Ivo Milazzo e Giancarlo Berardi
conquistaram uma fiel legião de fãs brasileiros com o personagem Ken Parker.
Lançado aqui no início dos anos 80 pela editora Vecchi, Parker se destacava por
ser um herói humano em uma época em que todos os caubóis dos quadrinhos eram
estereotipados. O personagem foi publicado por várias outras editoras,
inclusive a Mythos, que fechou a série recentemente, publicado a última
aventura do chamado "Rifle Comprido". Agora a dupla de autores está
de volta com Tom's Bar, editado pela Opera Graphica.
Em Tom's Bar o ambiente é a Chicago dos
anos 40. O personagem principal é o Tom do título, um homem já idoso, que
guarda segredos sobre seu passado.
O álbum reúne quatro histórias
envolvendo Tom e o Bar. Parece monótono, mas não é. Berardi quer nos mostrar
que por trás de um homem e um ambiente simples, sem glamour, há grandes
histórias.
O primeiro conto, "Quase
Sempre" é uma introdução e uma declaração de princípios. Um jornalista
visita o bar e reclama de que já não há mais fatos interessantes para os
jornais: "Devia aparecer outro Al Capone para aumentar a tiragem".
Tom concorda: "É, bons tempos aqueles!".
Enquanto o jornalista toma um drinque,
Tom sem que o último veja, se resolve com um gangster que veio cobrar proteção.
Ou seja: os fatos interessantes, assim
como as pessoas interessantes, estão debaixo de nossos narizes. Basta ter olhos
para ver.
Tom não é um herói bidimensional. Tem
coração, mas também tem contradições. Ao mesmo tempo em que vende armas, evita
que um garoto se envolva no mundo do crime.
Ler Tom's Bar é como ver um fractal
(figura geométrica que representa fenômenos caóticos): à medida em que nos
aprofundamos nos personagens, eles nos revelam novas complexidades.
Além do texto de Berardi, vale destacar
a arte de Milazzo. Toda realizada, em aguada, a história é um colírio para os
olhos cansados de ver histórias pintadas em computador.
A aguada é feita de nanquim misturado
com água. Dá um efeito semelhante ao da aquarela, mas em preto e branco. É uma
arte perdida. Com a popularização da impressão em cores e a difusão dos
computadores, poucos artistas da atualidade sequer sabem o que é uma aguada.
Milazzo sabe, e muito bem.
A técnica usada nos desenhos não é
gratuita. A aguada dá à história um toque nostálgico de filme noir dos anos 40.
Além disso, as angulações usadas por Milazzo também são muito cinematográficas.
Tom's Bar é um álbum indispensável para
que gosta de quadrinhos, mas já está cansado de heróis com cuecas do lado de
fora das calças.
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