro 02, 2024

Autismo



Eu nunca tinha pensado em mim como autista, até que meu neto começou a ter algumas crises inexplicáveis. Do nada, ele começava a fazer algo que parecia uma birra, mas não tinha uma razão de ser. Conversando com uma aluna que era voluntária em uma associação de autistas, ela comentou que ele poderia ser autista. Como resultado, comecei a ler e pesquisar sobre autismo – e quanto mais eu lia, mais eu via em mim características de autismo, aliás, muito mais do que no meu neto.

Algumas das minhas lembranças mais antigas já mostravam indícios de autismo.

Em uma delas, por exemplo, eu estou viajando com minha avó de trem e não consigo prestar atenção à paisagem porque estou muito incomodado com a roupa de frio. Eu tenho muita sensibilidade na pele, o tecido da roupa sempre me incomodou, mas quando a roupa é apertada é quase insuportável. Essa é a razão pela qual sempre usei roupas muito largas, o que inclusive gerou aquelas imagens engraçadas em que estou ao lado do Bené e pareço estar usando a camisa de uma pessoa duas vezes maior.

Também tenho muita sensibilidade a sons. Sons altos não são apenas irritantes. São insuportáveis. Dor de cabeça, irritação, dificuldade de pensar, tontura. Pessoas neurotípicas podem achar que é simplesmente uma frescura, mas para um autista estar em um local com som alto equivale a uma tortura, o que muitas vezes pode até gerar crises equivalentes à epilepsia.

Outra característica que já devia ter levantado um alerta, caso eu já conhecesse sobre autismo é o hiper-foco.  Eu sou do tipo que, quando começo a fazer algo, faço só aquilo. Eu ficava impressionado com a minha esposa, que era professora de Inglês e Filosofia e que conseguia preparar aulas das duas disciplinas na mesma manhã. Eu, quando começo a preparar aulas de uma disciplina, chego a passar uma semana ou até mesmo um mês e dificilmente consigo trocar para outra enquanto estou focado em uma.

(Trecho do livro A árvore das ideias. Para baixar, clique aqui)  




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