A capa do primeiro número foi feita por Jijé. |
No início da década de 1960, o roteirista Jean-Michel Charlier percebeu que a revista Pilote, que ele editava, carecia de uma série de faroeste, um gênero famoso à época. Charlier procurou Jijé, o mais famoso desenhista de faroeste da época, mas este recusou a começar uma nova série, pois estava muito envolvido com Jerry Spring, para a revista Spirou. Indicou, no entanto, um novato talentoso e promissor chamado Jean Giraud, com o qual o roteirista logo simpatiza.
Juntos, Charlier e Giraud (que posteriormente mudaria seu nome para Moebius) produziram uma das melhores histórias em quadrinhos de faroeste de todos os tempos, Tenente Blueberry. O nome foi sugerido pelo desenhista e o objetivo era criar um contraponto entre o personagem rude e encrenqueiro com a frutinha doce.
Embora tenha pensado toda a vida do personagem em seus vários álbuns, Charlier incorporou sugestões do desenhista. Ele sugeriu, por exemplo, que o modelo para o personagem fosse o ator francês Jean-Paul Belmondo, que com seu nariz quebrado era a antítese do cowboy clássico. Um personagem que apareceria posteriormente, o garimpeiro Mc Clure, deveria constar apenas em algumas páginas, mas Giraud gostou tanto dele que ele se tornou personagem fixo da série e um dos mais carismáticos.
O ator Belmondo foi o modelo para o personagem. |
Essa sintonia entre desenhista e roteirista, assim como a revolução formal apresentada pela série já pode ser vista no primeiro álbum, Forte Navajo.
A história começa com uma carruagem chegando a uma cidadezinha. Um oficial do exército resolve ir ao saloon beber alguma coisa e lá encontra um grupo jogando cartas. É quando aparece pela primeira vez Blueberry, em roupas civis, debochado, fumando um charuto. Ele e o soldado do exército que acaba de entrar vão estabelecer o contraponto. Enquanto o soldado loiro e bonito é honrado garboso, Blueberry parece andrajoso, rude e admite que trapaceia no pôquer. E coinscidentemente, os dois estão indo servir no mesmo lugar: forte Navajo.
Craig e Blueberry são contrapontos. |
Blueberry recusa ir junto, mas quando as mulheres da carruagem imploram, convencidas de que o tenente partiu em uma missão suicida, ele decide ir atrás para demover o tenente loiro de seu objetivo.
Aqui temos a maior habilidade de de Charlier como roteirista: ele era especializado em colocar seus personagens em situações perigosíssimas e aparentemente insolúveis e providenciar uma escapatória plenamente plausível. Isso ocorre quando o tenente Graic está totalmente cercado por indígenas, prestes a ser morto, mas acaba sendo salvo por um estratagema de Blueberry.
Colocar os heróis em situações impossíveis era a especialidade de Charlier. |
Conforme a história se desenvolve, percebemos que os navajos não são os responsáveis pelo massacre, como se pensava, e o principal objetivo de Blueberry passa a ser impedir uma guerra que poderia banhar de sangue a região, algo que parece inevitável.
Essa história está no primeiro álbum da belíssima coleção lançada pela Pipoca e Nanquim, um item obrigatório na biblioteca de qualquer fã de quadrinhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário