“Imagine there’s no countries
It isn?t hard to doNothing to kill or die for
And no religion too
Imagine all the people
Living life in peace”
Imagine - John Lennon
Estavam em guerra.
Durante anos a humanidade havia percorrido o universo em busca de outras civilizações, em busca da constatação de que não estamos sozinhos. Então encontraram os gafanhotos. Claro, eles não se chamavam gafanhotos. Mas as pernas e os braços compridos, além da pele na forma de couraça davam-lhe o aspecto de gafanhotos e era natural que os humanos os chamassem assim, por analogia.
No começo as relações foram bastante amistosas. Afinal, era a primeira forma de vida inteligente que o homem encontrava em seu caminho pelas estrelas.
Os problemas começaram a ocorrer quando as viagens de turismo ao planeta dos gafanhotos se tornaram freqüentes. Ficou claro, então, que havia sérias diferenças culturais. Ocorre que todo o planeta era repleto de pequenos e incômodos insetos. Os turistas humanos usavam contra eles inseticidas e repelentes.
Entretanto, os gafanhotos consideravam os insetos sagrados, pois Deus os criara à Sua imagem e semelhança.
Os teólogos humanos acharam a idéia ridícula. Que tipo de Deus teria a aparência de um inseto? Afinal, a Bíblia deixava claro que Deus criara o homem à Sua imagem e semelhança. A religião dos gafanhotos foi considerada uma heresia.
O que era uma simples diferença teológica tornou-se um problema diplomático quando os gafanhotos começaram a matar humanos acusados de exterminar insetos.
Foi o início da guerra.
José lembrava-se de tudo isso enquanto olhava o céu repleto de estrelas. Uma estrela cadente fez com que ele atentasse para a data. Eram 24 de dezembro. Véspera de natal. Estavam tão preocupados com inimigo que nem ao menos haviam percebido.
O rapaz tentou lembrar o capitão, mas não conseguiu. Estavam todos ocupados demais com os preparativos para a batalha. Dizia-se que os gafanhotos preparavam um ataque surpresa e a ordem era contra-atacar com todas as forças.
José encostou a cabeça na parede da trincheira e dormiu. O cheiro de excrementos e dos cadáveres era tão forte que dominou seus sonhos. Acordou com um outro soldado empurrando-o.
- Acorde! O ataque vai começar!
José olhou para o relógio. Eram quase meia-noite.
De repente veio a ordem. O sargento berrava como um louco e empurrava os soldados para fora da trincheira.
- Atacar!
José avançou com os outros. Uma bomba explodiu, levantando uma densa cortina de fumaça e pó que desorientava os soldados.
Mísseis silvavam no ar, luminosos e terríveis, prestes a cair no campo de batalha. Eram máquinas de morte, ceifadora de vidas, incapazes de distinguir um amigo de um inimigo.
Mas não caíram. Algo aconteceu antes. Explodiram no ar, formando belos desenhos de luz. O som cessou. O barulho incessante das metralhadoras cessou. A respiração ofegante dos guerreiros. Tudo parou. Até mesmo o tempo. Uma forte luz branca tomou conta do campo de batalha, parecendo vir de todos os lugares e de lugar nenhum.
Então surgiu um menino. Surgiu no céu, e todos os olhares de voltaram para ele. Enquanto falava, os soldados largavam as armas e choravam.
- Hoje não haverá mortes. Não haverá guerras em meu nome. Nada de armas, sangue ou gritos de desespero. Paz. Apenas paz.
Do outro lado aconteceu algo semelhante, mas o que apareceu para os gafanhotos não foi um menino. Foi um inseto. Um ser de pernas e braços compridos e pele em forma de couraça. Ele falou com eles, da mesma forma que o menino falou com os humanos.
Depois disso inimigos se abraçaram.
O campo desapareceu e junto com ele os mortos, os ratos, as doenças e o cheiro pestilento. Humanos e gafanhotos não conseguiam entender porque estavam brigando antes e isso não interessava.
No dia seguinte o rádio guinchou dos dois lados, proferindo ordens de morte. Ninguém atendeu. E nem atenderia. Afinal, era natal...
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