Durante os meses de maio e junho, as principais universidades do país serão palco para o primeiro festival “Cinema pela Verdade”, realizado pelo Instituto Cultura em Movimento (ICEM) em parceria com o Ministério da Justiça, via Comissão de Anistia. O projeto vai levar para os quatro cantos do Brasil filmes nacionais que tem como tema o período da ditadura militar e suas conseqüências. Ao todo, o festival vai percorrer todas as 27 capitais federativas e passar por 81 universidades, promovendo exibições gratuitas, seguidas de debate com a presença de convidados e diretores/realizadores de cada obra. Em Macapá o evento ocorre no mês de junho em várias instituições de ensino.
O cinema sempre foi e será um instrumento indispensável de resgate da memória de um país. E para relembrar este período marcante da história brasileira, o “Cinema pela Verdade” selecionou três documentários que trazem diferentes enfoques sobre o tema: Cidadão Boilesen (2009) de Chaim Litewski; Condor (2007), de Roberto Mader; e Hercules 56 (2006), de Silvio Da-Rin.
Além desses, o projeto também vai contar com a participação especial de mais duas obras: Diário de uma Busca (2010), de Flavia Castro; e Uma longa Viagem (2011), de Lucia Murat, lançamento nacional de 2012.
Após cada exibição, será promovido um debate com acadêmicos, pesquisadores, integrantes de movimentos sociais e culturais, além dos próprios diretores ou equipe de produção dos filmes, onde estudantes e debatedores terão a chance de trocar conhecimento e experiências, fomentando assim a discussão.
FILMES SELECIONADOS:
Cidadão Boilsen - Um capítulo sempre subterrâneo dos anos de chumbo no Brasil, o financiamento da repressão violenta à luta armada por grandes empresários, ganha contornos mais precisos neste perfil daquele que foi considerado o mais notório deles. As ligações de Henning Albert Boilesen (1916-1971), presidente do grupo Ultra, com a ditadura militar, sua participação na criação da temível Oban – Operação Bandeirantes – e acusações de que assistiria voluntariamente a sessões de tortura emergem de diversos depoimentos de personagens daquela época.
Direção: Chaim Litewski, 2009 Documentário, 92 minutos.
Condor - Condor foi o nome dado à cooperação entre governos militares sul-americanos que resultou no seqüestro e assassinato de milhares de pessoas e no exílio de tantas outras. Uma análise contemporânea destes eventos, trazendo uma história de terrorismo de Estado, mas também de pessoas e da procura pela verdade e justiça.
Direção: Roberto Mader, 2007. Documentário, 106 minutos.
Hércules 56 – Na semana da independência de 1969 o embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, foi sequestrado. Em sua troca foi exigida a divulgação de um manifesto revolucionário e a libertação de 15 presos políticos, que representam diversas tendências políticas que se opunham à ditadura militar. Banidos do território nacional e com a nacionalidade cassada, eles são levados ao México no avião da FAB Hércules 56. Através de entrevistas com os sobreviventes os fatos desta época são relembrados. Direção: Silvio Da-Rin, 2006. Documentário, 94 minutos.
Programação Local (Instituições confirmadas):
Universidade do Estado do Amapá
Local: Auditório da UEAP (campus 1)
Datas: 05 (Cidadão Boilesen) e 06 (Condor) de junho
Hora: 18h
Instituto de Ensino Superior do Amapá - IESAP
Local: Quadra
Datas: 13 (Cidadão Boilesen), 14 (Hercules 56) e 15 (Condor) de junho
Hora: 19h
Sistema de Ensino Superior da Amazônia – SEAMA
Local: Auditório
Datas: 26 (Cidadão Boilesen) e 27 (Condor) de junho
Hora: 18h30
MAIS INFORMAÇÕES:
Lacombe Assessoria
Fernanda Lacombe
21 3126-8593/ 21 8121-7409
lacombe.assessoria@gmail.com
Willian Costa
Agente Mobilizador Local
Cinema pela Verdade
96 81351423
willian.costa.14@hotmail.com
Realização: Instituto Cultura em Movimento; Comissão da Anistia e Ministério da Justiça.
