O sétimo álbum da série Blueberry, o Cavalo
de ferro, inaugura um novo ciclo nas histórias do personagem.
A história se refere a um fato real da
história dos EUA: a construção de uma ferrovia que iria cortar o país de leste
a oeste. O governo havia contratado duas empresas: a Union Pacific e a Central
Pacific. Cada empresa é livre para seguir em sua empreitada até encontrar a
concorrente. Além do próprio pagamento pelo trabalho, a empresa se torna também
dona das terras que ladeiam a ferrovia, o que faz com que surja uma
concorrência enorme entre as duas instituições, cada uma interessada em
abocanhar uma parte maior da ferrovia.
A história se passa durante a construção da ferrovia que corta os EUA de costa a costa.
Charlier aproveita esse mote para criar uma
trama envolvente, em que os os donos da Central contratam pessoas para
sabotarem a empresa concorrente, inclusive provocando uma guerra com os
indígenas que paralisaria o trabalho da Union por meses.
Para negociar com os índios, o dono da Union,
o general Dodge, manda chamar Blueberry, o que coloca o anti-herói no centro
dos acontecimentos.
Se a dupla Chalier – Giraud parecia boa
antes, aqui parece extremamente afinada.
A história já começa eletrizante, com o estouro da manada de bisões.
A história é empolgante do início até o fim,
a começar pela sequência em que Blueberry e o homem que fora buscá-lo acabam
sendo surpreendidos por uma estouro de manada de bisões.
Logo depois eles descobrem que alguém jogou
uma bomba no meio da manada apenas para matar os animais e provocar a revolta
dos indígenas. É de se admirar a genialidade do roteirista Charlier, que poderia ter simplesmente introduzido um perigo qualquer para gerar suspense, mas ele cria um perigo que tem função fundamental na trama.
Esse álbum traz, também, a primeira aparição
de Jethro Stellfingers, o vilão que irá antagonizar com Blueberry durante todo
esse ciclo. E é um tremendo vilão, a começar pela sua caracterização, com uma mão
de aço.
Aqui Charlier retorna um tema que já tinha
sido explorado em O homem da estrela de prata, a do homem sozinho contra uma
multidão em um saloon: Blueberry vai até o local avisar sobre as novas
diretrizes a respeito da caça de bisões. Explica-se: para alimentar os
trabalhadores, a companhia contrata caçadores de bisões, mas eles começam uma a
disputar quem mata mais animais, muitas vezes deixando sua carcaça inteira
apodrecendo ou coletando apenas parte dela, o que provoca a ira dos índios,
cujo principal alimento são os bisões. Blueberry pretende proibir a prática.
Blueberry encurralado em um saloon.
A situação coloca Blueberry contra dezenas de
homens armados, tendo como apoio apenas o beberrão Jimmy McLure.
Se a ideia já tinha funcionado bem no álbum
anterior, aqui ela é explorada à perfeição.
Quando essa história foi publicada pela
primeira vez no Brasil, a Abril optou por imprimir em preto e branco, em papel
jornal. O papel jornal, claro, não ajuda, mas para quem tem os exemplares da
Abril, vale a pena folhear e comparar o traço de Giraud, valorizado pelo PB em
todos os seus detalhes.
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