Durante uma viagem, o escritor Richard Matheson se deparou com uma fotografia de uma atriz (Maude Adams ) que havia se apresentado no hotel onde estava hospedado e ficou apaixonado. Chegou um ponto que se tornou uma obsessãoo a ponto de ele começar a comprar livros sobre ela ou apenas livros que a citavam. Descobriu, além de uma belíssima mulher, uma personalidade intrigante, que parecia unir o talento no palco com uma total discrição a respeito de sua vida pessoal. Uma mulher misteriosa, que nunca havia se casado e que em toda sua vida só faltara a uma única apresentação.
O escritor pensou: e se ele pudesse voltar ao
passado e conhecer aquela mulher? Essa ideia, que unia romance e ficção
científica, deu origem ao livro Em algum lugar do passado, que depois se
tornaria um filme de sucesso dirigido Jeannot Szwarc e estrelado por Christopher Reeve e Jane Seymour e com
roteiro do próprio Matheson.
Matheson realizou uma imersão tão grande no
personagem que deu ao personagem seu primeiro nome, de modo que o protagonista
se chamou Richard Collier. Além disso, da mesma forma que o personagem,
trancou-se em um hotel e começou o processo de auto-sugestão que levaria o
protagonista ao passado, gravando o processo.
Todos esses aspectos fazem com que, na obra,
ficção e realidade se misturem o tempo todo.
Na história, Collier, um roteirista de TV,
está diagonosticado com um câncer incurável e tem poucos meses de vida. Assim,
ele decide passar o pouco tempo que lhe resta viajando. Nas proximidades de San
Diego ele encontra um hotel do século XIX e fica encantado com o local.
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O livro deu origem a um filme de sucesso estrelado por Christopher Reeve e Jane Seymour |
Há uma curiosidade aqui: no livro, o hotel é
o mesmo usado por Billy Wilder para filmar seu clássico da comédia Quanto mais
quente melhor. Não sei se foi de fato o hotel visitado por Matheson ou se foi
apenas uma referência a um filme que ele certamente adorava.
Outra curiosidade: na história o personagem
se parecia com Paul Newman, o que já mostra que o escritor tinha em mente um
dia transformar a história em filme. Claro que, no início da década de 1980,
Newman já estava velho demais para o papel, de modo que Christopher Reeve
acabou sendo escolhido.
No hotel, Collier encontra um quadro de uma
apresentação teatral acontecida no século XIX e fica obcecado pela mulher.
Aqui Matheson deixa clara a fonte original: a
biografia de Elise McKenna é a mesma de Maude Adams, incluindo os papéis de
Peter Pan e da mocinha na comédia The Little Minister.
Sem perspectiva de futuro, o jovem roteirista
de TV resolve se refugiar no passado, procurando um meio de se encontrar com
sua amada. Um fato parece garantir que ele de fato realizou essa viagem: ele
encontra, nos registros do hotel, a sua assinatura em uma reserva no ano de
1896.
O processo de como essa viagem ao passado
acontece é, certamente, a parte mais entendidante do livro: Mathteson
transcreve todo o processo de auto-sugestão, incluindo a repetição de frases, o
que ocupa diversas páginas.
A história se torna realmente interessante
quando ele, de fato, volta ao passado e passa a enfrentar todos os obstáculos
para se unir à sua amada.
Matheson, como bom roteirista, introduz
ganchos para que a história funcionem. Um exemplo disso é a profecia proferida
por uma velha índia e por uma cigana de que a atriz encontraria o amor de sua
vida naquele ano, em circustâncias misteriosas e em uma praia. No filme,
Matheson introduz mais um elemento: o relógio que Collier carrega e que lhe foi
dado por Elise quando ela já era uma idosa e ele era um jovem promissor. O
relógio, que no livro também tem importância na trama, torna-se um ainda mais
relevante no filme, o que mostra que Matheson, mesmo depois de escrito o livro,
continuou lapidando a trama.
Quanto à forma, não se espere algo muito
elaborado. O texto, teoricamente, refletiria as anotações do roteirista
enquanto os fatos estavam acontecendo, no calor do momento, de modo que tudo é
sem muita preocupação estética. O próprio texto diz que “Os roteiros de
televisão exigem, antes de tudo, economia de apresentação. Quando ditados,
aumentam ainda mais a economia”, o que demonstra bem o estilo da obra.
Ainda assim, Em algum lugar do passado é uma
obra instigante e emocionante, com destaque para o final ambíguo. No Brasil foi
lançado pelo Clube do Livro na década de 1980. Aparentemente, a edição mais
recente é da BestBook, de 2007.
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