Projeto Marcas da Memória.
quarta-feira, maio 30, 2012
segunda-feira, maio 28, 2012
Muiraquicon
Mesa com os convidados especiais: Renato Guedes, Eduardo Risso, Sidney Gusman, Joe Bennett, eu e Alan Yango |
Eu ministrando a oficina de roteiro. Ao meu lado, sentado, Otoniel Oliveira (MSP, Encantarias) |
quinta-feira, maio 24, 2012
Rodolfo Zalla - ao mestre com carinho
Recebi do amigo Márcio Baraldi o documentário Rodolfo Zalla - ao mestre com carinho.
Baraldi é fã do trabalho de Zalla. Portanto, não se espere um trabalho isento. É uma obra de fã mesmo, o que fica claro nos ótimos extras. O melhor deles é sobre as capas proibidas do personagem Escorpião, que surgiu como uma cópia descarada do Fantasma, de Lee Falk e acabou ganhando um uniforme diferenciado nas mãos de Zalla.
No vídeo principal, o desenhista argentino conta a sua trajetória desde os primeiros desenhos até a atualidade. Nesse sentido, o DVD se encaixa na linha dos documentários atuais, em que o informante é colocado para falar e não há narrativa em off. Particularmente não gosto desse estilo. Há momentos em que uma narrativa em off ajuda, especialmente nesse caso, já que o sotaque de Zalla ainda é forte e ele é o único informante.
Ainda assim, é uma iniciativa interessante para conhecer um pouco de um dos quadrinistas mais atuantes do mercado, principalmente por seu trabalho de editor das revistas Calafrio e Mestre do Terror, onde muitos começaram a publicar, inclusive eu.
Que venham outros documentários semelhantes.
Em tempo: o DVD pode ser comprado no site da Comix.
quarta-feira, maio 23, 2012
Doações e visita à Biblioteca Elcy Lacerda
Hoje eu e o pessoal do Coletivo de Quadrinhos fomos conhecer a Biblioteca Pública Elcy Lacerda para articular eventos em comum e conversar sobre a possibilidade de abrir uma gibiteca e sobre a conservação dos gibis. A Biblioteca está linda e com um acervo fantástico, inclusive com obras raras, como uma série de livros do Jayme Cortez sobre desenho (eu já havia lido referências a esses livros, mas nunca tinha visto). Aguardem. Em breve haverá programação de quadrinhos também.
Eu aproveitei para doar quadrinhos e livros de minha autoria. |
Muita coisa legal nas estantes. |
Uma sala reservada aos negros e índios: um dos espaços mais bonitos da biblioteca. |
Baiano e os novos caetanos
Baiano e os novos caetanos era um quadro de humor do programa Chico City que satirizava a tropicália. Composta por Chico Anysio (Baiano) e por Arnaud Rodrigues (Paulinho Boca de Profeta), a dupla fez muito sucesso, o que levou ao lançamento do disco Vô bate pra tu, em 1974. O disco era não só uma sátira, mas também uma homenagem a Caetano Veloso e Gilberto Gil, que na época haviam sido exilados pela ditadura militar.
A música de maior sucesso do disco (Vô bate pá tu) fala justamente da delação de artistas no período. Além disso, havia até mesmo crítica ao milagre econômico, como em O urubu tá com raiva do boi.
A parte humorística fica por conta principalmente dos comentários ácidos e non-sense de Chico Anysio, que lembram as falas de Caetano e Gil. Na música Cidadão da Mata, Chico fecha com o discurso, cheio de humor e de duplo sentido: "Amo, amo a mata! Porque nela não há preços. Amo o verde que me envolve... o verde sincero que me diz que a esperança, não é a ultima que morre. Quem morre por último é o herói. E o herói, é o cabra que não teve tempo de correr...". Em O urubu tá com raiva do boi, ele diz: "O norte, a morte, a falta de sorte... Eu tô vivo, tá sabendo? Vivo sem norte, vivo sem sorte, eu vivo... Eu vivo, Paulinho. Aí a gente encontra um cabra na rua e pergunta: 'Tudo bem?'
E ele diz pá gente: 'Tudo bem!' Não é um barato, Paulinho? É um barato...". Uma fala ao mesmo tempo humorística, profunda e non-sense.
