quinta-feira, outubro 10, 2024

A livraria que escolhe seus livros a dedo

 

Dia desses deixei alguns livros meus numa livraria-café e estranhei quando a proprietária me disse que ia ficar com os livros, mas não ia colocar em exposição, pois os livros que eles vendiam eram "escolhidos a dedo".

Na saída, um amigo me apontou uma prateleira repleta de livros de Olavo de Carvalho e seguidores. Eu havia achado estranho ter visto nas paredes da livraria-café uma bandeira do Brasil império.
Fiquei encucado: seria uma livraria bolsonarista-olavista? Seriam monarquistas? Isso iria interferir na aceitação dos meus livros?
Pesquisando, acabei descobrindo que não só são uma livraria bolsonarista-olavista, como a expressão "livros escolhidos a dedo" significa livros alinhados ideologicamente.
Mais: descobri que dois livros de contos de um grande escritor amapaense, Fernando Canto, tinham sido devolvidos ao autor porque não se encaixavam na proposta da livraria. A desculpa, esfarrapada, era que a leitura não era adequada para jovens, comos e todos os livros constantes numa livraria fossem direcionados para jovens. Mesmo entre os livros que vi na prateleira, a grande maioria não era recomendada para jovens.
Não eram livros políticos ou com discurso esquerdista. São livros de contos, ficção. E o autor passa longe de ser um militante político. A maioria dos contos é sobre o folclore e mitologia amazônica.
Esta semana volto lá para pegar minhas obras. Imagina: meu último romance se passa durante a cabanagem, uma revolta popular. Mesmo que eu ainda quisesse deixar meus livros lá, eles não passariam pela seleção "a dedo" da li.
Para quem quiser conhecer melhor a história, é possível ler o relato do próprio Fernando Canto aqui.

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