O
conceito de redundância é absolutamente oposto ao de informação.
Enquanto
a informação significa variedade, novidade, a redundância significa falta de
variedade ou simplesmente repetição.
Geralmente
os indivíduos que chamamos de chatos são na verdade tremendos redundantes. É o
caso, por exemplo, das pessoas que contam a mesma história diversas vezes.
Indivíduos
previsíveis também são redundantes.
Durante
algum tempo, acreditou-se que utilizar a retórica era criar um discurso
aparentemente bonito, mas inócuo. Esse tipo de comportamento foi satirizado
através do personagem Rolando Lero, do humorístico Escolinha do Professor
Raimundo.
Se
quisermos tirar uma informação de Rolando Lero, teremos de agüentar meia-hora
de um discurso totalmente redundante.
Veja
um exemplo de um discurso redundante ao extremo:
Prezado e maravilhoso chefe, eu que conheço sua augusta figura há muitos
anos, desde que entrei neste departamento, venho, neste momento difícil,
através desta maneira informal representada pela fala, solicitar à Vossa
Senhoria o prazer inestimável de comparecer ao mictório deste departamento com
a máxima urgência, desde que isso seja possível e não vá contra nenhum
regulamento de nossa gloriosa instituição na qual trabalho há muitos anos,
desde que passei no concurso público, no ano de 1967 e do qual me lembro muito
bem, pois não há coisa que passe em nossa vida sem que nos marque profundamente
e é por isso que sou muito grato a todos que me ajudaram até aqui e
principalmente todos os meus amigos e meus familiares, pois sem a ajuda da
família e dos amigos, nós nada conseguimos, especialmente as coisas
importantes, que realmente importam para todos nós e são coisas que acontecem
todos os dias, todos os anos, que são anos porque juntam doze meses e,
portanto, não são séculos e é por isso que termino aqui minha concisa, clara e
objetiva solicitação, certo do pronto atendimento da mesma.
No
final, a informação é apenas: Preciso ir ao banheiro. Todo o resto é
redundância (aliás, o excesso de redundância aqui, permite interpretação dúbia:
alguns podem ler o texto como um pedido ao chefe para que ele vá ao
banheiro).
O
exemplo mostra que a redundância sobrecarrega a mensagem. O que poderia ser
dito com 22 caracteres, foi dito com 1001. Ou seja, 979 caracteres (incluindo
espaços) eram totalmente desnecessários à transmissão da mensagem.
O
exemplo pode dar a entender que as melhores mensagens são aquela totalmente
informativas. Isso não é verdade.
Há
dois casos de não-comunicação: quando a mensagem é totalmente redundante e
quando ela é totalmente informativa.
Uma
mensagem redundante ao extremo é normalmente ignorada pelo receptor. Quando
perguntado o que achava de certo livro recém-lançado, Osvald de Andrade
respondeu apenas: Não li e não gostei”. Ou seja, o autor era tão previsível que
Osvald não precisava nem mesmo ler o livro para saber que não gostaria.
A
mente humana gosta de informação.
Neurologistas
da Emory University Health Sciences Center, nos EUA, pingaram gostas de suco de
frutas ou de água em voluntários monitorados por ressonância magnética. Quando
a bebida era trocada, a atividade dos neurônios aumentava. A resposta chegava a
ser mais forte que aquelas provocadas por sensação de prazer. (revista Saúde,
abril de 2001)
Os
pesquisadores chegaram à conclusão de que a mente humana é atraída pelo
inusitado, pelo diferente.
A
origem da hipnose está nesse repúdio à redundância. O hipnotizador usa um
estímulo tão redundante que a mente simplesmente se recusa a continuar
recebendo a mensagem e simplesmente “desliga”.
Por
outro lado, uma mensagem totalmente informativa acaba se tornando
incompreensível. É o caso, por exemplo, de uma mensagem escrita sem código em
uma língua desconhecida pelo receptor.
A
redundância tem também um papel importantíssimo no processo de comunicação. Ela
é usada para combater ruídos que possam obstruir o canal.
Essa
é a razão pela qual, por exemplo, nós batemos várias vezes na porta de uma casa
quando queremos ser atendidos pelos moradores.
Bater
uma única vez já transmitiria a mensagem, mas nós a reforçamos a fim de
garantir que o receptor irá recebê-la.
Quanto
maior a vulnerabilidade a ruídos de um certo canal, maior a redundância
necessária para garantir a integridade da mensagem. Em um ambiente barulhento,
devemos aumentar o tom de voz e repetir partes da mensagem.
Da
mesma forma, quanto mais importante uma mensagem, maior a redundância
aconselhada.
Uma
mãe zelosa cujo filho está doente irá lembrá-lo de tempos em tempos que é
necessário tomar os remédios.
Mesmo
as línguas têm alta taxa de redundância para combater o ruído.
O
núcleo de informação de qualquer palavra está nas consoantes, em especial nas
mais raras, como o R, o X e o Z.
Se
dou ao leitor as três vogais abaixo, dificilmente ele conseguirá descobrir a
palavra da qual as mesmas foram tiradas:
E A E
No
entanto, se eu apresento apenas as consoantes da mesma palavra, a tarefa se
torna muito mais fácil:
M N
S G M
Trata-se,
como o leitor astuto já deve ter percebido, da palavra MENSAGEM.
Abreviaturas
têm como base a retirada de toda a redundância das palavras. É o que podemos
fazer com a palavra MENSAGEM. Eliminando a redundância (inclusive de
consoantes), poderíamos escreve-la da seguinte maneira:
MSG
A
frase MENSAGEM PARA VOCÊ ficaria assim:
MSG
PR VC
Por
que razão, uma vez que as abreviaturas são mais informativas, não as usamos
mais comumente nas comunicações?
Porque
uma mensagem como pouca redundância é vítima certa de ruídos.
Se
houver qualquer erro na mensagem abreviada, a comunicação fica prejudicada,
como acontece no caso abaixo:
MG
PR VC
O
mesmo já não ocorre com a mensagem normal:
MENSAEM
PARA VOCÊ
O
ruído, embora visível, não tornou impossível a compreensão da frase.
A
língua inglesa é menos redundante que a portuguesa e, portanto, mais
prejudicada pelos ruídos, como ocorre no caso abaixo.
Em
inglês, CASAS AMARELAS escreve-se YELLOW HOUSES. Em português, como se vê, há
dois S indicativos do plural e se um for vítima de ruído, ainda assim o
receptor compreenderá que se trata de mais de uma casa. Em inglês a perda de um
único S prejudica toda a mensagem.
Pesquisadores
descobriram que os chineses têm o que chamam de ouvido absoluto, ou seja, sabem
identificar a vibração exata de cada nota musical. Isso significa que o ouvido
deles é menos propenso a ruídos. Assim, a palavra Má pode ter quatro
significados (mãe, paralisado, cavalo ou xingamento), de acordo com a entonação
utilizada. (Superinteressante, ano 13, n 12, dezembro de 1999)
Além
de ser uma ótima fonte de anedotas sobre equívocos de pronúncia, o fato
demonstra que a língua chinesa pode ser mais informativa, pois o ouvido
absoluto dos chineses tema maior proteção contra ruídos.
Portanto,
embora a redundância sobrecarregue a mensagem, ela também é necessária para
evitar prejuízos.
A
decisão sobre a quantidade de redundância da comunicação deve ser balizada por
vários fatores: a taxa de ruído do canal, o repertório do receptor e a
importância da mensagem.
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