Apesar de ser uma sátira, o disco ficou tão bom que fez enorme sucesso e levou seus autores a uma turnê pelo Brasil. Explica-se: além da humor e das letras engajadas, havia os ótimos arranjos musicais. De certa forma, pode-se dizer que Baiano e os novos caetanos era tão bom que pode ser incluído entre o melhor da tropicália.
O sucesso fez com que a dupla gravasse outros discos, o último deles em 1985.
Vejam abaixo uma das músicas mais bonitas da dupla, uma homenagem à folia de reis.
Stan Lee, o reinventor dos super-heróis
A Editora Kalaco lança o livro Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis,
escrito por Roberto Guedes na Comix Book Shop. Trata-se da primeira
biografia feita por um escritor brasileiro sobre o criador do Universo
Marvel. Motivo que torna este livro ainda ainda mais especial. A edição
é ricamente ilustrada, com centenas de imagens raras coloridas e em P/B,
muitas nunca vistas em publicações brasileiras.
O livro traz, em detalhes, o processo de criação de Homem-Aranha,
Incrível Hulk, Demolidor, Thor, Doutor Estranho, Quarteto Fantástico e
X-Men (entre tantos outros); traz inúmeros depoimentos – muitos inéditos
– de roteiristas e desenhistas que trabalharam diretamente com Stan Lee,
como Gerry Conway, Steve Englehart, Roy Thomas e o irmão Larry
Lieber.
Conta ainda sobre sua amizade com Alain Resnais e Bob Kane;
os problemas com o patrão Martin Goodman e com os principais
colaboradores, Jack Kirby e Steve Ditko. Narra também os encontros
históricos de Stan Lee com Federico Fellini, Osamu Tezuka e Mauricio de
Sousa, e mostra como ele transcendeu as fronteiras das páginas impressas
para se tornar ator, diretor e produtor de Cinema e Televisão.
Tudo isso entremeado aos acontecimentos marcantes de sua vida pessoal,
desde a infância pobre em Nova York, seus primeiros empregos e “bicos”
antes de entrar na área editorial, suas várias namoradas, seu casamento com
uma linda atriz britânica, os nascimentos das filhas (e a morte prematura de
uma delas), culminando com sua mudança para a badalada Hollywood.
Em Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis, o leitor vai acompanhar
os primeiros passos do garoto que recitava Shakespeare e sonhava em
realizar coisas grandiosas, sem sequer imaginar que viria a se tornar um
mito ainda em vida; amado pelos fãs e admirado por celebridades como
Gene Simmons, Ringo Starr, Arnold Schwarzenegger, Larry Cohen e
Tom Wolfe. Irá descobrir como Stan Lee conseguiu reerguer a combalida
indústria de gibis americana e transformar a pequena editora Marvel
na maior potência criativa do ramo, ao criar histórias emocionantes e
otimistas, que tinham como protagonistas personagens humanos e cheios
de conflitos existenciais.
Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis
Editora Kalaco
Autor: Roberto Guedes
Formato: 16 x 23 cm - 160 páginas – cores e P/B
Preço: R$ 44,90
Distribuição: Comix Book Shop
Lançamento oficial e tarde de autógrafos: Livraria Comix Book Shop
Alameda Jaú, 1998, Jardim Paulista São Paulo, 01420-002, Brasil
(0xx)11 3081-6591 – Das 15h as 17 h
Sobre o autor:
Roberto Guedes é editor experiente e autor de várias obras prestigiadas
por público e crítica. Nasceu em dezembro de 1965, em São Paulo, capital.
É escritor, roteirista, tradutor, pesquisador e ensaísta, com 25 anos de
serviços prestados para várias editoras brasileiras e algumas estrangeiras.
Recebeu duas vezes o prêmio Angelo Agostini de “Melhor Editor do
Ano” (2002-2003), e o Troféu Jayme Cortez de “Incentivo ao Quadrinho
Nacional” (2004).
É autor de obras referenciais no âmbito das Histórias em Quadrinhos,
como: Quando Surgem os Super-Heróis, A Saga dos Super-Heróis
Brasileiros e A Era de Bronze dos Super-Heróis (Troféu Bigorna
de “Melhor Livro Teórico de Quadrinhos de 2008”).
