Tarzan foi um dos personagens mais populares do século XX. Suas aventuras abrilhantaram milhares de revistas em quadrinhos, tiras de jornais, desenhos animados, filmes. Pouca gente, no entando, sabe que o personagem é oriundo da literatura, criação do norte-americano Edgar Ricer Burroughs.
Tarzan, o magnífico, publicado pelo clube do livro em 1976 permite vislumbrar um pouco desse rei das selvas literário.
A história se passa na África, tendo como foco duas aldeias sui-generis. Nela, mulheres negras aprisionaram homens brancos perdidos e procriaram com eles durante gerações, criando uma raça de mulheres... brancas. Cada aldeia é governada por um irmão gêmeo, velhos carcomidos, que usam pedras preciosas (um enorme diamente e uma enorme esmeralda) para controlar seus súditos através de poderes mágicos.
A história ecoa algumas das melhores tramas do desenho animado de Tarzan da Filmation, com suas cidades perdidas e povos estranhos. Mas o resultado literário fica muito aquém do que se espera.
Para começar, o livro todo é obviamente racista e nitidamente eurocêntrico. Isso a ponto de incomodar um leitor que normalmente não repararia nesses aspectos.
À certa altura, por exemplo, um dos brancos cativos tenta fugir de uma das aldeias e encontra Tarzan. E espanta-se: “Já vi tantas coisas inacreditáveis desde que vim para essa região que nem mesmo a visão de um homem de alta civilização andando por aí quase nu e sozinho causou tanta surpresa quanto seria de esperar”.
Em outro momento, quando um grupo consegue fugir de uma das aldeias, os negros adotam naturalmente as posições de carregadores e criados pessoais dos brancos, como se fossem escravos deles.
Um dos personagens americanos se apaixonada pela rainha de uma das tribos e foge com ela junto ao grupo do parágrafo anterior. Mas recebe uma advertência de um amigo: embora fosse branca como a neve, ela tinha sangue negro e, por isso, não seria aceita pela sociedade americana.
Mas, se ignorarmos esse aspecto, o livro ainda tem problemas. Tarzan consegue resolver toda a situação por que acha, por acaso, uma passagem secreta que nem mesmo o rei do local conhece. Esse tipo de coinscidencia conveniente é chamada na linguagem de roteiro de deus ex machina.
À certa altura, enquanto fogem, os personagens resolvem se divertir um pouco... caçando leões! Dividem-se em três duplas e cada um mata um. Impressionante como havia leões naquela época e como era fácil caçá-los. Pura diversão!
Além disso, a trama fecha, o terceiro ato termina, e a história continua, como se o escritor não tivesse pensado direito na quantidade de páginas que a história irai ocupar e resolvesse extender a trama. Soma-se a isso o fato de que esse Tarzan literário seja muito pouco parecido com o conhecido por todos nós. Ao invés de se mover pelo alto das árvores em cipós, por exemplo, ele caminha a maior parte do tempo.
E, claro, Burroughs nem de longe é um grande escritor. Mesmo na comparação com outros autores pulps, como Rober E. Howard ou Lovecraft, ou mesmo Conan Doyle, sua narrativa é pobre e muitas vezes confusa. Em alguns momentos, por exemplo, ele pula para outra cena, em outros locais e com outros personagens de um parágrafo para o outro, deixando o leitor confuso.
O que realmente fica desse Tarzan literário é toda a mitologia e toda a ambientação criada por Burroughs, que já aparece nas primeiras páginas “Nenhuma coisa escapava de seu olhar, nenhum odor, contido no seio macio de Usha, o vento, passava sem ser identificado por ele. Bem a distancia, ele viu Numa, o leão, sobre seu posto rochoso de observação; viu ska, o abutre, circulando acima de alguma coisa que sua visão não permitia divulgar”.
É essa mitologia e essa ambientação que fizeram o personagem tão popular e que se tornou eterna nos quadrinhos, nos filmes e nas animações.
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