O principal tema da série Miracleman é sobre
como o poder corrompe e como o poder absoluto corrompe absolutamente. E esse
tema é sintetizado no Kid Miraclean, que aparece pela primeira vez na terceira HQ
da série (lembrando que cada história tinha apenas seis páginas).
Na trama, Johnny, ao ver na TV a aparição de
Miracleman, resolve ligar para ele. Johnny não só sobreviveu à bomba nuclear,
como se tornou um executivo de uma grande empresa.
Kid Miracleman se revela. Uma das cenas mais aterrorizantes dos quadrinhos de super-heróis. |
Mas Mike Moran tem uma suspeita: “E se ele
estiver mentindo? Ele ainda fosse Kid Miracleman? Poderia ser Kid Miracleman
para sempre, poderia ter tudo, dinheiro, prestígio, fama... poder cortar os
laços com a humanidade. Poderia se tornar impiedoso, imbatível, totalmente
corrupto. Foi assim, John ? Assim que aconteceu?”.
Sim, era exatamente isso que tinha acontecido...
e a verdade se revela num quadro aterrorizante, em que o vilão simplesmente
flutua no ar, no meio de relâmpagos.
O vilão não voa, flutua. |
Apesar da imagem, nós só compreendemos a que
nível chegou seu poder e como esse poder o corrompeu quando ele persegue a
mulher de Mike Moran. Ele simplesmente caminha no ar, como se estivesse
flutuando. No caminho, encontra com uma secretária, que está trazendo o café e
a mata. “O nome dela é Stephanie. Ela gosta de Adam and the ants. O nome de seu
namorado é Brian. Ela coleciona cerâmicas. Suas entranhas se liquefazem. Ela é apenas
humana”.
Alan Moore e Garry Leach com essa sequência
reinventam toda a dinâmica visual dos super-heróis. Até então, o que tínhamos
era personagens voando. Mas, se o super-homem não tem asas, ele de fato não
voa, ele flutua, é a conclusão lógica.
Kid Miracleman não tem mais nenhuma compaixão. |
Kid Miracleman flutua, como se a gravidade
não o afetasse, como se estivesse muito acima até mesmo das leis da natureza.
Mais à frente, no embate final entre
Miracleman e Kid Miracleman, a narrativa de Moore é visceral, mostrando os
super-humanos como seres acima da humanidade: “Há paixão aqui, mas não a paixão
humana. Há emoções intensas e desesperadas, mas não sentimentos que
reconheceríamos... eles são titãs e nós jamais compreenderemos o ínferno
alienígena que arde na fornalha de suas almas. Nós somos apenas humanos”.
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