Trabalhou nas editoras Opera Graphica, Mythos e Panini, e também
prestou serviço para as Escala, Ninja, Phenix e Editoractiva. Editou para
o mercado português a revista Esperança, e colaborou com a conceituada
Alter Ego, do lendário Roy Thomas.
Além de escrever para a Revista de História da Biblioteca Nacional, e
publicações das editoras Kalaco e Minuano, atualmente o autor edita o
Almanaque Meteoro, publicação estilo mix, com reportagens, entrevistas e
HQs inéditas do super-herói Meteoro e outros personagens de sua autoria.
PS: Para quem mora em Macapá, dá para comprar o livro pelo site da Comix.
escrito por Roberto Guedes na Comix Book Shop. Trata-se da primeira
biografia feita por um escritor brasileiro sobre o criador do Universo
Marvel. Motivo que torna este livro ainda ainda mais especial. A edição
é ricamente ilustrada, com centenas de imagens raras coloridas e em P/B,
muitas nunca vistas em publicações brasileiras.
O livro traz, em detalhes, o processo de criação de Homem-Aranha,
Incrível Hulk, Demolidor, Thor, Doutor Estranho, Quarteto Fantástico e
X-Men (entre tantos outros); traz inúmeros depoimentos – muitos inéditos
– de roteiristas e desenhistas que trabalharam diretamente com Stan Lee,
como Gerry Conway, Steve Englehart, Roy Thomas e o irmão Larry
Lieber.
Conta ainda sobre sua amizade com Alain Resnais e Bob Kane;
os problemas com o patrão Martin Goodman e com os principais
colaboradores, Jack Kirby e Steve Ditko. Narra também os encontros
históricos de Stan Lee com Federico Fellini, Osamu Tezuka e Mauricio de
Sousa, e mostra como ele transcendeu as fronteiras das páginas impressas
para se tornar ator, diretor e produtor de Cinema e Televisão.
Tudo isso entremeado aos acontecimentos marcantes de sua vida pessoal,
desde a infância pobre em Nova York, seus primeiros empregos e “bicos”
antes de entrar na área editorial, suas várias namoradas, seu casamento com
uma linda atriz britânica, os nascimentos das filhas (e a morte prematura de
uma delas), culminando com sua mudança para a badalada Hollywood.
Em Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis, o leitor vai acompanhar
os primeiros passos do garoto que recitava Shakespeare e sonhava em
realizar coisas grandiosas, sem sequer imaginar que viria a se tornar um
mito ainda em vida; amado pelos fãs e admirado por celebridades como
Gene Simmons, Ringo Starr, Arnold Schwarzenegger, Larry Cohen e
Tom Wolfe. Irá descobrir como Stan Lee conseguiu reerguer a combalida
indústria de gibis americana e transformar a pequena editora Marvel
na maior potência criativa do ramo, ao criar histórias emocionantes e
otimistas, que tinham como protagonistas personagens humanos e cheios
de conflitos existenciais.
Stan Lee – O Reinventor dos Super-Heróis
Editora Kalaco
Autor: Roberto Guedes
Formato: 16 x 23 cm - 160 páginas – cores e P/B
Preço: R$ 44,90
Distribuição: Comix Book Shop
Lançamento oficial e tarde de autógrafos: Livraria Comix Book Shop
Alameda Jaú, 1998, Jardim Paulista São Paulo, 01420-002, Brasil
(0xx)11 3081-6591 – Das 15h as 17 h
Sobre o autor:
Roberto Guedes é editor experiente e autor de várias obras prestigiadas
por público e crítica. Nasceu em dezembro de 1965, em São Paulo, capital.
É escritor, roteirista, tradutor, pesquisador e ensaísta, com 25 anos de
serviços prestados para várias editoras brasileiras e algumas estrangeiras.
Recebeu duas vezes o prêmio Angelo Agostini de “Melhor Editor do
Ano” (2002-2003), e o Troféu Jayme Cortez de “Incentivo ao Quadrinho
Nacional” (2004).
É autor de obras referenciais no âmbito das Histórias em Quadrinhos,
como: Quando Surgem os Super-Heróis, A Saga dos Super-Heróis
Brasileiros e A Era de Bronze dos Super-Heróis (Troféu Bigorna
de “Melhor Livro Teórico de Quadrinhos de 2008”).
