O soldado da fortuna
Embora Dick Tracy, Buck Rogers e Tarzan sejam considerados os inciadores dos quadrinhos de aventura, eles tiveram um antecedente nobre. Trata-se de uma tira de humor, que, com o tempo, transformou-se em uma HQ de aventura: o Capitão César, de Roy Crane.
Crane nasceu em 1901, no Texas. Aos 14 anos fez um curso de desenho por correspondência com Charles Landon. Quando terminou o ginásio, foi para a Chicago Academy of Fine Arts, onde conheceu o amigo Leslie Turner. Desgostosos com a monotomia acadêmica, os dois resolveram voltar para casa, pegando carona nos trens de carga. Essa aventura depois renderia argumentos para algumas de suas histórias.
Ele trabalhou então como repórter e depois embarcou num cargueiro para a Europa. De volta à América, resolveu criar uma tira de quadrinhos cômicos chamada Washington Tubbs (depois abreviado para Wash Tubbs), mas seu humor caipira não agradava aos editores, que o aconselharam a procurar o sindicate Newspaper Enterprise Association. Por sorte, o diretor desse sindicate era justamente o dono do curso que Crane fizera na adolescência, o que lhe valeu um contrato.
A primeira tira é publicada em 21 de abril de 1924. O protagonista era um indivíduo baixinho e de óculos, lembrando vagamente o comediante Harold Lloyd. As primeira sequências são de humor rápido com Wash trabalhando em uma mercearia e namorando a filha do patrão, mas logo Crane colocou seu herói dentro de um navio em direção aos mares do sul à procura de um tesouro.
O enfoque passa a ser, então, a aventura. Em uma de suas peripécias, o personagem resgata numa masmorra um prisioneiro, capitão Easy. Ele se alia ao protagonista e os dois começam a viver grandes aventuras juntos. Crane vai abandonando aos poucos não só o tom humorístico, mas também o traço caricato. Seu desenho vai ganhando um incrível tom realista, em especial pelo uso papel craftint, que permite ao autor criar texturas que ressaltam o desenho. Ninguém jamais usou essa técnica de forma tão primorosa quanto Roy Crane.
Por fim, o autor resolve se livrar o personagem humorístico, que se casa, e a tira passa a se chamar simplesmente Capitão Easy (Capitão César, no Brasil). O grande momento do personagem é durante a II Guerra Mundial. O Capitão recebe a missão de descer de paraquedas na França ocupada e resgatar um cientista preso em um campo de concentração nazista. Há alguns aspectos irreais, como o fato do alto comando Aliado escolher alguém que não fala francês para a tarefa, mas as situações de suspense e ação compensam. César entra no campo, se faz passar por prisioneiro e, finalmente, liberta o cientista, levando-o para a Inglaterra. Mas antes disso ele corre sério risco de ser descoberto pelos alemães e só a imaginação de Crane consegue livrá-lo desse sério risco.
Por ter começado como tira de humor, Wash Tubbs não é considerada a primeira HQ americana de aventura, mas sem dúvida foi a primeira que usou corretamente o gênero e foi uma das que melhor o exploraram.
Posteriormente Roy Crane foi para a King Features Syndicate, para a qual criou Jim Gordon, um aviador durante a guerra que depois se transforma em agente secreto norte-americano no período da guerra-fria. Apesar do exagerado tom ideológico, essa tira conseguiu manter o mesmo nível de qualidade de Capitão César, com os desenhos de Crane melhorando a cada ano.
Pela qualidade da sua obra, Crane recebeu o prêmio Reuben em 1959 e, em 1974, o Yellow Kid no Salone Internazionale dei Comics em Lucca, Itália.
2 comentários:
Oi Gian,
Achei interessantissimo este artigo sobre o Roy Crane. Fico imaginando como deveria ser a vida de quadrinhista nos anos 20 ou 30. Acho fascinante e me da mais vontade de desenhar.
Pubica mais artigos sobre outros autores menos conhecidos!
Por que tu nao escreves um livro sobre a Historia dos Quadrinhos?
Abraços,
Miguel.
Oi Miguel, a idéia é mesmo escrever um livro sobre história dos quadrinhos. mas estou fazendo meio sem planejamento. a base foram aqueles artigos que escrevi para O Liberal, mas estou vasculhando minha coleção e quando acho algo interessante, vou acrescentando. Sou fã do Roy Crane. Além do desenho dele ser muito bonito, a narrativa dele conseguia ser calma e, ao mesmo tempo, eletrizante.
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