Uma das expressões mais recorrentes no vocabulário de quem
tenta falar difícil é paradigma. No entanto, são poucas as pessoas
que conhecem o real significado dessa palavra.
O termo paradigma, no sentido definido pelo filósofo T.S.
Kuhn, está intimamente relacionado à ciência e às revoluções
científicas. Ele representa um guia, para análise e interpretação da natureza. Ou,
como
costumo dizer, o paradigma é um óculo que ajuda o cientista
a ver e compreender a natureza.
Vamos a um exemplo. Durante uma aula de ciências, o
professor solta uma pedra e ela cai ao chão. O mestre, em seguida, explica
aos alunos que a pedra despencou em decorrência da força da gravidade,
que a puxou para baixo.
A explicação á baseada no paradigma newtoniano, segundo o
qual matéria atrai matéria. Quanto maior o objeto, mais atração
ele exerce. Como nosso planeta é muito maior que a pedra, ele a atrai, e
não o
contrário.
Assim, o paradigma estabelecido por Newton nos ajuda a
observar e entender o fenômeno da pedra caindo.
A explicação pode parecer óbvia, mas não é. O paradigma
aristotélico, anterior ao de Newton, tinha uma maneira diferente de
compreender o fenômeno. Para Aristóteles, a tendência das coisas é voltar
ao seu
estado natural. O estado natural das coisas pesadas são os
locais baixos, assim como o estado natural das coisas leves são os
locais altos. Assim, uma pedra cai pelo mesmo motivo pelo qual um
balão
sobe: ela está voltando ao seu estado natural.
Digamos, no entanto, que, ao invés de cair, a pedra fique
flutuando no ar. Professores e alunos certamente ficariam estarrecidos.
Por quê? Porque a natureza estaria contrariando o paradigma. A pedra
voadora
seria uma anomalia, um fenômeno que não se encaixa na
expectativa que temos com relação à natureza.
(Detalhe: uma criança de dois anos não acharia nada de
anormal no episódio, pois ela ainda não aprendeu o paradigma segundo o
qual as coisas caem quando soltas)
A maioria dos cientistas tende a ignorar as anomalias. “Ei,
crianças! Isso é apenas uma alucinação. Essa pedra não está flutuando”,
diria o professor.
Mas alguns pesquisadores, jovens e aventureiros, decidem
pesquisar a anomalia e descobrem que, para explicá-la, é necessário
mudar maneira como vemos o mundo. São as chamadas revoluções científicas.
A história é repleta de revoluções científicas: o
heliocentrismo de Galileu; a teoria da evolução, de Darwin; a teoria da
relatividade, de Einstein e, mas recentemente, a teoria do caos.
Ao contrário do que se poderia pensar, ou do que nos fazem
crer os livros de história, os cientistas revolucionários
dificilmente são aclamados pela sociedade de seu tempo. Galileu quase morreu na
fogueira.
Darwin sofreu todo tipo de crítica. A teoria do caos chegou
a ser acusada de charlatanismo.
A principal contribuição da noção das revoluções científicas
parece ter sido acabar com o mito da ciência acumulativa, vista como um
muro no qual cada cientistas ia acrescentando seu tijolinho. Durante
as revoluções científicas, gerações de novos pesquisadores entram em
conflito com os cientistas normais. E o que definirá se um paradigma
irá sobreviver não é a sua cientificidade, e sim sua capacidade de
explicar o mundo. E, bem, há uma outra razão: a comunicação. Triufam
aqueles paradigmas cujos adeptos divulgam seu ponto de vista.
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