Trabalhou nas editoras Opera Graphica, Mythos e Panini, e também
prestou serviço para as Escala, Ninja, Phenix e Editoractiva. Editou para
o mercado português a revista Esperança, e colaborou com a conceituada
Alter Ego, do lendário Roy Thomas.
Além de escrever para a Revista de História da Biblioteca Nacional, e
publicações das editoras Kalaco e Minuano, atualmente o autor edita o
Almanaque Meteoro, publicação estilo mix, com reportagens, entrevistas e
HQs inéditas do super-herói Meteoro e outros personagens de sua autoria.
PS: Para quem mora em Macapá, dá para comprar o livro pelo site da Comix.
terça-feira, maio 22, 2012
Um conto de duas cidades
Comprei o livro Um conto de duas cidades, de Charles Dickens em maio de 1999. Era uma edição de banca, da Nova Cultural. Tirando a capa mole, era uma publicação interessante, com biografia do autor e muitas notas sobre o texto. Por alguma razão eu comecei a ler e abandonei antes de terminar o primeiro capítulo. Isso é comum para quem é professor: você começa um romance e logo uma outra leitura, mais urgente, geralmente um texto técnico, o obriga a abandonar a ficção.
O livro ficou lá, escondido na estante, por mais de 10 anos, até que mudei de casa e comecei a arrumar a nova estante. Colocar livros numa estante pode parecer uma atitude simples para quem não gosta de leitura. Para um leitor assíduo, é algo demorado. É difícil resistir à tentação de dar uma folheada e ler um parágrafo ou outro.
Foi assim que comecei a ler Um conto de duas cidades. Considerando-se o início, é difícil imaginar porque eu o abandonei da outra vez. O livro tem uma das melhores aberturas da história da literatura:
"Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da luz, a estação das trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o paraíso, íamos todos direto no sentido contrário".
O livro apresenta uma trama que começa um pouco antes da Revolução Francesa e vai até a era de terror, em que dezenas, às vezes centenas de pessoas eram mortas diariamente, a maioria apenas pelo crime de serem nobres ou pela simples suspeita de serem traidores da pátria. As duas cidades do título são Paris e Londres, locais percorridos pelos personagens (embora os melhores momentos são aqueles passados na França revolucionária).
A trama inicia com o resgate do médico Manette, preso durante anos na Bastilha. Solto, sua filha, Lucie e um funcionário do banco Tellson seguem para Paris a fim de levá-lo para a Inglaterra, uma vez que ele pode vir a ser preso novamente se continuar em solo francês.
Dickens, baseando-se no livro de Carlyle, The French Revolution, aproveita-se do fato de que os nobres mais influentes da época tinham cartas que lhes permitiam capturar e encarcerar na Bastilhas qualquer desafeto para construir sua trama. O Doutor Manette teria sido vítima de uma dessas cartas, mas a razão pela qual ele foi preso só será revelada no final do livro, provocando uma nova tragédia.
Embora seja anterior a ele, Dickens parece ter lido o conselho de Edgar Alan Poe: imaginar primeiro o final e fazer todas as tramas e personagens se enlaçarem. Aliás, os últimos capítulos são uma aula de suspense. Como num filme de Hitchcock, acompanhamos as várias tramas avançando na direção da tragédia representada pela guilhotina.
Dickens tinha um olhar de fotógrafo: sua capacidade de ambientar o leitor através da visão de pequenos acontecimentos é única e pode ser bem apreciada no primeiro capítulo V, o primeiro em que aparece o bairro de Santo Antônio, onde é focada a maior parte da narrativa da era do terror. Um grande tonel de vinho tomba na rua e se quebra. O populacho se embriaga com o líquido, que escorre pelo calçamento acidentado: homens e mulheres cavoucam as poças com canecas de barro lascadas ou com lenços de cabeça das mulheres, que são torcidos para derramar gotas do líquido precioso na boca das crianças. O episódio, sem menor importância, torna-se um prenúncio do que virá quando um rapaz usando barrete vermelho usa o vinho para escrever no muro: "Sangue".
