Em 1985, quando a Marvel lançou uma minissérie do personagem Longshot, o que chamou atenção não foi tanto o personagem, mas estilo detalhista de seu desenhista, Arthur Adams. Embora não tivesse pique para uma série mensal, Adams acabou deixando sua marca nos quadrinhos, influenciando toda uma nova geração. Seu arte-finalista era Whilce Portacio, que fora colocado na série exatamente para aprender com Adams. Acabada a mini, Portacio foi colocado no título Tropa Alfa, com desenhos do sul-coreano Jim Lee. Os dois se tornaram amigos e definiram um estilo que marcaria os anos 1990.
Enquanto isso, um ex-jogador de beisebol, Todd McFarlane,
estava se sentindo insatisfeito com o título do Hulk. Seu editor levou amostras
de sua arte para outros editores da Marvel. Sua anatomia distorcida e fetiche
por detalhes fizeram com ele ganhasse o título do Homem-aranha.
McFarlane, Lee e Portacio tinham um estilo que destoava
completamente do estilo sóbrio e funcional de artistas que haviam feito escola
na editora, como John Byrne e se aproximava mais da linguagem de vídeo-clipes e
a não-linearidade narrativa.
Em 1989 McFarlane decidiu que queria escrever e desenhar seu
próprio título. Achou que o editor lhe daria um título menor, mas se
surpreendeu ao descobrir que seria o responsável por um novo título do
aracnídeo. Ele mesmo dizia que não era roteirista. Do jornal, só lia o caderno
de esportes e nem se lembrava do último livro que tivera em mãos.
Enquanto esperava seu próprio título estrear, McFarlane
resolveu ajudar outro novo talento a arte-finalizar as capas de Novos Mutantes:
Rob Liefield. Liefield era ainda mais trôpego na arte da narrativa. Seus
músculos e artilharia eram absurdos. Cenários de fundo desapareciam e
reapareciam janelas quadradas logo reapareciam redondas. Segundo sua editora
Louise Simonson, ele simplesmente não ligava para o roteiro, fazendo desenhos
de gente cool pousando de uniforme para depois vender as páginas por uma boa
grana. Ainda assim, as vendas subiam.
Para o lançamento do Homem-aranha, os executivos adotaram
uma estratégia que seria a melhor representação da era que se iniciava: colocar
a revista dentro de um saquinho plástico. O saco destacava a revista no ponto
de venda e fazia com os colecionadores comprassem duas edições, uma para
guardar fechada e outra para abrir e ler. Também havia duas capas, uma com
tinta normal e outra com tinta prateada, o que levava os colecionadores a
comprarem a mesma revista três vezes. Como resultado, a revista vendeu mais de
um milhão de exemplares.
Novos artistas escrevendo e desenhando em um estilo pouco
narrativo, mas chamativo, capas alternativas e saquinhos pareciam ser a nova
moda. Logo viria X-men 1, de Portacio e Lee. A revista tinha diálogos de Chris
Claremont e depois de John Byrne (ambos não aguentaram ter de colocar textos em
páginas que iam chegando aos poucos e pareciam não fazer sentindo). Vendeu mais
que o Homem-aranha de McFarlane. A revista teve cinco capas variantes, fazendo
com que os colecionadores comprassem seis vezes a mesma revista – uma para
tirar do saco e ler e cinco para guardar na coleção.
Nesse mesmo período a DC decidiu, numa jogada de marketing,
matar o Super-homem, o que gerou muitas matérias em jornais e revistas. E as
matérias sempre traziam informações sobre pessoas que haviam comprado a Action
Comics número 1 por centavos e que agora essas revistas valiam o suficiente
para serem trocadas por uma mansão. Então aquele motorista de caminhão que
nunca havia lido quadrinhos achou que tinha achado sua mina de ouro: bastava
comprar uma daquelas revistas número 1 (talvez X-men de Lee e Portacio ou o
Homem-aranha de McFarlane) e guardá-la, esperando que valorizasse o suficiente
para garantir a faculdade dos filhos.
Agora já não eram mais só os fãs que compravam. Pessoas que
nunca haviam lido quadrinhos compravam caixas de gibis e guardavam. Se o gibi
tinha cinco capas variantes, compravam cinco caixas de gibis e guardavam,
esperando valorizar. As vendas batiam a casa dos milhões, um número muito
superior ao número real de fãs de quadrinhos nos EUA.
Claro, esse era um sistema que tinha tudo para implodir.
Logo ia chegar um ponto em que todos (lojistas, especuladores e fãs de
quadrinhos) iriam perceber que aquelas revistas nunca se valorizariam tanto –
principalmente por um fator simples de economia: se algo existe em grande
quantidade, não tem valor (Um ótimo exemplo disso é a edição nacional da morte
do super-homem, que hoje pode ser facilmente encontrada em qualquer sebo por
preços que variam de 3 a 5 reais, um valor inferior ao que seria o preço de
banca se a revista fosse lançada hoje).
Mas antes que a bolha explodisse, a indústria de quadrinhos
viu nascer a era Image.
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