sábado, novembro 02, 2024

Abapuru, de Tarsila do Amaral

 

Abapuru é o quadro mais famoso e importante da arte brasileira. Ele foi pintado em segredo por Tarsila do Amaral e dado de presente para seu esposo no dia de seu aniversário, em 11 de janeiro de 1928.
Oswald de Andrade ficou fascinado com o quadro e mostrou para o poeta Raul Bopp. Juntos começaram a analisar a imagem e ver ali um índio canibal, aquele que iria devorar a cultura vinda de fora para apossar-se dela e reinventá-la.
Tarsila procurou um dicionário de tupi e encontrou ali as palavras “aba” e “poru”, homem que come. Assim foi batizado o que se tornaria o quadro mais importante da arte brasileira.
Oswald usou o quadro como exemplo de sua proposta para a arte brasileira: ao invés de imitar os europeus, como se fazia até então, procurar uma arte nacional através da assimilação de vários elementos e reinvenção dos mesmos.
Quando o casal se separou, Tarsila quis ficar com o quadro – e ofereceu para Oswald um outro quadro seu, na época mais valioso.
Conforme participava de exposições no Brasil e no exterior, Abapuru foi ganhando fama.
Nos anos 1960, Tarsila vendeu o quadro para o crítico de arte  Pietro Maria Bardi, fundador do MASP. Sua ideia era que o quadro passasse a integrar o acervo do Museu. Mas Bardi preferiu ganhar dinheiro. O quadro foi vendido e revendido, tornando-se mais valioso a cada ano, até ir parar nas mãos de um colecionar argentino, que o colocou no acervo de um museu de Buenos Aires.
A volta do quadro para o Brasil em 2019, em uma exposição temporária no MASP, levou uma verdadeira multidão para o museu (foi quando tirei essa foto).
Uma curiosidade é que o quadro surge depois de uma visita do casal Tarsila-Oswald para as cidades históricas de Minas Gerais. Tarsila ficou encantada com a cultura local, principalmente as cores e passou a incorporá-la nas suas pinturas. Há um depoimento dela segundo o qual ao estudar na Europa ela aprendeu que as cores vivas eram feias e deviam ser evitadas, e depois dessa visita a Minas ela deixou de se envergonhar de usá-las em seus quadros.
Aliás, essa proposta lembra muito as ideias de um amigo do casal, Monteiro Lobato, segundo o qual os artistas brasileiros deveriam deixar de simplesmente imitar os europeus e buscar em nossas raízes populares o norte para uma arte brasileira.  

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