Dickens usa esses instantâneos para ambientar sua historia e criar expectativa, preparando o leitor para o que virá. Isso é feito de maneira lenta, própria de uma época em que se podia ler calmamente um livro: a narrativa avança aos poucos e há capítulos apenas com o objetivo de antecipar a carnificina que virá. O capítulo VI, por exemplo, é usado quase que só para descrever o local em que o Doutor e sua filha moram em Londres e um curioso efeito acústico, que lhes permite ouvir vozes e passos vindos de outras ruas, como se fossem uma multidão invisível: "Talvez vissem também a grande multidão de pessoas com seu ímpeto e seu rugido avançando sobre eles".
O leitor que resistir a essa narrativa lenta será recompensado não só pela bela prosa de Dickens ou pelo final de tirar o fôlego, mas também por uma análise interessante sobre uma época: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou Morte; a última muito mais fácil de conceder do que as outras, ó Guilhotine!".
Suas descrições da carnificina são um verdadeiro estudo da natureza humana sob a influência da multidão. Em determinado ponto do livro, um dos prisioneiros é restituído à liberdade exatamente na noite em que os jacobinos decidem matar centenas de nobres que entulham as prisões. No meio da confusão, ele acaba sendo apunhalado. Chamado para atendê-lo, o doutor o encontra sendo atendido por um grupo de samaritanos sentados sobre os corpos de suas vítimas. Eles o ajudam com total solicitude, improvisam uma padiola e mandam uma escolta tirá-lo dali. Depois empunham suas armas e voltam a se dedicar à hedionda carnificina.
As notas do final do livro ajudam a entender melhor o sentido de algumas passagens ou acrescentam informações aos episódios. Sobre a noite referida, a nota cita Mercier, detalhando o assassinato da princesa de Lamballe: "Tendo os assassinos dividido os pedaços sangrentos do corpo dela, um desses monstros arrancou-lhe os pelos pubianos e fez um bigode para si mesmo com eles".
Dickens, que chegou a fazer uma reportagem sobre uma execução na guilhotina (na Itália) mostra a todo momento sua ojeriza aos crimes cometidos durante a era do terror. Mas não faz uma acusação cega dos revoltados. Ao contrário, deixa claro que tal estado de coisas só foi possível em decorrência da situação absurda em que vivia a França na época pré-revolução, com uma nobreza de poderes absolutos gastando fortunas em luxo enquanto a população miserável passava fome: "Seis carros mortuários rodam com estrondo pelas ruas de Paris. Faça-os regressar ao que eram antes, ó Tempo, poderoso mago, e eles serão vistos como luxuosas carruagens de monarcas absolutos, como equipagens de nobres feudais, como toucadores de mulheres deslumbrantes como Jezebel, como igrejas que não a casa do meu Pai, mas um covil de ladrões, como a choupana de milhões de camponeses esfaimados!".
A edição da Nova Cultural já está fora de catálogo, mas existe uma outra, da Estação Liberdade, para os que ficarem interessados.
Texto originalmente publicado no Digestivo Cultural
O livro ficou lá, escondido na estante, por mais de 10 anos, até que mudei de casa e comecei a arrumar a nova estante. Colocar livros numa estante pode parecer uma atitude simples para quem não gosta de leitura. Para um leitor assíduo, é algo demorado. É difícil resistir à tentação de dar uma folheada e ler um parágrafo ou outro.
Foi assim que comecei a ler Um conto de duas cidades. Considerando-se o início, é difícil imaginar porque eu o abandonei da outra vez. O livro tem uma das melhores aberturas da história da literatura:
"Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da luz, a estação das trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto para o paraíso, íamos todos direto no sentido contrário".
O livro apresenta uma trama que começa um pouco antes da Revolução Francesa e vai até a era de terror, em que dezenas, às vezes centenas de pessoas eram mortas diariamente, a maioria apenas pelo crime de serem nobres ou pela simples suspeita de serem traidores da pátria. As duas cidades do título são Paris e Londres, locais percorridos pelos personagens (embora os melhores momentos são aqueles passados na França revolucionária).
A trama inicia com o resgate do médico Manette, preso durante anos na Bastilha. Solto, sua filha, Lucie e um funcionário do banco Tellson seguem para Paris a fim de levá-lo para a Inglaterra, uma vez que ele pode vir a ser preso novamente se continuar em solo francês.
