sexta-feira, janeiro 31, 2025

Miracleman – Dragões

 

O principal tema da série Miracleman é sobre como o poder corrompe e como o poder absoluto corrompe absolutamente. E esse tema é sintetizado no Kid Miraclean, que aparece pela primeira vez na terceira HQ da série (lembrando que cada história tinha apenas seis páginas).

Na trama, Johnny, ao ver na TV a aparição de Miracleman, resolve ligar para ele. Johnny não só sobreviveu à bomba nuclear, como se tornou um executivo de uma grande empresa.

Kid Miracleman se revela. Uma das cenas mais aterrorizantes dos quadrinhos de super-heróis. 

Mas Mike Moran tem uma suspeita: “E se ele estiver mentindo? Ele ainda fosse Kid Miracleman? Poderia ser Kid Miracleman para sempre, poderia ter tudo, dinheiro, prestígio, fama... poder cortar os laços com a humanidade. Poderia se tornar impiedoso, imbatível, totalmente corrupto. Foi assim, John ? Assim que aconteceu?”.

Sim, era exatamente isso que tinha acontecido... e a verdade se revela num quadro aterrorizante, em que o vilão simplesmente flutua no ar, no meio de relâmpagos.

O vilão não voa, flutua. 

Apesar da imagem, nós só compreendemos a que nível chegou seu poder e como esse poder o corrompeu quando ele persegue a mulher de Mike Moran. Ele simplesmente caminha no ar, como se estivesse flutuando. No caminho, encontra com uma secretária, que está trazendo o café e a mata. “O nome dela é Stephanie. Ela gosta de Adam and the ants. O nome de seu namorado é Brian. Ela coleciona cerâmicas. Suas entranhas se liquefazem. Ela é apenas humana”.

Alan Moore e Garry Leach com essa sequência reinventam toda a dinâmica visual dos super-heróis. Até então, o que tínhamos era personagens voando. Mas, se o super-homem não tem asas, ele de fato não voa, ele flutua, é a conclusão lógica.

Kid Miracleman não tem mais nenhuma compaixão. 


Kid Miracleman flutua, como se a gravidade não o afetasse, como se estivesse muito acima até mesmo das leis da natureza.

Mais à frente, no embate final entre Miracleman e Kid Miracleman, a narrativa de Moore é visceral, mostrando os super-humanos como seres acima da humanidade: “Há paixão aqui, mas não a paixão humana. Há emoções intensas e desesperadas, mas não sentimentos que reconheceríamos... eles são titãs e nós jamais compreenderemos o ínferno alienígena que arde na fornalha de suas almas. Nós somos apenas humanos”.  

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