quarta-feira, novembro 13, 2024

Noir - quando Gian Danton e Bené Nascimento misturaram policial com terror

 


A história “Noir” publicada na revista Mephisto,  da editora ICEA surgiu meio por acaso. O Bené tinha recebido um roteiro do editor, mas não gostou, achando o desenvolvimento óbvio demais. Estávamos discutindo isso no ônibus, quando o Bené me disse:

- Quer saber? Não vou ilustrar esse roteiro! Vamos criar outra coisa e mandar para eles! E vamos criar agora!

E assim começamos a conversar sobre como seria a história. Bené queria que ela tivesse um clima noir. Eu lembrei de um filme que tinha esse clima e que sempre esteve na minha relação dos 10 melhores: Coração Satânico, de Alan Parker.

Coração satânico tinha uma estrutura na qual um detetive procurava por um homem desaparecido. À medida em que a investigação avança, ele vai vendo todos os seus informantes sendo mortos. No final, ele descobre que o homem que ele procura é ele mesmo e o cliente é na verdade Lúcifer, para quem ele havia vendido a alma.



Imaginamos uma situação assim, mas com um contexto de vampiros, já que vampiros eram um tema de terror clássico e, imaginávamos, iria agradar os editores. Assim, um detetive investigava assassinatos em séries cometidos por um vampiro e, ao final descobre-se que ele é o assassino.

Essa história foi barrada pelo Diretor de arte, Dagoberto Lemos, assim que chegou na editora. Ele argumentou que o desenho do Bené estava muito sujo e a história era incompreensível. Quem nos salvou foi a editora, Neuza de Castro Luz, que bateu o pé e foi falar com o dono da editora. Sua aposta valeu a pena: a revista, que antes vendia 40% da edição, pulou para 70% naquele número.

É um desses casos explicados pela teoria dos paradigmas: como não era da área, Neuza não percebeu que nossa HQ não se encaixava no terror anos 60, típico de revistas como a Mephisto e foi isso que fez com que ela conseguisse perceber as qualidades da história.

Noir fez tanto sucesso que a editora logo em seguida nos pediu mais uma história, nos mesmos moldes. À essa altura nós já sabíamos que a HQ quase tinha sido recusada e resolvemos fazer uma HQ que criticava o terror clássico, Decadence.

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