Na
década de 1960, o sucesso do terror nacional fez com que as editoras
incentivassem seus colaboradores a investirem em novos gêneros. Desses, um dos
de que tiveram mais sucesso foram os super-heróis. O estudioso Worney Almeida
de Souza lista 34 super-heróis brasileiros surgidos antes dos anos 1970, sem
contar os super-vilões e heróis não-mascarados.
Nosso
primeiro grande super-herói foi o Capitão 7, no início dos anos 1960, baseado
num seriado homônimo exibido pela TV Record, de autoria de Ayres Campos. O
Capitão 7 é um menino do interior de São Paulo levado a um planeta distante, de
onde volta com super-força, super-inteligência, capacidade de voar e um
uniforme atômico. O personagem, cujo visual foi criado por Jayme Cortez, foi
desenhado por Júlio Shimamoto, Juarez Odilon, Sérgio Lima e Getúlio Delfim e
fez muito sucesso, durando muitos números, até por estar ancorado em uma atração
televisiva. Chegou a existir até mesmo fantasias do personagem para a época de
carnaval.
O
sucesso do capitão 7 fez com que a Estrela, maior fábrica de brinquedos da
época, encomendasse a criação do capitão estrela, em uma revista lançada pela
continental (a mesma do concorrente), que acabou não fazendo sucesso.
O
caminho aberto pelo capitão 7 foi explorado por outros artistas, que se
aproveitaram do fato de muitos heróis ainda não serem conhecidos no Brasil. Exemplo
disso é o Raio Negro, criado por Gedeone Malagola para a editora GEP. Gedeone
tinha apresentado o Homem-lua (que depois seria aproveitado), mas como ele não
parecia tão super-herói, os editores pediram que ele desse uma olhada no novo
Lanterna Verde. Misturando os poderes do Lanterna com o uniforme do Ciclope dos
X-men, surgiu o Raio Negro, um dos personagens de maior sucesso da época.
Um
dos heróis mais interessantes surgidos no período foi o Golden Guitar, um herói
criado para aproveitar o sucesso da jovem guarda. Os donos da editora Graúna
queriam licenciar os personagens da série Archie para tentar captar o interesse
do público jovem. Como não conseguiram, encomendaram para Macedo A. Torres um
herói juvenil inspirado no movimento musical Jovem guarda. O resultado foi um
herói psicodélico, que usava como arma uma guitarra, através da qual disparava
dardos tranqüilizantes e outras maluquices. Além dos quadrinhos, o gibi trazia
letras das músicas de Roberto Carlos, Erasmo e Wanderléa. Essa é atualmente uma
das revistas mais raras do período e também uma das mais procuradas pelos fãs.
A
estréia dos chamados heróis Shell (os personagens da Marvel foram lançados no
Brasil numa campanha dessa rede de postos de gasolina) criou um grande
interesse pelo gênero e fez com que surgissem vários gibis nacionais. Eugenio
Colonnese criou Mylar, o homem mistério, para a editora Taika.
Outro
herói de sucesso foi O Escorpião. Tratava-se de uma cópia descarada do
fantasma, feita por Wilson Fernandes a pedido da editora Taika, em 1966. Como a
revista começou a vender muito (os dois primeiros números esgotaram a tiragem
de 50 mil exemplares), a editora ficou com medo da King features Syndicate, e
pediu ao desenhista Rodolfo Zalla e ao roteirista Francisco de Assis que
reformulassem o personagem. Assim, o escorpião tornou-se um defensor das selvas
amazônicas e continuou sua carreira de sucesso.
Mas
nenhum herói do período fez tanto sucesso quanto o Judoka, lançado pela Ebal
com roteiros de Pedro Anísio e desenho de vários artistas. O personagem usava
um collant com um quimono verde e branco, além de uma máscara. Seu mestre no
judô era o sábio Minamoto. Além disso, ele contava com a ajuda de sua namorada
Lúcia. A revista pegava a onda ufanista do período militar e exaltava as belezas
do Brasil. Para isso, o personagem percorria diferentes pontos do país.
Os
heróis brasileiros não resistiram aos anos 1970. uma das razões disso era a
censura prévia. As revistas tinham de ser enviadas a Brasília, sendo analisadas
por censores, que muitas vezes cortavam cenas, páginas, ou mandavam reformular
histórias inteiras. Era mais fácil para as editoras importar quadrinhos
americanos, até porque esses não costumavam despertar a atenção dos censores.
Além disso, o endurecimento da ditadura e crise econômica foram acabando com o
sentimento patriótico e ufanista dos leitores. A moda passou a ser achar bom o
que vinha de fora, especialmente dos EUA. Com isso os super-heróis foram
desaparecendo. Pior: começou a se achar que esse era um gênero que não podia
ser trabalhado por brasileiros, pois tinha pouco a ver com a realidade
nacional. De um lado os quadrinhos nacionais de super-heróis eram perseguidos
pelos censores da ditadura. Por outro lado, eram perseguidos pelos intelectuais
de esquerda, que achavam que eles eram colonialismo imperial norte-americano.
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