Dickens, baseando-se no livro de Carlyle, The French Revolution, aproveita-se do fato de que os nobres mais influentes da época tinham cartas que lhes permitiam capturar e encarcerar na Bastilhas qualquer desafeto para construir sua trama. O Doutor Manette teria sido vítima de uma dessas cartas, mas a razão pela qual ele foi preso só será revelada no final do livro, provocando uma nova tragédia.
Embora seja anterior a ele, Dickens parece ter lido o conselho de Edgar Alan Poe: imaginar primeiro o final e fazer todas as tramas e personagens se enlaçarem. Aliás, os últimos capítulos são uma aula de suspense. Como num filme de Hitchcock, acompanhamos as várias tramas avançando na direção da tragédia representada pela guilhotina.
Dickens tinha um olhar de fotógrafo: sua capacidade de ambientar o leitor através da visão de pequenos acontecimentos é única e pode ser bem apreciada no primeiro capítulo V, o primeiro em que aparece o bairro de Santo Antônio, onde é focada a maior parte da narrativa da era do terror. Um grande tonel de vinho tomba na rua e se quebra. O populacho se embriaga com o líquido, que escorre pelo calçamento acidentado: homens e mulheres cavoucam as poças com canecas de barro lascadas ou com lenços de cabeça das mulheres, que são torcidos para derramar gotas do líquido precioso na boca das crianças. O episódio, sem menor importância, torna-se um prenúncio do que virá quando um rapaz usando barrete vermelho usa o vinho para escrever no muro: "Sangue".
Dickens usa esses instantâneos para ambientar sua historia e criar expectativa, preparando o leitor para o que virá. Isso é feito de maneira lenta, própria de uma época em que se podia ler calmamente um livro: a narrativa avança aos poucos e há capítulos apenas com o objetivo de antecipar a carnificina que virá. O capítulo VI, por exemplo, é usado quase que só para descrever o local em que o Doutor e sua filha moram em Londres e um curioso efeito acústico, que lhes permite ouvir vozes e passos vindos de outras ruas, como se fossem uma multidão invisível: "Talvez vissem também a grande multidão de pessoas com seu ímpeto e seu rugido avançando sobre eles".
O leitor que resistir a essa narrativa lenta será recompensado não só pela bela prosa de Dickens ou pelo final de tirar o fôlego, mas também por uma análise interessante sobre uma época: "Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou Morte; a última muito mais fácil de conceder do que as outras, ó Guilhotine!".
Suas descrições da carnificina são um verdadeiro estudo da natureza humana sob a influência da multidão. Em determinado ponto do livro, um dos prisioneiros é restituído à liberdade exatamente na noite em que os jacobinos decidem matar centenas de nobres que entulham as prisões. No meio da confusão, ele acaba sendo apunhalado. Chamado para atendê-lo, o doutor o encontra sendo atendido por um grupo de samaritanos sentados sobre os corpos de suas vítimas. Eles o ajudam com total solicitude, improvisam uma padiola e mandam uma escolta tirá-lo dali. Depois empunham suas armas e voltam a se dedicar à hedionda carnificina.
As notas do final do livro ajudam a entender melhor o sentido de algumas passagens ou acrescentam informações aos episódios. Sobre a noite referida, a nota cita Mercier, detalhando o assassinato da princesa de Lamballe: "Tendo os assassinos dividido os pedaços sangrentos do corpo dela, um desses monstros arrancou-lhe os pelos pubianos e fez um bigode para si mesmo com eles".
Dickens, que chegou a fazer uma reportagem sobre uma execução na guilhotina (na Itália) mostra a todo momento sua ojeriza aos crimes cometidos durante a era do terror. Mas não faz uma acusação cega dos revoltados. Ao contrário, deixa claro que tal estado de coisas só foi possível em decorrência da situação absurda em que vivia a França na época pré-revolução, com uma nobreza de poderes absolutos gastando fortunas em luxo enquanto a população miserável passava fome: "Seis carros mortuários rodam com estrondo pelas ruas de Paris. Faça-os regressar ao que eram antes, ó Tempo, poderoso mago, e eles serão vistos como luxuosas carruagens de monarcas absolutos, como equipagens de nobres feudais, como toucadores de mulheres deslumbrantes como Jezebel, como igrejas que não a casa do meu Pai, mas um covil de ladrões, como a choupana de milhões de camponeses esfaimados!".
