Quando era adolescente eu tinha uma necessidade imensa de ler, mas livros eram itens raros em casa (lembro quando era criança de ficar lendo os dizeres das caixas de sapato). Então, a descoberta da sessão circulante da Biblioteca Pública do Centur, em Belém, foi providencial. Para mim foi uma surpresa descobrir que lá eles emprestavam livros! Embora o acervo fosse pequeno comparado a bibliotecas maiores, para mim era um verdadeiro tesouro.
Na primeira vez em que fui levei muito tempo procurando, até que acabei escolhendo um livro de contos de H.G. Wells (nunca mais encontrei esse livro, então não sei o título). Quando estava fazendo as tratativas para o empréstimo, a bibliotecária me perguntou se eu não queria fazer uma resenha da obra.
- Resenha? O que é isso?
Ela me levou até um quadro cheio de fichas. Eram as resenhas feitas pelos leitores, que entregavam manuscritos e eram datilografadas pelo pessoal da biblioteca.
- Ok, vou fazer.
Fiz a resenha daquele livro, depois de outro e depois outro. Chegou num ponto que todas as fichas daquele painel eram minhas.
Eu me acostumei a tal a ponto a escrever sobre o que lia, que logo o painel não era mais suficiente para as minhas resenhas (eu devorava religiosamente um livro por semana, às vezes mais). Então comprei um caderno e comecei a resenhar tudo: livros, filmes e até exposições que eu visitava. Sempre que possível, recortava em jornais capas de livros ou cartazes de filmes para colar junto das resenhas. Lembro de uma exposição sobre a expedição langsdorf em que inclui no caderno um recorte anunciando a exposição. Aliás, aquela exposição me marcou tanto que depois a usei num conto que posteriormente seria incluído numa antologia internacional de literatura de fantasia publicada pela editora Devir...
Eu me acostumei a tal ponto a resenhar que ler um livro e não resenhar era como se eu não tivesse lido. Assistir a um filme e não resenhar? Impensável!
Quando, tempos depois, surgiram os blogs, eles se tornaram a versão digital daqueles cadernos. Na época, blogs falavam de assuntos exclusivamente pessoais, que interessavam apenas à pessoas e seus amigos. Meu blog era de resenhas (e, ocasionalmente, um ou outro artigo sobre assuntos do momento).
Algum tempo depois eu recebi o convite de integrar a equipe do Digestivo Cultural, que já foi o maior e mais importante site de cultura do Brasil. O editor do digestivo me enviava um livro por mês para ser resenhado. Eram resenhas de cinco mil toques, textos muito mais longos dos que eu era acostumado a fazer no meu blog ou mesmo no meu caderno. Não era só fazer um resumo da história e um crítica da obra. Com cinco mil toques eu comecei a fazer também análises mais aprofundadas sobre, por exemplo, o estilo do autor. Infelizmente chegou num ponto em que o editor do digestivo começou a se interessar mais por política do que pela parte cultural, o que foi matando o site e os colaboradores foram saindo aos poucos, entre eles eu.
Desde então, tenho continuado a publicar meus textos sobre livros, filmes e séries tanto no meu perfil quanto no blog.
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