quarta-feira, junho 28, 2017

O uivo da górgona - parte 79

79
Depois de observarem durante algum tempo a multidão de zumbis em caos, o grupo de homens se separou. Alan e Tiozinho ficaram junto à escada, enquanto Jonas e Edgar saíram em busca de outro tipo de armas, já que as facas que haviam usado anteriormente haviam se revelado um fiasco. Os dois entraram em uma loja de esportes, onde Jonas achou canos de alteres que, embora pesados, pareciam perfeitos para missão. Estava procurando arcos e flechas (Edgar os vira em uma visita ao shopping e acreditava que estivessem no depósito) quando ouviram o grito de Alan e saíram correndo.
Quando se aproximaram da escada, ouviram o barulho lá embaixo. Alan recebeu-os, lívido:
- Um deles está tirando os obstáculos!
De fato, um rapaz se debatia ensandecido, mas, em um gesto de inteligência, retirava as cadeiras e outros objetos colocados ali, subindo degrau a degrau, lenta mas inevitavelmente.
O rapaz enlouquecido vinha subindo, agitando as mãos e pernas e retirando os obstáculos. Atrás dele, um grupo se acumulava, aproveitando a escada desimpedida para subir.
Jonas, Edgar e Alan pareciam petrificados pelo espanto. Até aquele momento nenhum dos zumbis havia revelado habilidades motoras. Aparentemente não sabiam abrir fechaduras ou qualquer atividade mais complexa. Eram apenas fúria descontrolada, mas aquele rapaz, para além de sua fúria, parecia, de alguma forma, inteligente.
Faltavam poucos metros para o topo da escada quando o mendigo pulou os poucos obstáculos que sobraram e investiu contra o zumbi. Seu bastão de madeira tosca acertou-lhe a cabeça em cheio, quebrando alguns dentes.
O rapaz cuspiu os dentes e avançou, seus olhos repletos de raiva irracional, na direção do mendigo. Este respondeu com outro golpe, dessa vez mortal.
O zumbi caiu para trás, tombando sobre outros, que subiam a escada. Irracionais, passaram alguns momentos sem saber o que fazer, tempo o bastante para que o mendigo investisse contra eles com poderosos golpes de bastão. Quando finalmente despertaram do torpor inicial, jogaram o morto das escadas e avançaram, apenas para serem igualmente golpeados. Lá em cima, no segundo andar, ouviu-se palmas. Era Dani, que aplaudia e gritava:
- Vai, tiozinho, vai!
O mendigo evidentemente não ouvia, mas agia como se estivesse ouvindo. Seu bastão girava de um lado a outro e, no espaço apertado da escada rolante, provocava grande estrago. A madeira ia acertando indiscriminadamente olhos, dentes, narizes, até racharem crânios. Os mortos eram jogados para fora da escada e substituídos por outros, que não tinham chance de se aproximar.

A essa altura, até mesmo os homens davam urras. Eles haviam se aproximado do mendigo, mas o espaço era pequeno demais e os golpes de Tiozinho não permitiam que houvesse alguém ao seu lado. Assim, só observavam, torcendo. 

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