Trechos de um
texto de Isaac Assimov sobre o ensino criacionismo nas escolas e publicado no
jornal The New York Times:
Se o governo
pode mobilizar sua polícia e suas prisões para assegurar que os professores
dêem tempo
igual ao criacionismo, eles podem em seguida usar a força para assegurar que os
professores declarem o criacionismo como vitorioso, de forma que a evolução
seja banida das salas de aula. Teremos estabelecido uma base, em outras
palavras, para a ignorância legalmente estabelecida e para o controle de
pensamento totalitário. E o que acontece se os criacionistas vencerem? Eles
poderiam vencer, você sabe, pois há milhões que se tiverem que escolher entre a
ciência e sua interpretação da Bíblia, escolherão a Bíblia e rejeitarão a
ciência, apesar dos indícios.
Isso não ocorre
somente devido à reverência tradicional e irracional das palavras literais da
Bíblia; existe
também um desconforto – mesmo medo – da ciência que joga mesmo aqueles que se importam
pouco com o fundamentalisimo nos braços dos criacionistas. Por um motivo: a
ciência é incerta. As teorias estão sujeitas a revisão, as observações estão
abertas a uma variedade deinterpretações, e os cientistas discutem entre si.
Isso é decepcionante para aqueles não treinados no método científico, que
assim, preferem se voltar para a rígida certeza da Bíblia. Existe algo de confortável
sobre uma visão que não admite desvio e que poupa a pessoa da dolorosa
necessidade de ter de pensar.
Em segundo
lugar, a ciência é complexa e desafiante. A linguagem matemática da ciência é
compreendida
por muito poucos. Os cenários que ela apresentam são assustadores – um universo
enorme regido pelo acaso e por regras impessoais, vazio e indiferente,
indomável e vertiginoso.
Quão
confortável, por outro lado, é um mundo pequeno, com uns poucos milhares de
anos, sob o cuidado pessoal e imediato de Deus; um mundo em que você conta com
Seu cuidado pessoal e ondeEle não te condenará ao inferno se você for cuidadoso
e seguir cada palavra da Bíblia da forma que o pastor da televisão interpretar
para você.
Terceiro, a
ciência é perigosa. Não há dúvida de que gás venenoso, engenharia genética,
armas nucleares
e usinas de força são aterrorizantes. Pode ser que a civilização esteja se
destruindo e que o mundo que conhecemos esteja chegaodo ao fim. Nesse caso, por
que não se voltar para a religião e esperar pelo Dia do Julgamento, quando você
e os seus companheiros crentes serão elevados ao eterno êxtase e terão ainda a
alegria de ver os gozadores e descrentes se contorcerem em tormento para sempre?
Então por que
eles não poderiam vencer?
Há varios casos
de sociedades em que os exércitos da noite têm cavalgado triunfantes sobre
as minorias a
fim de estavelecer uma ortodoxia poderosa que dita o pensamento oficial.
Invariavelmente,
a cavalgada triunfante vai na direção de um desastre de longo alcance. A
Espanha dominou a Europa e o mundo no século 16, mas na Espanha a ortodoxia
vinha primeiro, e toda divergência de opinião era suprimida implacavelmente. O
resultado foi que a Espanha ficou na obscuridade e não compartilhou do fermento
científico, tecnológico e comercial que borbulhava em outras nações da Europa
Ocidental. A Espanha permaneceu numa estagnação intelectual por séculos.
No final do
século 17, a Franca, em nome da ortodoxia, revogou o Edito de Nantes e expulsou
muitos milhares de huguenotes, que adicionaram seu vigor intelectual a terras
de refúgio como a Grã-Bretanha, a Holanda e a Prússia, enquantoa Franca foi
enfraquecida permanentemente.
Numa época mais
recente a Alemanha perseguiu os cientistas judeus da Europa. Eles
chegaram aos
Estados Unidos e contribuíram imensamente para o seu avanço científico,
enquanto a Alemanha perdia tão pesadamente que não se pode dizer quanto tempo
vai levar até que elarecupere sua antiga eminência científica.
A União
Soviética, em sua fascinação com Lysenko,destruiu seus geneticistas, e atrasou
as ciências biológicas por décadas.
A China, durante
a
Revolução
Cultural, voltou-se contra a ciência ocidental e ainda luta para superar a
devastação resultante.
Como iremos
agora, com todos esses exemplos diante de nós, cavalgar de volta ao passado
sob a mesma
bandeira esfarrapada da ortodoxia? Com o criacionismo a tiracolo, a ciência
americana
definhará. Criaremos uma geração de ignorantes mal-equipados para dirigir a
indústria de amanha, e muito menos para gerar os novos avanços dos dias de
depois de amanhã.
Vamos
inevitavelmente retroceder à retaguarda da civilização e aquelas nações que
mantiverem
aberto o pensamento científico tomarão a liderança do mundo e da fronteira do
progresso
humano.
Não creio que
os criacionistas planejem realmente o declínio dos Estados
Unidos, mas o
seu patriotismo expresso em altas vozes é tão ingênuo quanto sua “ciência”. Se
eles tiverem sucesso, eles irão, em sua loucura, obter o oposto do que dizem
desejar.
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