A edição da Nova Cultural já está fora de catálogo, mas existe uma outra, da Estação Liberdade, para os que ficarem interessados.
Texto originalmente publicado no Digestivo Cultural
Lançamento da biografia de Stan Lee
O amigo Roberto Guedes vai lançar na livraria Comix a sua mais recente obra: a biografia do roteirista Stan Lee. Eu não vou poder ir por razões óbvias, mas quem mora em Sampa não tem desculpa para perder esse lançamento (Em todo caso, já vou reservar meu exemplar).
segunda-feira, maio 14, 2012
Dia das mães
Ontem foi dia das mães.
Em Macapá a data foi comemorada com muita bebedeira, som alto, muita cachaça e 21 acidentes de trânsito (dois com mortes), sem falar nas brigas de bêbados. Foi um dos dias mais violentos do ano.
Na minha rua, tivemos três festas dos dias das mães. Nas três, muita cachaça e som alto. As mães levavam seus filhos e, para poderem beber em paz, mandavam os filhos para longe. Como a minha calçada era uma das poucas livres, a criançada se acumulava aqui.
Muitas mães hoje sofrem com filhos mortos em brigas de bar, em acidentes de trânsito. Outras sofrem com filhos drogados. A maioria diz: "Meu Deus, o que foi que eu fiz?".
A resposta é: você deu o exemplo.
Ao colocar o som no volume máximo (mesmo sabendo que isso é errado) e sentar para beber sua cerveja, você está dizendo para seu filho: "vale tudo para ter prazer, mesmo que isso prejudique outras pessoas". O seu filho irá se lembrar disso quando estiver roubando para comprar drogas.
Mãe não é a pessoa que coloca a criança no mundo. Mãe aquela que educa e se preocupa com seu filho, com o futuro dele... e dá exemplo.
Em Macapá a data foi comemorada com muita bebedeira, som alto, muita cachaça e 21 acidentes de trânsito (dois com mortes), sem falar nas brigas de bêbados. Foi um dos dias mais violentos do ano.
Na minha rua, tivemos três festas dos dias das mães. Nas três, muita cachaça e som alto. As mães levavam seus filhos e, para poderem beber em paz, mandavam os filhos para longe. Como a minha calçada era uma das poucas livres, a criançada se acumulava aqui.
Muitas mães hoje sofrem com filhos mortos em brigas de bar, em acidentes de trânsito. Outras sofrem com filhos drogados. A maioria diz: "Meu Deus, o que foi que eu fiz?".
A resposta é: você deu o exemplo.
Ao colocar o som no volume máximo (mesmo sabendo que isso é errado) e sentar para beber sua cerveja, você está dizendo para seu filho: "vale tudo para ter prazer, mesmo que isso prejudique outras pessoas". O seu filho irá se lembrar disso quando estiver roubando para comprar drogas.
Mãe não é a pessoa que coloca a criança no mundo. Mãe aquela que educa e se preocupa com seu filho, com o futuro dele... e dá exemplo.
domingo, maio 13, 2012
Veja acusa senhora de 59 anos de ser um robô
A revista Veja perdeu complemente qualquer compromisso com o jornalismo sério. Depois de ser o principal assunto no Twitter ontem, ela publicou uma matéria, inclusive com infográficos "provando" que o perfil @lucy_in_sky_ era na verdade um robô programado pelo Governo Federal para disparar mensagens contra a revista. Acontece que a mulher é real. Uma entrevista com ela pode ser lida aqui.
Um princípio básico do jornalismo é que ele é feito de fatos. O jornalista não pode "inventar uma informação". Parece que a revista Veja esqueceu isso completamente.
Um princípio básico do jornalismo é que ele é feito de fatos. O jornalista não pode "inventar uma informação". Parece que a revista Veja esqueceu isso completamente.
Ebook O pequeno caçador
O escritor Ademir Pascale está disponibilizando, gratuitamente, o livro O pequeno caçador.
Para baixar em PDF:
http://www.divulgalivros.org/o_pequeno_cacador_ademir_pascale.pdf
Para baixar em formato Epub:
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