Atualmente estima-se que cerca de 1% da população mundial esteja dentro do espectro autista. Até meados da década de 1970 esse transtorno era praticamente desconhecido e normalmente visto como causados por “mães geladeiras”, que rejeitavam a existência do filho. Hoje em dia, o desenvolvimento da neurociência permitiriu descobrir que autismo é provocado por uma série de fatores genéticos e ambientais. Ainda assim, muitos mitos e lugares-comuns ainda persistem e fazem com que pediatras, professores e psicólogos demorem para identificar os sinais, postergando o diagnótico e as intervenções.
É para tentar preencher esse vácuo de informações que Luciana e Clay Brites escreveram Mentes únicas. O casal tem uma história diretamente ligada ao assunto. Ele é neurologista infantil especializado em autismo. Ela é especialista em educação especial.
Essa característica do casal de autores traz para o livro muitas qualidades e alguns problemas.
O principal problema é que o livro não fala sobre autismo em adultos – ou mesmo em adolescentes. Ele é todo focado em crianças dentro do espectro. É quase um manual para pais lidarem com a situação. Para quem busca isso é um livro muito interessante, embora em alguns momentos a linguagem seja um pouco técnica.
O livro inicia fazendo uma verdadeira revisão histórica sobre o assunto, desde Eugen Bleuler, que em 1912 cunhou o termo ao se referir aos pacientes que tinham condições de isolamento tão severas que ficavam totalmente internalizados em si mesmos. O que Bleuler descreveu foram provavelmente casos de autismo severo, ou clássico. Com o tempo a ciência descobriu que havia todo um espectro, com sintomas mais ou menos severos. Descobriu-se também que o autismo tem relação direta do a arquitetura do cérebro, responsável por armazenar, processar e limpar o lixo: “No cérebro do autista, essa arquitetura se encontra desorganizada e apresenta uma modelagem anormal, impedindo que o funcionamento seja pleno. As pontes, as ligações e as ramificações se encontram incompletas, desviadas, ora ativadas, ora desligadas, com conexões que se encontram ora perdidas, ora sobrecarregadas”.
Há um capítulo só de relatos de casos atendidos pelo casal. Desde a mãe que se recusava a aceitar que o filho fosse autista, mesmo ele tendo sintomas de autismo severo, até o professor que indicou a mãe a levar no neuro em decorrência de comportamentos observados em sala de aula.
Há também um capítulo sobre tipos de tratamentos e sobre o tipo de especialista que se deve procurar.
Mas para os pais que começam a observar sinais de autismo em seu filho, o capítulo mais interessante provavelmente será aquele que descreve os sintomas. Os autores explicam que existem sintomas principais e secundários. De forma resumida, os principais são a inadequada interação social, dificuldade de comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos. Já os secundários são: preferência excessiva por objetos, distúrbios sensoriais (como hipersensibilidade auditiva), fobias inexplicáveis, manias alimentares, problemas de sono e atraso no desenvolvimento motor e linguístico.
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